13/08/2013
Quando os homens exercem seus podres poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede como sendo gestos naturais. Fica a sobra, o fio da dignidade, a injustiça, o sub humano.
Criamos um Sistema em que o homem, o ser humano, pouco ou nada importa; o que conta são os interesses, o dinheiro, o privilégio, a vantagem do melhor rendimento, a meta.
Um sistema podre, onde os homens, exercendo qualquer forma de poder, impõe ao cidadão toda sorte de humilhação, desesperança, revolta ou resignação.
Vou contar a história de Roberto Maciel Junior.
Cidadão brasileiro, 51 anos, alto, porte atlético, trabalhador, contribuinte.
Numa noite, de agosto de 2006 subindo uma rua tranquila próxima a sua casa, com uma moto Cargo 125c/c, é violentamente atropelado por um carro em alta velocidade que se perdeu na curva. O motorista: um jovem de 18 anos cuja carteira ainda era provisória. Roberto foi socorrido pelo SAMU. O motorista, que nada sofreu, nunca mais se viu.
Sabe-se que o carro era do pai, que também nunca se apresentou para saber o estado de saúde de Roberto ou prestar qualquer tipo de auxilio.
O processo criminal? Parado na 40º delegacia de policia. Acredito que o pai se preocupou muito com o seu filho.
Roberto, canhoto, teve sua perna esquerda decepada na hora e seu braço esquerdo sofreu várias fraturas, sendo a mais grave uma fratura exposta no cotovelo. Sem contar as 3 paradas cardíacas e os 87 dias de internação no HOSPITAL GERAL DE VILA PENTEADO (DR. JOSÉ PANGELLA SÃO PAULO).
Roberto Maciel Jr, que era músico por hobby, quando recobra os sentidos e se dá conta da perda da perna e o grave estado do braço, pergunta ao médico:
- Vou poder tocar violão?
- Somente por milagre.
O braço, com os ossos moídos, corria risco de amputação.
Roberto volta para casa e começa sua a luta pela recuperação do braço. Foram 2 anos de tensão e 5 cirurgias. A placa de sustentação do cotovelo precisou se removida por rejeição, fragilizando totalmente o braço e dificultando ainda mais a adaptação de quem já não tinha uma perna.
Hoje, agosto de 2013, o risco de perder do braço é remota. Roberto Maciel Jr. mora em um quarto adaptado, onde custeia suas necessidades de alimentação moradia. Quando sai de casa, de táxi ou carona, caminha com o auxilio de muletas. Em casa se locomove com cadeira de rodas. Todo cuidado é pouco: seu braço sempre será frágil e com movimento limitado. Sem falar das dores.
Sim. Por milagre, consegue tocar seu violão.
O Estado “concedeu” a Roberto um auxilio doença aproximado de R$1.200,00, uma prótese, que não o ensinaram a utilizar, varias perícias e muitas horas de esperas nos postos do INSS. Que não quer aposenta-lo por invalidez e insiste em recoloca-lo no mercado de trabalho. Como? O encaminharam para um curso de reabilitação, de segunda a sexta-feira durante 3 meses, para “prepara-lo” para atender a cota de alguma empresa.
Nas entrevistas, ao avaliarem as limitações do braço e as dificuldade de locomoção, o reprovaram. Roberto era moto boy, antes da tragédia.
Hoje, 21/08/2013, Dr. João Américo Raspa, Perito do INSS matricula n º 1.641.123 (agência Sta Marina. Av. Santa Marina, 1.217) zona Oeste da Capital Paulista, sem pedir um exame para avaliar a condição do seu braço, sem lhe fazer uma pergunta sobre sua condição de ser/estar/sobreviver, sem ao menos levantar o rosto e olhar para Roberto, exercendo todo poder que lhe é concedido, decreta a suspensão do auxilio doença sob uma alegação mentirosa: “Recusa ao Programa de Reabilitação”. Não houve recusa. Não houve falta às entrevistas. Não houve, sequer, um auxilio para custear as despesas com transporte particular, uma vez que não há a menor possibilidade de usar o público.
A pergunta que fica: E agora? Como vai sobreviver até o desenrolar dos fatos?
Dependendo da boa vontade de alguém? De favores? De esmolas no farol?
O Dr. João Américo Raspa certamente vai dormir em paz: assinou os papéis e cumpriu as exigências do empregador. Independente de erro ou acerto, seus rendimentos estão garantidos. O podre sistema, recheado de funcionários intocáveis pelas leis que regem suas contratações, por vezes onipotentes despreparados, sem compromisso com o que é justo, sem compromisso com a eficiência e por vezes, (muitas, eu diria) vêm submetendo o cidadão a situações humilhantes, deixando-os a mercê da interpretação, má vontade, mau humor e despreparo de quem os atende.
Sabemos, por convivência ou por denuncia, que inúmeros benefícios são concedidos a quem não precisa, conquistado de maneira escusa e desonesta, por convincentes cenas teatrais do segurado. Ou por corrupção mesmo.
É claro que existem os profissionais sérios que cumprem seu dever e honram sua profissão.
Mas tal qual roleta russa, neste sistema estabelecido, há que se contar com a sorte.
Estou falando do podre sistema, que privilegia os amigos do rei.
Esse, no qual vivemos e que faria Calígula se roer de inveja.
Marilsa Prescinoti
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