Indicadores do Rio Como Vamos mostram as desigualdades da cidade
27/01/2010
O Globo
RIO - As desigualdades da cidade estão retratadas na nova edição do Sistema de Indicadores do Rio Como Vamos (RCV), que apresenta um conjunto de 90 índices para as áreas de saúde, educação, violência, meio ambiente, cultura, trânsito e trabalho e renda. O levantamento, lançado nesta terça-feira, acompanha a evolução da qualidade de vida e da garantia de direitos da população. E, ao relacionar os dados de cada uma das 33 regiões administrativas (RAs), mostra as áreas que registraram melhoras e aquelas em que houve piora, apontando os locais que precisam com maior urgência de ações e políticas públicas. A nova edição - disponível no site www.riocomovamos.org.br - traz a série histórica dos indicadores, a partir dos anos tratados na primeira versão do trabalho, lançada em 2008.
A mortalidade infantil é um exemplo da desigualdade que ocorre no Rio. Em 2008, como mostra o Sistema de Indicadores do RCV, a taxa para a cidade foi de 13,64 mortes para cada mil crianças nascidas vivas, o que revela uma estabilidade em relação ao ano anterior (13,33/1.000). Mas houve piora em 15 regiões : Anchieta, Bangu, Botafogo, Copacabana, Guaratiba, Inhaúma, Jacarepaguá, Madureira, Maré, Pavuna, Penha, Rio Comprido, Rocinha, São Cristóvão e Vigário Geral.
Cidade de Deus apresenta indicadores de saúde ruins
No Plano Estratégico da cidade, segundo o RCV, a prefeitura anuncia a redução da mortalidade infantil para 12,2/1.000 até 2012. Para a presidente executiva do Rio Como Vamos, Rosiska Darcy de Oliveira, o Rio hoje representa o céu e o inferno:
- Certas regiões administrativas têm padrões europeus, outras parecem a África. O Sistema de Indicadores aposta que um governo eficiente se planeja com dados confiáveis. Conhecer as fragilidades da cidade permite exigir uma ação contundente do governo.
O sistema mostra que a Cidade de Deus, na Zona Oeste, tem um dos cinco piores resultados em dez dos 18 indicadores de saúde relacionados: mães adolescentes; curetagem pós-aborto; pré-natal insuficiente; baixo peso ao nascer; mortalidades infantil, neonatal tardia (recém-nascidos de 7 a 28 dias), pós-neonatal (bebês de 29 dias a 1 ano) e juvenil masculina; internação por problemas circulatórios e de crianças por infecções respiratórias. Na Zona Sul, Botafogo tem uma das cinco melhores taxas para 11 indicadores.
A situação também é precária na área de educação. Um dos casos mais gritantes é o abandono no ensino fundamental na rede pública, que em 2008 teve na cidade uma média de 2,79% em relação ao número de alunos matriculados. Entre as RAs, a que teve o melhor resultado foi a de Santa Teresa: apenas 0,28% de evasão. Jacarezinho, na lanterna, teve taxa de 5,85%, um índice 20,89 vezes maior do que o de Santa Teresa. Cidade de Deus tem o pior de todos os resultados para cinco dos indicadores da área, entre eles distorção idade-série no ensino médio da rede pública (89,34%) e abandono, também no ensino médio público (30,88%).
Na área de segurança, as desigualdades também aparecem, principalmente nos crimes contra a vida, como os violentos fatais (homicídios dolosos, lesões corporais seguidas de morte e latrocínios). Enquanto a média da cidade em 2008 foi de 35,53/100.000 habitantes, o Centro teve o pior resultado: 105/100.000. A taxa é 53,30 vezes maior do que a de Copacabana: 1,97/100.000. Cidade de Deus teve taxa de 21,44/100.000.
Para a demógrafa e pesquisadora da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE Suzana Cavenaghi, a opção do RCV de desagregar os dados de seu Sistema de Indicadores por RA é acertada, devido às dimensões geográfica e populacional da cidade, que tem 1.224 quilômetros quadrados de território e seis milhões de habitantes. Ela considera correto o uso de parâmetros localizados para se fazer comparações dos números entre as RAs e entre as regiões com a média da cidade.
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