20/01/2010
De pernas pro ar
A menina parada num cruzamento, perto de casa, voltando da faculdade com uma amiga, à noite, é abordada por um bandido. Ela acelera o carro, com medo, muito medo. O bandido atira... páfh... “Senti que meu corpo, do peito pra baixo amorteceu na hora”.
O veículo ficou desgovernado, a amiga conseguiu pisar no freio, o bandido fugiu, e Aline Medeiros, 29, que sonhava voar bem alto, ficou paraplégica. “Tive parada cardíaca, respiratória. Foi um ‘furduncio’. Fiquei três meses no hospital, dois de UTI, tive perfuração nos pulmões, quebrei a clavícula, costela, tive lesão na minha vértebra na altura T1. A bala ficou alojada em mim.”
Acho que qualquer pessoal “normal” poderia pensar: “tadinha, acabaram-se os sonhos”. Mas a nossa essência, de “matrixiano”, nos empurra para a frente. Aline se formou em Administração de empresas, trabalha numa companhia de saneamento, e faz sua vida girar, a bola rolar, se dá novas oportunidades, reiventou a vida...
E se lembram daquele sonho de voar bem alto (que aliás é frequente entre cadeirantes, né, não?) que ela TINHA? Realizou faz um bocadinho, saiu de Sumaré (SP), onde mora, e foir saltar de parapente, na pedra da gávea, no Rio...
“Nossa, na hora, minha vontade de saltar era tão grande que misturou várias sensações e sentimentos: medo ansiedade tudo o que se pode imaginar, mas meu desejo de provar que eu conseguiria era maior que tudo”.
Já mostrei algumas pessoas se ‘encontrando com os céus’ aqui no blog, mas adoro postar mais e mais exemplos. Para quem nos vê como símbolo maior de imobilidade, de limitação, talvez, nos ver “voando” faça com que as ideias mudem, os conceitos se reformem, o mundo mude (e a gentte domine tudo, oficorsi! )
“Me colocaram sentada na cadeirinha própria do parapente, me amarraram e o instrutor na sua cadeirinha atrás, e dois caras um em cada lado meu segurando minha perna pra poder dar a corridinha para o equipamento abrir.”
E nessa aventura da Aline estavam primos, sobrinhos, irmãos, amigos e um pessoal bem ‘de boa’ quando os filhos se metem a fazer pequenas loucuras: o pai e a mãe.
“Nem sei te explicar o que eu senti na hora que o parapente abriu. Só ouvi uma gritaria e aplausos, foi super emocionante, pois as pessoas que estavam lá, não esperavam uma ‘malacabada’ saltar da pedra, né... Foi maravilhoso o voo durou uns 15 minutos de pura emoção”
Um dia, quem sabe, eu tomo uns três litros de maracujina, fico zen e salto de um trem desses! “Mas, ôh, tio, o quem que tem a ver o título, pernas pro alto, heim?” Ah, tá, a Aline explica ‘procês’...
“O nosso único medo era na hora do pouso, o que nós faríamos com minhas pernas, sem movimentos, mas nas alturas treinamos um pouco. Como o instrutor estava atrás de mim, com as suas pernas ele empurrou as minhas pra frente, para o alto e eu dei uma ajudinha com as mãos levantando, e o pouso foi um espetáculo. Foi uma aventura maravilhosa, inesquecível.”
Meu povo, estou um pouco relapso nesta semana com o blog. Mas garanto a vocês que estou trabalhando forte nos próprio bastidores para trazer informações e histórias bem inéditas e 'maraviwonderfulls plus' pra 'nóis tudo'!
* Fotos do arquivo pessoal de Aline Medeiros
Escrito por Jairo Marques às 22h09
Jairo Marques, 35 anos cadeirante, possui um blog no Jornal Folha de São Paulo.O qual reproduzo aqui.
http://assimcomovoce.folha.blog.oul.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário