Entrevistas
Controle social e descentralização: desafios para o programa de TB 2011
ENSP, publicada em 11/02/2011Informe ENSP: Quais são os principais desafios em relação à tuberculose para 2011?
Draurio Barreira: O Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) do Ministério da Saúde tem algumas prioridades permanentes, como, por exemplo, a questão da descentralização das ações de controle para a atenção básica, o fortalecimento do movimento e do controle social, o combate à coinfecção TB/HIV e à TB-MDR, entre outras, que são colocadas em nosso planejamento anual, fruto de uma análise da situação atual e dos desafios mais imediatos e urgentes. São desafios constantes.
Informe ENSP: Quais as prioridades que nortearão as ações de controle da doença em 2011?
Draurio Barreira: Nesse sentido, as duas maiores prioridades para o ano de 2011 são a melhoria do sistema de informação - incluído aí o Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan), o cruzamento de diferentes bancos de dados e um sistema de informação para a TB resistente, que envolve a adoção pelo Programa de um sistema para todo o país e inclui a discussão com o próprio Centro de Referência Professor Hélio Fraga (CRPHF/ENSP/Fiocruz) e com o Management Sciences for Health (MSH) sobre o sistema que vem sendo desenvolvido para as formas especiais de tratamento - e a melhoria do diagnóstico por meio da cultura do BK - essa decisão extrapola o PNCT e já foi incorporada pelo Departamento de Vigilância Epidemiológica (Devep) e pela própria Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS). Até criamos um lema, que é "cultura para todos até 2015". A ideia é que todos os casos de TB tenham a cultura realizada para confirmação diagnóstica e a identificação de resistência aos medicamentos, evitando erros de diagnósticos e prevenindo a TB resistente por meio da realização de testes de sensibilidade para todos os casos confirmados.
Informe ENSP: Como está a cobertura do tratamento supervisionado? É satisfatória?
Draurio Barreira: A cobertura do tratamento diretamente observado (TDO) cresceu de forma bastante consistente de 2001 para 2009. Mas sabemos que o registro dessa cobertura é feito em bases muito subjetivas. Por isso, o PNCT e o Comitê Técnico Assessor, com a revisão do Manual de Normas, tornaram a definição de TDO muito mais específica, atrelada à administração de um número mínimo de tomadas supervisionadas, o que nos dará uma ideia mais realista do TDO que temos hoje e daquele que precisamos ter, principalmente em termos de qualidade.
Informe ENSP: Os grupos mais vulneráveis à TB são os indígenas, pessoas vivendo com HIV/Aids, presidiários e moradores de rua. Esse fato não contribui para alimentar o estigma da doença, impedindo que a TB receba da mídia a mesma atenção, por exemplo, que a dengue?
Draurio Barreira: A TB é, indubitavelmente, uma doença de determinação social, não há como negar isso. A epidemia de Aids, de certa forma, "contribuiu" para que a TB afetasse também pessoas de outras origens sociais e níveis socioeconômicos. Isso fez com que a mídia passasse a dar algum espaço à tuberculose. Mas a imensa maioria dos casos da doença é registrada na população mais carente, mais vulnerável e com maior dificuldade de acesso aos bens de consumo, a uma vida digna e aos serviços de saúde. Não só a mídia, mas também a indústria farmacêutica e setores da saúde negligenciam a tuberculose. Isso é esperado num cenário capitalista, "doenças de pobres" não vendem jornais, não geram lucros para a indústria, nem lotam clínicas privadas.
Informe ENSP: Como o senhor vê o papel da mobilização social na redução do número de casos de TB?
Draurio Barreira: Vejo como fundamental! Justamente para vencer as barreiras do estigma e da desinformação e também para cobrar dos gestores públicos medidas mais eficazes e eficientes. Já se observa um grande aumento da mobilização social contra a tuberculose, e a tendência é aumentar ainda mais. Os indicadores internacionais de coinfecção da TB com a Aids não param de crescer. Há aumento de investimentos nessa área, mas ainda são insuficientes. É preciso fortalecer o movimento social para garantir a cobrança de recursos para a tuberculose e a coinfecção TB/HIV e o controle das medidas de combate a essas doenças.
(Foto: World News)
Fonte: *com colaboração do Fundo Global Tuberculose-Brasil
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