ENSP, publicada em 25/02/2010
Equipes do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz) e do Departamento de Medicina da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, uniram esforços para estudar pacientes com HIV nos dois países. Eles avaliaram o risco e as causas de morte entre pacientes que estavam no início da terapia antirretroviral potente (Haart, na sigla em inglês), mais conhecida como coquetel anti-Aids. Ao compararem pacientes do Rio de Janeiro e de Baltimore, os pesquisadores observaram que o risco de morte durante o primeiro ano da terapia foi similar nas duas cidades. No entanto, as causas de morte foram diferentes. Os resultados do estudo ganharam as páginas do periódico Aids, que tem grande prestígio na comunidade científica internacional.
"No Rio de Janeiro, a maioria das mortes estava relacionada a doenças infecciosas, com predominância da tuberculose" , afirma a pesquisadora do Ipec Beatriz Grinsztejn, primeira autora do artigo. "Já em Baltimore, as mortes não estavam relacionadas a doenças oportunistas da Aids, mas encontramos uma alta proporção de usuários de drogas injetáveis, o que afeta diretamente os resultados da terapia antirretroviral e contribui para a progressão de doenças crônicas", explica.
Embora outros estudos já tivessem comparado a mortalidade de pacientes com HIV na fase inicial do tratamento nos países desenvolvimentos e em desenvolvimento, o artigo publicado este ano no periódico Aids é o primeiro que compara diretamente as causas de morte. Como a coleta de dados em Baltimore e no Rio seguiu rigorosamente a mesma metodologia, os resultados obtidos nas duas cidades puderam ser confrontados com total rigor científico.
De acordo com o artigo, o diagnóstico tardio da infecção pelo HIV é um problema tanto nos países em desenvolvimento como nos países desenvolvidos, o que requer intervenções de saúde pública para que o vírus seja detectado mais precocemente nos dois grupos de países. No entanto, as diferenças identificadas pelo estudo no Rio e em Baltimore indicam que Brasil e Estados Unidos necessitam de estratégias diferenciadas para evitar a mortalidade dos pacientes na fase inicial do tratamento.
Participaram da pesquisa 1.774 pacientes, 859 no Rio e 915 em Baltimore. Os indivíduos incluídos no estudo nunca tinham tomado antirretrovirais e começaram a receber o coquetel anti-Aids entre os anos de 1999 e 2007. Eles foram acompanhados durante um ano após o início do tratamento. Ao longo desse período, 79 pacientes faleceram, 34 no Rio (3.7%) e 45 em Baltimore (5,2%). No Rio, os óbitos ocorreram, principalmente, no primeiro trimestre (64,7%), enquanto, em Baltimore, eles foram mais frequentes no segundo semestre (48,9%).
A tuberculose, principal causa de mortalidade entre os pacientes estudados no Rio, foi responsável por três em cada dez óbitos na cidade brasileira, mas esta doença não causou nenhuma morte em Baltimore. "Infecções bacterianas são mais comuns entre pacientes de países em desenvolvimento do que entre aqueles de países desenvolvidos" , lembram os autores no artigo. Na cidade norte-americana, as causas de mortalidade foram significativamente distintas: 17,8% dos óbitos foram por problemas cardiovasculares e 8,9%, devido a abuso de drogas.
"Baltimore, em contraste com o Rio de Janeiro, teve uma alta proporção de usuários de drogas injetáveis. E já foi verificado que a mortalidade entre indivíduos infectados pelo HIV-1 usuários de drogas chega a ser de duas a três vezes maior que a de não usuários de drogas injetáveis", dizem os pesquisadores no artigo do periódico Aids. "O uso de drogas persistente ou reincidente afeta diretamente a adesão à terapia antirretroviral potente e às consultas médicas, contribuindo para a progressão clínica da doença e a mortalidade" , destacam os autores da Fiocruz e da Johns Hopkins, duas instituições renomadas que realizam pesquisas sobre Aids e oferecem assistência a indivíduos infectados pelo HIV.
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