Sexualidade deve ser discutida com adolescentes (Artigo)
11/02/10
Os jovens necessitam de orientação para desfrutar a sexualidade com segurança e de forma saudável. Quanto mais informados, melhor será a vivência dessa sexualidade, sem culpas e com prevenção.
Estudo recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que 22% dos adolescentes iniciam a atividade sexual aos 15 anos de idade. A informação consta na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2009, divulgada em dezembro do ano passado. O mesmo estudo apontou que a iniciação sexual precoce está associada ao não uso ou uso inadequado de preservativos e suas conseqüências, como gravidez precoce e as DST’s.
Segundo a pesquisa, depois da primeira relação sexual, o número de jovens que usam preservativo cai. Passa de 61% para 50% nas relações sexuais com parceiros casuais. Dados da PeNSE 2009 mostram que 30,5% dos estudantes já tiveram relação sexual alguma vez. No Ceará, a porcentagem do sexo masculino foi de 45% frente aos 18% do sexo feminino. Nas escolas públicas de todo o Brasil o número de alunos que já iniciaram a vida sexual é maior do que o número de alunos das escolas particulares, 33,1% contra 20,8%.
A precocidade no início das relações sexuais dos adolescentes levanta a seguinte reflexão: Até que ponto pais e professores estão preparados para discutir questões relativas à sexualidade com os filhos e alunos? Para a psicóloga Renata Gomes, a escola enquanto instituição de ensino e formadora de opinião deve estar atenta, principalmente no que diz respeito à sexualidade. “A escola tem um papel fundamental ao proporcionar ao jovem um espaço para falar, discutir, sobre a sexualidade, tratando essa questão de forma ética e pedagógica, propiciando informações adequadas e orientações pautadas em cada fase do desenvolvimento humano”, afirma.
Em Fortaleza, educação sexual ainda não aparece no currículo escolar. O Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas que é executado pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc) e Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) em parceria com o Ministério da Educação (MEC), o Ministério da Saúde e as prefeituras, aborda alguns temas relacionados à questão como as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), gravidez na adolescência e saúde reprodutiva. Segundo Fátima Lucrecia, técnica em assuntos educacionais da Seduc, a educação sexual não é o alvo do projeto, mas é um assunto que sempre aparece na abordagem dos alunos. O Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas é voltado para alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio e já foi implantado em 120 municípios cearenses.
Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Demócrito Rocha, no ano de 2009, o tema foi abordado através de um projeto transversal ao ensino. Segundo Isabel Andrade, professora da escola, seminários, rodas de conversa e reuniões foram realizadas com os alunos, professores e pais. “O tema é muito difícil. Ele não é conversado em lugar nenhum, por isso trouxemos isso para dentro da escola e os pais aprovaram o projeto”, afirma Isabel. A professora conta ainda que um dos temas que mais rendeu discussões entre os alunos foi a questão da homossexualidade.
Ratificando as diferenças entre o comportamento sexual de meninos e meninas, a Pesquisa sobre Comportamento, Atitudes e Práticas Relacionadas às DST’s e Aids (PCAP-2008) do Ministério da Saúde, também divulgada em dezembro de 2009, detecta que a vida sexual deles começa mais cedo - 36,9% tiveram relações sexuais antes dos 15 anos. Já entre as meninas, esse índice cai para menos da metade (17%). Quanto à prevalência de DST’s entre adolescentes não há informações, mas sabe-se que o número de casos notificados está bem abaixo dos números reais. Na esfera social, os baixos níveis escolar e socioeconômico estão associados a essas doenças.
Na avaliação da Assessora Técnica do Departamento de DST e Aids do Ministério da Saúde, Nara Vieira, os jovens de hoje nasceram na era da Aids, por isso a relação com o preservativo é mais habitual. "O problema é que, quando se estabelece a confiança entre eles e o relacionamento fica estável, o uso do preservativo deixa de ser prioridade, em especial, para as meninas", diz. Para ela é preciso incentivar a negociação do uso do preservativo entre os parceiros. "Muitos adolescentes ainda não estão dialogando de forma correta e nem pensando sobre a prevenção e suas implicações", afirma.
No que diz respeito à infecção pelo HIV, os dados que integram o relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), divulgado em novembro de 2009, mostram que a tendência de contaminação de mulheres e pessoas cada vez mais jovens pelo vírus é mundial. Crianças e adolescentes com menos de 15 anos somam 2,1 milhões de infectados. Em 2008, 430 mil pessoas nessa faixa etária foram contaminadas e o número de mortes de crianças e adolescentes em conseqüência da doença chegou a 280 mil. No Brasil, a grande preocupação do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde são as meninas entre treze e 19 anos.
Pesquisa feito pelo Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (NESA/Uerj) para identificar fatores de risco às DSTs na adolescência mostrou que entre as justificativas para o não uso do preservativo estão: esquecimento, custos e desprazer na relação sexual.
Mais informações:
Nara Vieira - Assessora Técnica do Departamento de DST e Aids / Ministério da Saúde (61) 3306 7016 / 7010 / 7008 / 9221 2546 imprensa@aids.gov.br
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