23/02/2010
O dia que reboquei um avião!
“Pega ele aí rapidinho e vamos ver com a Infraero uma forma de fazer o embarque.” O ele, no ‘causo’ era eu mesmo e minha cadeirinha vermelha, e quem soltou o ‘pega ele aí’ foi um tiozinho com um tersol enooorme no olho direito , despachante da TAM, no aeroporto de Fortaleza (CE).
O rolo começou porque a aeronave que eu iria voltar para São Paulo havia mudado de lugar de embarque e a nova “plataforma” ficava num pico onde, para chegar, era preciso descer um andar.
Os seres humanos comuns foram pela escada rolante, eu, como o elevador estava quebrado (sim, num aeroporto internacional, numa capital que vai ser sede da Copa, em pleno Carnaval, o elevador tava zuado), teria de chegar até o embarque após uma operação ‘diferençada’.
O tiozinho do tersol era mais estressado do que a Mônica por causa do Cebolinha e estava preocupado com um possível atraso da aeronave por causa do meu “translado”. E ele nem imagina o que estava por vir...
A Infraero resolveu o “perrengue” relativamente rápido criando um meio para eu embarcar, quer dizer, para eu conseguir chegar até perto da aeronave. Algo me dizia que aquela viagem seria um pé de... pé de... pé de jaca...
“Pede um ambulifit para botar ele para dentro do avião! A empresa tá rica e tem mais é que pagar!”, disparou o tiozinho do tersol, mais agitado do que vitamina de abacate.
Ambulifit, ‘zimininos’, é uma geringonça que ergue o ‘malacabado’ do chão, com cadeira e tudo (ou maca, se for o caso), e coloca na mesma altura que a aeronave, facilitando o embarque. É muito melhor do que eu ter de me abraçar a dois caras fortes, másculos, correndo o risco de criar sentimento, né, não?
E foi exatamente num ambulifit destes da fota acima que vivi um dos momentos mais surreais da minha vidinha. Já a uns três metros do chão, o operador do ‘guindaste’ me solta: “parece que a bateria tá arriando, viu?!. A toada tá lenta demais!?”
Claro que não parecia, a bateria do trem não foi capaz de completar a missão e faltando mais ou menos um metro e meio para atingir a porta de serviço do avião, por onde eu entraria, a máquina parou de vez comigo, com o operador e com o tiozinho do tersol a bordo.
“Arriou foi tudo!!! Nem sobe nem desce. Tamo na roça”, me alegrou o operador, que tinha uma voz fininha e um sotaque carregado e engraçado demais da conta.
Agora, imaginem a cena: o avião já devidamente preparado para ‘avuar’ com umas 150 pessoas loucas para terminar de chegar em casa para curar a ressaca do Carnaval todos esperando um cadeirante desentalar para seguir viagem.
E não havia nada que fizesse o ambulifit desencalhar. “Aperta esse butão ai! Roda as engrenagem tudo!! Solta essa porca! Aperta aquela parafuso!!”, ordenava o operador, sem sucesso, do alto do ambulif.
Passaram-se quarenta minutos, mais ou menos, e a tripulação do voo já não tinha mais unha para roer e o que falar para os passageiros. O comandante descia e subia as escadas desbaratinado, igual galinha que quer botar exigindo uma solução para o enrosco.
Ai, veio um dos ápices dessa história tão prazerosa: mexeram em alguma coisa do maquinário da geringonça que, de repente, ela se moveu abruptamente para a banda esquerda e, logo em seguida, para a direita. Naquele momento, eu perdi todo o meu bronzeado, fiquei ‘marelo’ de medo.
“Gzuis meu pai amado! Nóis vai cair daqui, nóis vai cair daqui!! E, olha, eu não quero viver com o dinheiro da aposentadoria do INSS, não, heim?!”, sentenciou o tiozinho do tersol.
“Zimininos”, havia cerca de cinquenta pessoas envolvidas naquela operação de guerra pra resgatar esse matrixiano que nos escreve. A causa do incidente, que por pouco não se tornou um acidente, era óbvia para todos: “Ah, esse ambulifit fica num canto ali e ninguém faz manutenção! E também não tem plano de emergência para resolver situações como essa.”
Engraçado, leio reportagens e mais reportagens mostrando que o governo gastou os tubos para embelezar os aeroportos (alguns com obras superfaturadas, segundo o Tribunal de Contas) e ninguém tá nem ai para garantir dignidade e segurança para quem é ‘dificientchi’...
Agora, acreditem ou não, vem o grand finale, que eu já adiantei na semana passada. “Vamos rebocar o avião da frente do ambulifit. Assim, a gente livra a entrada, e a gente resgata os três por uma escada móvel”, ordenou alguém, que devia saber o que tava fazendo.
Meu povo, para ‘ajudar’ uma peça do ‘guindaste’ já estava tocando na porta do avião, então, era impossível fechá-la. O ‘manobistra’ teria de seria de ser ninja para não fazer uma meleca que empurrasse o ambulifit e ‘nóis tudo’ de lá dentro direto pro céu... .
Tranquei o ‘resistro’ novamente, e vi um avião de ‘trocentas’ toneladas ser rebocado, na minha frente, por minha causa, um luxo, né, não?! ... Eu disse, causa, porque culpa, essa é clara, da TAM e da Infraero, ‘oficoursi’.
Colocaram a escada em frente ao ambulifit, me retiraram, juntamente com o tiozinho do tersol e o operador, recolocaram a escada em frente à porta principal da aeronave, me embarcaram, e, enfim, seguimos para São Paulo, com uma hora de atraso, com muita gente feliz...
Se a chegada foi tranquila? Super... novamente, o avião não parou em um lugar que havia finger (aquele braço que permite aos passageiros irem diretamente do saguão para o avião, sacam?!) e eu precisei, para sair, de um....???? Aêêêêê ... ambulifit!!!!!
Novamente, a organização foi exemplar. Demorou meia hora para chegar o guindaste!!! Tá bom, né? Malacabado num faz nada além de ficar em casa e no hospital. Por isso eu sempre digo, vamos viajar, ‘zente’, vamos dar as caras ao mundo, só assim, na pressão, a gente consegue ser visto, ser respeitado e ficar menos expostos à falta de competência alheia.
* Fotos de arquivo pessoal
Escrito por Jairo Marques às 00h03
Do blog:assim como você da Folha on line
Nenhum comentário:
Postar um comentário