Conforme temos recorrentemente
denunciado, o secretário municipal de Saúde e Defesa
Civil, Hans Dohmann, confirma o aumento dos casos de tuberculose
no município do Rio de Janeiro.
Rio
- JORNAL DO BRASIL
Secretário
admite aumento de 30% nos casos de tuberculose no Rio
Morre
de tuberculose menina de 14 anos, filha do traficante Antônio
Bonfim Lopes, o Nem, que se encontra preso em Bangu
A incidência da
doença na Rocinha reflete o aumento de casos na capital do
estado.
Além
da Rocinha, bairros como Bangu, Caju e Campo Grande lideram as
estatísticas da doença.
O município do Rio é responsável
por mais da metade do número de casos da doença no
estado.
O Estado do Rio de Janeiro lidera o
desonroso ranking nacional com a maior incidência da doença
(70/100 mil) o dobro da média nacional (37,7 casos por 100 mil
habitantes) e o maior número de óbitos, com 900 mortes
/ano, mortes anunciadas que poderiam ser evitadas, não fosse o
descaso do poder público.
Em
março desse ano, por conta do dia mundial de luta contra a
tuberculose, participamos de uma matéria especial sobre
tuberculose no programa Balanço Geral da TV Record, e de uma
audiência pública na câmara de vereadores, onde
apresentamos o dramático quadro de uma epidemia concentrada da
doença em diversas áreas do município e estado
do Rio.
Clique
nas imagens abaixo para ver os vídeos/reportagens:
16/11
Íris Marini
Em
pleno século XXI, há um aumento da ordem de 30% no
número dos casos de tuberculose na cidade do Rio de Janeiro,
como admitiu o próprio secretário municipal de Saúde
e Defesa Civil, Hans Dohmann. A secretaria, contudo, evita dar
números de atendimentos e tenta omitir o problema apresentando
os registros da taxa de cura que obtém. Ela apresenta queda:
foi de 72,10% em 2010; caiu para 71,90% em 2011; e este ano, segundo
dados do secretário Dohmann, anda pela faixa dos
53,70%. Ou seja, a cura diminuiu em quase 20 pontos percentuais. Mas
o secretário diz, otimistamente, que chegará aos
índices de 2011.
O
problema, segundo lembra a vereadora Andrea Gouvêa Vieira,
que questionou Dohmann em audiência pública na
Câmara dos Vereadores, no dia 22 de outubro, exacerba-se na
Rocinha por conta das péssimas condições
de vida dos moradores. “Na Rocinha, há o foco principal
da doença e no Caju, o segundo maior foco. O perigo da
tuberculose e o fato de todos ali estarem em risco é muito
pouco percebido na Rocinha. Há falta de ventilação,
muita umidade, péssimas condições sanitárias,
enfim, qualidades propícias para a disseminação
da tuberculose”, explica Andrea, atualmente licenciada
do PSDB e em final de mandato.
Ela
ainda critica as autoridades municipais por esconderem o assunto:
“Gastou-se um dinheirão para propagandear as clínicas
da família e não se gastou um tostão para
mostrar à população a gravidade da tuberculose,
como se tratar, onde procurar ajuda, entre outras orientações.
É preciso divulgar esses números para a população,
porque um aumento de 30% é muita coisa”, alerta a vereadora.
A
secretaria Municipal de Saúde admite que a Rocinha ainda
possui umas das maiores incidências de tuberculose no
município, mas diz que ela está em terceiro lugar
depois dos bairros Bangu (primeiro colocado) e Campo Grande
(em segundo lugar). Até 2010, a favela liderava o índice
de infestação não apenas no estado, mas em todo
o país, atingindo a marca de 300 casos de tuberculose para
cada 100 mil habitantes.
Um
óbito na favela
Apesar
de as autoridades dizerem que a Rocinha vem apresentando queda do
número de doentes, conforme o Jornal do
Brasil adiantou na semana passada, é na favela que o
Ministério da Saúde espalhou outdoors e cartazes
alertando à população: “Tuberculose: Tosse por
mais de três semanas é sinal de alerta. Procure uma
unidade de saúde".
A
secretaria admite que ali ocorreu uma morte, sem fornecer detalhes.
Segundo informou a colunista Anna Ramalho, trata-se de uma
menina de 14 anos, filha do traficante Antônio Bonfim Lopes,
o Nem, que se encontra preso.
A
assessoria da secretaria informa também que, de janeiro a
junho deste ano, nas três unidades municipais de saúde
da Rocinha, CMS Albert Sabin, Clínica da Família
Maria do Socorro Sousa e Silva e Clínica da Família
Rinaldo De Lamare, registraram-se 160 casos de tuberculose, dos
quais 93 foram considerados curados, 48 permanecem em tratamento
nestas unidades e outros 19 estão sendo atendidos em outros
locais. De acordo com os dados oficiais, em 2010 o total de casos no
bairro foi de 355 e, em 2011, de 261.
Aumento
dos casos
Na
audiência, segundo explicou Andrea, Dohmann
“comemorou” o índice de cura, dizendo que ele chegará
a 75% este ano e mantendo uma meta de 82% para 2013. “É
importante às pessoas terem ciência de que a incidência
nos últimos quatro anos na cidade caiu de 97,5 em cada 100 mil
pessoas para 73,9 nas mesmas 100 mil pessoas. Uma redução
de 24% em função da prevenção. Agora se
faz o diagnóstico. Nós já devemos fechar esse
ano com uma taxa de cura acima dos anos anteriores. A previsão
é de que seja perto dos 75%. Por isso, mantemos a previsão
de 82 para o ano que vem”, frisou o secretário na audiência
pública.
Mas,
quando Andrea questionou-o diretamente se havia ou não
aumentado o número de doentes na cidade, a resposta foi
direta: “Aumentou em 30%”. Replicando a informação
a vereadora agradeceu a franqueza do secretário: “Aumentou
em 30%. Obrigada”.
Pouca
informação
População
ainda desconhece a doença
Apesar
dos avisos espalhados pelas ruas e vielas da maior favela da Zona Sul
do Rio – 69 mil habitantes distribuídos em 25 mil
domicílios, pelos dados do censo de 2010 do IBGE, ou cerca de
180 mil pessoas, segundo as associações de moradores -
depara-se facilmente com quem confessa sequer saber da existência
da doença na região.
“Nunca
ouvi falar nisso aqui na Rocinha não. Moro na altura do número
407, da Estrada da Gávea, mas o que acontece é que o
bairro é muito grande. Pode ser que aqui não tenha, mas
que em outra área exista. Não dá para saber”,
contou o morador, que preferiu não se identificar.
Outros,
porém, admitem até conhecer quem sofreu com o problema.
Há mais de 30 anos na comunidade, o casal Antônio
Carlos e Leuda Carlos tem parentes que foram acometidos pela
doença. “Nossa sobrinha, de 35 anos, teve tuberculose há
uns dois anos. Ela quase morreu. Descobriu muito tarde e já
estava com água no pulmão, que tiveram de furar para
retirar. Ela foi encaminhada pela clínica de saúde da
Rocinha imediatamente para a Santa Casa, no Castelo, onde ficou
internada por 15 dias”.
Eles
não escondem que a questão é conhecida na
região: “Essa é uma situação
terrível aqui no bairro. Qualquer pessoa que você parar
aqui na Rocinha tem, já deve ter tido tuberculose ou, pelo
menos, conhece alguém que teve ou tem”, afirmaram.
Maria,
que preferiu omitir o sobrenome, contou que foi UPA do bairro na
sexta-feira passada (9) e, ao se queixar de coceira na garganta e
tosse, que ela acredita ser apenas uma alergia, foi orientada ao
fazer o exame de escarro. “Eu fui à UPA na sexta-feira,
não tinha médico e nem vaga para marcar consulta. Fui
atendida pela enfermeira da unidade que mal me ouviu e já me
pediu que fizesse o exame de escarro. Não confio em
enfermeira. Como eu ia fazer exame de escarro, se nem secreção
eu tenho. Ela disse que aqui (Rocinha) está tendo muito casos
de tuberculose e que era bom que eu fizesse o exame, mas não
fiz e nem vou fazer”, explicou.
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