Segue abaixo matéria da Veja sobre os recursos da PAM parados...
Marcio Villard
XVI VIVENDO - Estamos Vivos!?!
Rio de Janeiro - 22 a 24 de novembro de 2012
Encerrado período de Solicitação de Bolsas e inscrições prévias.
HIV
Verba para combate à aids fica parada nas contas de estados e municípios
Secretarias estaduais e municipais mantêm, sem uso, 160 milhões de
reais repassados pelo Ministério da Saúde. Rio de Janeiro, que tem
segundo maior índice de mortalidade pela doença no país, é o campeão de
desperdício
Pâmela Oliveira, do Rio de Janeiro
Quando confrontados com um problema grave em suas gestões,
administradores públicos têm, invariavelmente, uma justificativa no
repertório: a falta de verbas, a escassez de recursos, as limitações de
orçamento. Em grande parte dos casos, é certo que falta dinheiro e
sobram problemas, como nas casas em que o salário acaba e o mês
prossegue. Mas nem sempre a inação se explica pelo dinheiro – ou a
falta dele. Neste momento, quando pacientes portadores do vírus da aids
se acotovelam em busca de atendimento em hospitais e postos de saúde do
país, estão parados nas contas de estados e município 160 milhões de
reais repassados pelo Ministério da Saúde para melhorar o atendimento
de soropositivos e criar programas de prevenção.
O levantamento da situação desse dinheiro é do próprio ministério,
com base nas informações repassadas por estados e municípios. O
desperdício pode ser ainda maior: cerca de 200 municípios não
informaram o que fizeram – e se fizeram – com a verba destinada ao
combate à aids.
Em alguns locais, a verba repassada regularmente pelo Ministério da
Saúde desde 2003 ‘apodrece’ na conta há 91 meses, como em Vila Velha,
no Espírito Santo. No Sudeste, são 68,4 milhões de reais sem uso nas
contas bancárias dos gestores municipais e estudais. A região é a que
tem maior número de mortes causadas pela doença: em 2010, dos 11.965
óbitos notificados no país, 5.687 ocorreram nos estados de São Paulo,
Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
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O estado do Rio, que tem a segunda maior mortalidade pela doença do
país, é o que acumula mais recursos sem uso: 30,2 milhões de reais em
caixa entre verbas destinadas à Secretaria Estadual de Saúde e às
secretarias municipais. Segundo levantamento ao qual o site de VEJA
teve acesso, a Secretaria Estadual de Saúde fluminense gastou apenas
36,8% dos 24,9 milhões de reais que recebeu desde 2003. Ou seja,
acumula 15,7 milhões de reais sem uso. Já o município deixou de aplicar
na rede 8,1 milhões dos 17 milhões que recebeu desde 2003.
O estado tem 9,1 mortes por aids para cada grupo de 100 mil
habitantes, quase o dobro da média nacional, de 5,6 óbitos. A cada dois
dias, nove moradores do estado morrem em decorrência de problemas com o
HIV.
Oferecer tratamento com rapidez é a diferença entre a vida e a morte
quando o assunto é o HIV. A aids, que já representou uma sentença de
morte, hoje é considerada uma doença crônica por especialistas, mas o
diagnóstico tardio e o atendimento precário são entraves ao tratamento.
Os destinos possíveis para o dinheiro são muitos. De acordo com o
Ministério da Saúde, os recursos poderiam ser usados na contratação de
ações de prevenção realizadas por organizações não-governamentais e em
melhorias estruturais de unidades de saúde que atendem soropositivos.
Poderia ainda ser destinado a casas de apoio que cuidam de pacientes
sem recursos ou na compra de leite para bebês, filhos de mulheres
soropositivas, pois o leite materno de uma mãe soropositiva leva risco
de contágio ao recém-nascido.
Deixar de empregar o dinheiro destinado ao combate à aids dificulta
o trabalho de entidades que tiveram destaque no combate à epidemia,
cujo ponto crítico se deu na década de 1980. O grupo Pela Vidda Rio,
fundado em 1989, é um dos que passa por dificuldades atualmente. Sem
receber dinheiro público e com o corte dos financiamentos
internacionais, o Pela Vidda foi obrigado a reduzir seu horário de
funcionamento ao período da tarde. O atendimento já não está disponível
às segundas-feiras e foi fechado o Disque-Aids, destinado a dar
orientações a soropositivos e famílias de pacientes com a doença.
O trabalho do Pela Vidda consiste em dar assistência psicológica e
jurídica aos portadores do vírus. O grupo também se especializou em
ações de prevenção ao HIV e na luta contra o preconceito e pelos
direitos dos soropositivos. “Hoje, a situação financeira do Pela Vidda
é muito delicada. Fazemos um esforço enorme para manter as portas
abertas, mas se nada mudar não sei até quando conseguiremos. O mais
grave é que as pessoas continuam chegando, buscando ajuda sem conseguir
acesso à rede pública. Muitas acabaram de ter o diagnóstico e chegam
perdidas, com medo de morrer, sem ter a quem revelar o diagnóstico. Em
seguida, ainda precisam peregrinar em vários postos para conseguir uma
consulta”, afirma o psicanalista George Gouvêa, coordenador do Pela
Vidda, que mantém atendimento psicológico e jurídico com 12 voluntários.
O superintendente de Vigilância Epidemiológica da Secretaria
Estadual de Saúde, Alexandre Chieppe, alega dificuldades no repasse de
recursos para projetos de organizações não-governamentais devido ao
excesso de documentos exigidos. Chieppe argumenta ainda que a
secretaria aumentou o gasto nos últimos anos e afirmou que, até 2013,
investirá no Plano de Metas a verba que hoje esta parada na conta do
estado.
“Não sobra dinheiro. Não há excesso. O que há é
dificuldade de utilizar esses recursos, que se acumularam em anos
anteriores. Os juros também geram mais recursos”, afirma. “Há uma
discussão em relação ao repasse para ONGs. Não há instrumentos
jurídicos adequados. O estado tem que fazer o repasse como se o fizesse
para uma empresa qualquer. Ou seja, há uma carga muito grande de
documentos exigidos para organizações não-governamentais que não têm o
mesmo porte de uma empresa que vende para o governo. Tem que se pensar
numa adaptação para que esses recursos sejam repassados. Hoje, temos
muita dificuldade”, disse.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde Rio, que segundo o
levantamento do Ministério da Saúde tem 8,1 milhões de reais na conta,
alega que não há valores parados. O município argumenta que “todos os
valores estão empenhados no orçamento, vinculando os recursos
financeiros em conta com os recursos orçamentários e compromissos
assumidos”. “A verba é utilizada em despesas fixas e variáveis, como
campanhas, e o recebimento e uso dos valores são dinâmicos, com
prestação de conta feita ao final do exercício. Portanto, a Secretaria
Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro (SMSDC) não tem
hoje em sua conta os R$ 8 milhões citados. Dentre as despesas fixas
estão a compra de leite substituto para crianças nascidas de mães com
HIV, cerca de 28 mil latas ao ano, aquisição de gel lubrificante (500
mil saches/ano)”, diz a nota. O município não informa quanto tem em
caixa no momento dos recursos repassados pelo ministério.
A resposta escorrega nos detalhes. A orientação do Ministério da
Saúde para uso da verba não inclui a compra de gel lubrificante. A
Secretaria Estadual de Saúde comete o mesmo erro: de acordo com o
superintendente Alexandre Chieppe, o órgão também compra gel
lubrificante com o valor de incentivo. Ou seja: do pouco dinheiro que é
usado, há ainda gastos que desrespeitam o que foi acordado com o
ministério.
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