19/04/2010 - 11h15
Com pós-doutorado em epidemiologia e especialização em filogenia dos retrovírus humanos pela Nelson Mandela Medical School, em Durban, na África do Sul, Luiz Carlos Júnior Alcântara atualmente é pesquisador em bioquímica da Fiocruz e professor adjunto de bioquímica no curso de medicina da Escola Bahiana de Medicina.
Alcântara tem experiência na área de biologia molecular e bioinformática dos retrovírus humanos (HIV e HTLV). Atualmente o pesquisador mora em Maryland (Estados Unidos), sede do NIH, onde desenvolve pesquisas que buscam desenvolver uma vacina eficaz contra o HIV.
Segundo ele, até agora as vacinas desenvolvidas não conseguiram imunizar todos os indivíduos vacinados. É o caso da Alvac, que usa como vetor o vírus da varíola, se for modificada, pode alcançar uma maior eficácia. O laboratório desenvolveu essa vacina e testou em macacos, setor no qual atua o biólogo. Em seres humanos, a vacina se mostrou eficaz em um percentual de apenas 30%. Contudo, a eficiência em macacos chegou a 70%.
Qual seu trabalho no NIH?
Recebi um convite e lá estou há 11 meses. Estou envolvido em um projeto novo para desenvolver uma vacina para o HIV que contém os genes do vírus causador da doença inseridos em um vetor. Utilizamos como vetor o HTLV-2, que é da mesma família do HIV.
Ele não causa a doença, mas provoca o aumento no número de células de defesa, a T4. A vacina da HTLV-2 ainda será iniciada em animais, por enquanto fizemos testes in vitro. Os testes em animais devem começar até o final deste ano.
O NIH tem feito testes de vacinas para o vírus HIV recentemente?
Sim. O laboratório ao qual estou ligado testou, no ano passado, um outro tipo de vacina, na Tailândia, chamada Alvac.
Mas os resultadosvnão foram muito animadores, não?
A vacina não conseguiu imunizar todos os indivíduos vacinados, somente um percentual em torno de 30%. Foi uma eficiência baixa, mas em relação a todas as experiências com possíveis vacinas, foi a que apresentou melhor resultado até agora.
Então, mesmo "falhando", a experiência com a vacina na Tailândia pode ser considerada um avanço?
Já foram testadas várias vacinas, sempre sem eficácia. Portanto, foi um sinal positivo, sim. A Alvac, que usa como vetor o vírus da varíola, se for modificada, pode alcançar uma maior eficácia. O laboratório desenvolveu essa vacina e testou em macacos, que é o setor no qualatuo (testes em animais). Só depois de testada em animais, a vacina pode ser testada em sereshumanos.
E em animais, qual foi o percentual de imunização da Alvac?
Em macacos, foi em torno de 70%. Os resultados lá no sudeste asiático, portanto, não podem ser considerados um balde de água fria.
Por que é tão difícil encontrar a cura da aids?
O HIV é muito mutável. Assim como o vírus da gripe, muda muito rápido. Aliás, o vírus da aids tem uma capacidade de mudar muito maior que outros vírus. Ele se torna resistente às drogas antirretrovirais que vão sendo desenvolvidas. Essa é a dificuldade.
Estamos muito longe de uma vacina para aids?
A dificuldade maior não é mais financeira. É, justamente, a grande capacidade de mutação do vírus. Para desenvolver uma vacina, tem de saber a sequência do HIV em diferentes regiões geográficas do planeta e de diferentes genótipos. E, enquanto está sendo desenvolvida uma vacina, o vírus já mudou naquela região.
O Fundo Mundial para a Luta contra a aids, a Malária e a Tuberculose calcula que até 2015 será possível erradicar a transmissão vertical (de mãe para filho) do vírus HIV. É mesmo possível em tão pouco tempo?
O NIH tem pontos na África [continente cujos países têm altos índices de contaminação] trabalhando na questão de transmissão vertical. O correto é que a mãe infectada não amamente. Lá, na África, é muito difícil isso. Recentemente, houve bons resultados.
Estão conseguindo diminuir bastante a transmissão vertical a partir de trabalho de conscientização com mulheres grávidas e na aplicação de dinheiro em investimentos com antirretrovirais para as mães e recém-nascidos.
Aqui na Fiocruz, o senhor é coordenador do laboratório da bioinformática. Quais pesquisas vêm sido feitas?
Desenvolvemos um software para analisar sequências de vírus. São programas que podem ajudar na avaliação de dados de sequências de DNA obtidos nos projetos de pesquisa.
Por exemplo, temos a sequência do HIV. Se quisermos saber qual o genótipo viral que o indivíduo tem, sequenciamos o vírus e submetemos essa sequência ao programa, que é capaz de dizer quais as mutações que existem no vírus, qual a frequência dessas mutações ou se o vírus tem resistência a um tipo de medicamento.
A indústria da tecnologia tem avançado junto às pesquisas?
Sim, considero que a industria tem avançado muito. No Brasil, esses avanços ainda estão engatinhando, na minha opinião. Mas, fora do Brasil, tem crescido bastante, sobretudo nos Estados Unidos e Europa. Sem informática, seria impossível a pesquisa.
Como avalia as políticas públicas no Brasil?
O Brasil é muito bem-visto lá fora, não só em relação à pesquisa, mas principalmente em relação ao tratamento.O Brasil foi um dos pioneiros a oferecer a terapia gratuita, e países vizinhos, como Uruguai e Paraguai, por exemplo, não têm esse tratamento gratuito.
Quais foram os resultados da pesquisa feita na Fiocruz que buscou correlações entre o índice de ancestralidade africana e vulnerabilidade ao HIV/aids?
Fui um colaborador do projeto, pioneiro no Brasil. Foram feitas coletas em indivíduos infectados com HIV. Depois, foi feita a caracterização genética desses indivíduos, para ver se a pessoa tinha mais ancestralidade ameríndia, africana ou europeia. Foi visto que a infecção não tinha nenhuma relação com ancestralidade.
Fonte: A Tarde
De:www.agenciaaids.com.br
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