Explicação sobre o blog "Ativismocontraaidstb"


Aproveito para afirmar que este blog NÃO ESTÁ CONTRA OS ATIVISTAS, PELO CONTRÁRIO.

Sou uma pessoa vivendo com HIV AIDS e HOMOSSEXUAL. Logo não posso ser contra o ativismo seja ele de qualquer forma.

QUERO SIM AGREGAR(ME JUNTAR A TODOS OS ATIVISTAS)PARA JUNTOS FORMARMOS UMA força de pessoas conscientes que reivindicam seus direitos e não se escondam e muito menos se deixem reprimir.

Se por aí dizem isso, foi porque eles não se deram ao trabalho de ler o enunciado no cabeçalho(Em cima do blog em Rosa)do blog.

Espero com isso aclarar os ânimos e entendimentos de todos.

Conto com sua atenção e se quiser, sua divulgação.

Obrigado, desculpe o transtorno!

NADA A COMEMORAR

NADA A COMEMORAR
NADA A COMEMORAR dN@dILM@!

#CONVITE #ATOpUBLICO DE #DESAGRAVO AO FECHAMENTO DAS #EAT´S

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

#CONVITE #ATOpUBLICO DE #DESAGRAVO AO FECHAMENTO DAS #EAT´S

SEGUNDA-FEIRA 10:00hS
EAT Luis Carlos Ripper - Rua Visconde de Niterói, 1364 - Bairro Mangueira.
Caro Companheiro (a), Venha participar, com sua presença, dia 18 de fevereiro, às 10hrs da manhã de um "abraço" ao prédio da nossa querida EAT - Escola das Artes Técnicas Luis Carlos Ripper que, junto com a EAT Paulo Falcão ( Nova Iguaçu) foi fechada por uma arbitraria decisão governamental. Participe deste ato de desagravo ao fechamento de duas escolas públicas, reconhecidas e premiadas internacionalmente que, há dez anos, levam educação de excelência ao povo. ... Compartilhe este convite com todos aqueles que, como você esta comprometidos com a educação verdadeiramente de qualidade. >> Assine a petição para não deixar o governo do estado acabar com duas escolas de excelência!! << http://www.avaaz.org/po/petition/Pelo_manutencao_das_EATS_e_de_sua_Metodologia/?cqMRZdb Saiba mais: http://sujeitopolitico.blogspot.com.br/

ESTE BLOG ESTA COMEMORANDO!!!

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3 anos de existência com vocês...

Ativismo Contra Aids/TB

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Aborto

Notícias da Fiocruz

Informe Ensp

Tese avalia experiências de quem passou pela prática do aborto clandestino

ENSP, publicada em 05/02/2010

O aborto clandestino é uma prática ilegal que ocorre maciçamente no Brasil, sendo a quinta maior causa de mortes entre adolescentes. Por sua condição de ilegalidade, o procedimento é um tema difícil de ser pesquisado. Pouco se conhece sobre as mulheres ou casais que recorrem a ele, sobre como é realizado, qual o número exato de abortos que são praticados e quais as consequências dele na vida das pessoas que o executam. Para ajudar a preencher essas lacunas, a pesquisadora Simone Mendes de Carvalho, em tese recém-defendida na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), avaliou relatos de mulheres entre 18 e 29 anos usuárias de serviços de saúde pública que passaram pela experiência.

"O aborto clandestino é responsável pela interrupção de um grande número de gestações indesejadas em nossa sociedade e, por tratar-se de uma prática realizada sem nenhum respaldo legal, muitas mulheres se submetem a realizá-lo em condições precárias, acarretando um expressivo número de mortes maternas evitáveis, bem como infecções e infertilidade, entre outros agravos à saúde", comenta a pesquisadora. "A prática deve ser tratada como um problema de saúde pública que afeta a vida de várias mulheres, dentre elas as jovens".

As entrevistas foram realizadas com 16 mulheres selecionadas em unidades do Programa Saúde da Família do município de Cabo Frio (RJ). As participantes relataram um total de 44 casos de gravidez, sendo que destes, 22 resultaram em abortos. A idade na ocasião do aborto variou entre 14 a 29 anos, sendo maior na faixa etária entre 18 e 25 anos e reduzindo após os 26 anos. Em relação ao numero de filhos na ocasião da entrevista, a variação foi entre zero a quatro, sendo que a maioria tinha apenas filho, e apenas uma tinha quatro filhos. Das que tinham mais de um filho a maioria era do mesmo relacionamento.

No que se refere à situação relacional com o parceiro na ocasião da gravidez, dentre o total de 44 casos, 19 ocorreram em contextos em que essas mulheres moravam com o parceiro, tendo ocorrido seis casos de aborto; desta forma, 25 casos ocorreram em contextos em que essas mulheres não moravam com o parceiro, ocorrendo 16 casos de aborto. "Podemos perceber que o numero de abortos é maior nas situações em que as mulheres não moravam com os seus parceiros, traduzidas em relações instáveis como namoro, ou 'ficar'", afirma a pesquisadora.

A situação econômica foi outro fator importante que apareceu nos relatos como um agravante para a decisão de realização do aborto. As mulheres, que em sua maioria classificaram sua situação como péssima ou ruim, apontaram que a chegada de uma criança altera os padrões de consumo familiar, acarretando em mais gastos e despesas. "A maioria das entrevistadas (12) não trabalhava no advento da primeira gravidez", explica Simone. Em três dos casos as mulheres também não podiam contar com o parceiro devido às relações instáveis e não aceitação da gravidez por dele". Ela ainda aponta que a rejeição masculina ocorreu por diversas razões, como financeira, o fato de já ter filho ou pela imaturidade para ser pai. Alguns homens também se negaram a revelar uma posição deixando a decisão para a parceira.

A pesquisadora conta que em apenas um caso a entrevistada não contou para ninguém sobre a gravidez que, neste caso, resultou em aborto. Nos outros 15 casos, a gravidez foi compartilhada com amigos e familiares. "A decisão de realizar o aborto não foi tomada de maneira isolada, ou seja, essas mulheres compartilharam com outras pessoas do seu convívio a decisão em abortar", esclarece a pesquisadora. "Isso mostra que a prática do aborto não é individualizada, mas um processo que envolve familiares, amigos e o próprio parceiro e esses na maioria das vezes exercem uma grande influência na decisão".


Falta de conhecimento sobre procedimentos abortivos pode incentivar a prática


Em seu estudo, Simone também consultou suas entrevistadas sobre métodos contraceptivos. Os resultados mostraram que a idade média da primeira relação sexual dessas mulheres foi 14 anos e que a maioria não utilizou nenhum tipo de anticoncepcional. "Isso mostra a vulnerabilidade dessas mulheres em relação a uma gravidez indesejada e o aborto, bem como a infecção por doenças sexualmente transmissíveis", comenta a pesquisadora. Além disso, ela acrescenta que o não conhecimento desses métodos na época foi narrado por 5 das 16 mulheres, um número significativo se forem consideradas a difusão de informações pela mídia, campanhas preventivas e de educação sexual. Ainda sobre a utilização de anticoncepcionais, quando abordadas sobre sua utilização quando souberam da sua condição de gravidez, a maioria (14) respondeu que não utilizavam nenhum método e as que relataram usar disseram que algo aconteceu de errado na sua utilização ou falha do método.

Quando questionadas sobre como obtiveram informações sobre métodos contraceptivos, a maior parte respondeu que foi por conta própria; as outras citaram que foi por intermédio de profissionais de saúde, amigos, do próprio parceiro ou escola. "Quando questionadas sobre a facilidade ou dificuldade em evitar a gravidez, apenas uma relatou ser difícil devido ao esquecimento em tomar a pílula", diz a pesquisadora. "Notamos assim que a utilização dos métodos não está ligada apenas à informação sobre a existência ou não do método, mas também da sua adequação ao corpo e ao estilo de vida dessa mulher".

No que diz respeito ao procedimento de intervenção em si, Simone alerta que, na ocasião do primeiro aborto, a maioria das entrevistadas não obtinha informações corretas de como realizá-lo e as possíveis consequências, já conheciam alguém que havia recorrido ao aborto em algum momento de suas vidas. "Portanto, a prática do aborto não era algo distante ou desconhecido dessas mulheres, e esse conhecimento era proveniente de amigas e família, inclusive a própria mãe", esclarece a pesquisadora. "No entanto, com a vivência de um ou dois abortos, as informações ainda não eram suficientes mesmo".

De acordo com a pesquisadora, os 22 casos de aborto foram realizados em condições não confiáveis: pela ingestão de comprimidos que estimulam contrações ou chás abortivos (baseados em receitas caseiras e mitos populares), em clínicas de fundo de quintal ou clandestinas, com profissionais não qualificados e técnicas duvidosas quanto à assepsia e manuseio dos materiais. "Todos esses abortos ocorreram em cenários inseguros, onde a mulher tinha pouca ou nenhuma informação sobre o que ia acontecer e sobre os riscos que correria ao realizar o aborto. Essas mulheres ficaram expostas a um perigo eminente de complicações graves e até a ocorrência de morte", elucida Simone. Do total de casos, 12 tiveram algum tipo de complicação. As mais citadas foram hemorragia, cólica, desmaio, febre e dores.

Em relação à procura de algum serviço de saúde após a prática, em dez casos as entrevistadas responderam afirmativamente, por conseqüência das complicações. "A atenção recebida nesses locais foi descrita, na maioria dos casos, como péssima ou ruim, sendo ressaltadas a discriminação e o atendimento inadequado pelos profissionais de saúde. Em apenas dois casos a atenção recebida foi classificada pelas entrevistadas como sendo boa e adequada, porém, na opinião delas, os profissionais fingiram que não sabiam que se tratava de um aborto provocado", destaca a pesquisadora.

"Percebe-se que alguns desses serviços não estão preparados para o atendimento da mulher em situação de pós-aborto. Esse quadro mostra, portanto, a necessidade de ações estratégicas que garantam condições desejadas e seguras para as práticas sexuais e reprodutivas de adolescentes e jovens", aponta Simone. "No que se refere aos adolescentes mais jovens, enfrentamos grandes desafios devido à necessidade em ampliar e oferecer acesso aos serviços de saúde com atendimento integral, antes mesmo do início de seu primeiro intercurso, com garantia de privacidade, confiabilidade e atendimento que dê apoio, sem emitir juízo de valor".


Fonte: Agência Fiocruz de Notícias


LinkEntrevistas

Informe Ensp

Mulheres idosas acreditam que mamografia é desnecessária

ENSP, publicada em 05/02/2010

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de mama é provavelmente o mais temido pelas mulheres devido à sua alta frequência e, sobretudo, pelos efeitos psicológicos que afetam a percepção da sexualidade e a própria imagem pessoal. Ainda de acordo com informações do mesmo instituto, é o tipo de câncer que mais causa mortes entre as mulheres.

O Documento de Consenso para Controle do Câncer de Mama, elaborado a partir de uma oficina de trabalho organizada pelo Ministério da Saúde/Inca em 2003, descreve que as formas mais eficazes para detecção precoce dessa neoplasia são: o exame clínico da mama (ECM) e a mamografia. No entanto, grande parte das mulheres idosas nunca se submeteu ao exame. Os motivos? Não achar necessário, não ter recebido recomendação médica e ter sentimentos negativos em relação ao exame, tais como medo, vergonha, restrição a dor etc.

O estudo que buscou essas respostas foi desenvolvido pela aluna do programa de Saúde Pública e Meio Ambiente da ENSP, Cristiane de Oliveira Novaes, na cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais. Ela, que é psicóloga, falou ao Informe ENSP a respeito da pesquisa, que resultou em sua tese de doutorado, orientada pela pesquisadora Inês Echenique Mattos.

Informe ENSP: De acordo com os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a queda combinada das taxas de fecundidade e mortalidade no Brasil vem ocasionando uma mudança na estrutura etária, com a relativa diminuição da população mais jovem e o aumento proporcional dos idosos. Esses dados revelam uma necessidade maior de pesquisas e políticas de atenção à saúde da pessoa idosa. Como iniciou seu trabalho?

Cristiane Novaes:
Sou psicóloga, fiz mestrado em envelhecimento na Uerj e venho trabalhando nessa área desde o início da minha trajetória profissional. O que sempre me interessou no campo da saúde foi a questão do comportamento dos indivíduos e sua relação com o autocuidado, a busca pelos serviços de saúde, os fatores de risco presentes no estilo de vida. A partir daí, realizamos um projeto que tinha como objetivo avaliar o acesso à saúde pelas pessoas idosas.

Mas por que isso? À medida que envelhecemos, normalmente nos tornamos mais vulneráveis a doenças, e, portanto, indivíduos acima dos 60 anos, quando comparados a indivíduos jovens, apresentam mais morbidade e por isso maior risco de perda de funcionalidade e qualidade de vida. O perfil de adoecimento da população idosa caracteriza-se por alterações de longa duração, que requerem atendimentos especializados, contínuos, complexos, multidisciplinares e contemplem a dimensão subjetiva. Isso implica não só na necessidade de avaliação e reestruturação dos serviços mas também em um planejamento que valorize as ações preventivas.

Informe ENSP: Como foi desenvolvido o estudo sobre o acesso aos serviços de saúde? Os idosos procuram os serviços?

Cristiane Novaes:
Primeiro, optamos por analisar os determinantes relacionados à dificuldade de acesso aos serviços de saúde, comparando homens e mulheres idosos no município de Juiz de Fora, uma cidade de médio porte de Minas Gerais, que tem uma população de 11% de idosos de acordo com o último Censo (2000), imaginamos que esse número de idosos tenha aumentado daquele ano para cá. Então, quando verificamos os fatores relacionados ao acesso, percebemos que para os homens, o acesso limitado foi associado ao uso do serviço público de saúde, autoavaliação negativa da saúde, problemas no uso dos serviços de saúde e internação hospitalar no último ano. Para as mulheres, o acesso limitado foi associado a problemas no uso dos serviços, autoavaliação negativa da saúde e uso do serviço público de saúde. O interessante é que a partir do mesmo estudo foi possível perceber que as mulheres se declaram mais doentes, declaram mais morbidade, usam mais os medicamentos, declaram que foram mais ao médico. Em contrapartida, os homens são mais resistentes nessa busca pelo serviço de saúde. Eles vivem menos, se internam mais, e as doenças que os acometem vêm de forma mais aguda por causa dessa ausência de prevenção e autocuidado. A alta prevalência de hospitalizações entre os homens sugere que há uma possível desigualdade de acesso entre os sexos, resultando em maior risco de morbimortalidade para o grupo masculino. A partir dessas informações nos perguntamos: se as mulheres percebem mais essa mudança no estado de saúde e vão mais ao médico, como isso funciona em relação aos exames preventivos como Papanicolaou, mamografia, exame clínico de mama?

Informe ENSP: Como você mencionou anteriormente, o estudo foi desenvolvido em um município com elevado número de idosos. Quais foram os resultados encontrados?

Cristiane Novaes:
Foram entrevistadas 4.621 mulheres, com idade entre 60 e 106 anos, a maior parcela viúvas (51,8%), com até 4 anos de estudo (53,8%), e 80% com renda de até 3 salários mínimos e 66% usuárias dos serviços públicos de saúde, 86% fizeram exame de Papanicolaou e 80,9% fizeram exame clínico das mamas. Concentramos-nos no exame de mamografia, e Juiz de Fora apresentou um quadro relativamente favorável, com uma prevalência de 72% de idosas que fazem o exame, e ainda assim foi o menos reportado. Trata-se de um número alto, e estamos falando de uma cidade que sempre teve campanhas e projetos voltados para a população idosa. Por outro lado, esses mesmos números mostram que temos quase 30% de idosas que nunca fizeram a mamografia e, paralelamente a isso, sabemos que é o tipo de câncer que mais causa mortes entre mulheres, em especial as idosas. Fora o aumento da mortalidade nas últimas décadas. Note que estamos falando de uma neoplasia que possui mecanismos de detecção precoce e tratamento eficaz. Portanto, de uma maneira coloquial, podemos dizer que não deveria matar tanto. Por mais que a mulher tenha mais chances de ter o câncer, adotando os exames de detecção precoce, não deveria morrer o número de mulheres que estão morrendo.

Informe ENSP: O que leva as mulheres idosas a não fazerem o exame?

Cristiane Novaes:
O fato de serem usuárias do serviço público de saúde, baixa escolaridade, baixa renda, não serem casadas, serem mais idosas e uma série de outras coisas. Com relação a este último aspecto, é justamente acima dos 70 anos que o risco de não fazer o exame é maior, além de ser a idade em que se morre mais. Temos um marco etário com relação aos 70 anos, pois a idade que apresenta maior mortalidade é a mesma em que não se faz o que deve ser feito, ou seja, a mamografia.

A partir daí, fizemos uma análise mais profunda sobre essas mulheres e sobre os motivos de não fazer o exame. Por mais que a literatura aponte alguma coisa nesse sentido, tomei um susto pelo ambiente da pesquisa. Estamos falando de um lugar que possui uma elevada parcela da população envelhecida e tem tradição em campanhas de saúde. Mesmo assim, mais da metade das pessoas que declararam não fazer o exame disseram que não fazem simplesmente por não achar necessário! Perceba o seguinte: se em um ambiente como Juiz de Fora tenho mais da metade das mulheres dizendo que não acha necessário fazer o exame, o que deve acontecer em outros locais?

Fora isso, a segunda razão mais declarada por elas é que o médico não pediu a realização da mamografia. Isso nos leva a concluir o seguinte: nem os médicos nem as mulheres acham o exame necessário! Portanto, dessas pessoas que não fazem o exame (cerca de 30% na amostra de Juiz de Fora), vemos que mais de 90% acham que não devem fazer. Isso foge completamente aos padrões epidemiológicos observados. Tanto mulheres quanto os médicos deveriam achar necessário.

Informe ENSP: O fato de não acharem necessária a realização da mamografia está diretamente relacionado à idade dessas mulheres?

Cristiane Novaes:
Desde 2003, Estados Unidos e Europa afirmam que o limite de idade não é suficiente para determinar se a mulher deve fazer ou não o exame. Antes havia limites de idade dependendo da política adotada na região. No entanto, desde 2003, esse critério vem sendo discutido e considerado insuficiente para tornar uma mulher elegível para fazê-lo ou não. Se a expectativa de vida aumentou, se tenho uma maior população idosa, posso ter mulheres de 80 anos saudáveis, bem de saúde, ativas e com uma boa qualidade de vida. Se elas tivessem que descobrir um câncer, que fosse na fase inicial, e isso só acontece com a realização do exame.

Informe ENSP: Você mencionou os Estados Unidos e a Europa. Como funciona a política no Brasil?

Cristiane Novaes:
O Ministério da Saúde/Inca, por meio do documento de consenso, recomenda em relação ao ECM que seja incluído na atenção integral à mulher em todas as faixas etárias, e, a partir dos 40 anos, deve ser realizado anualmente. A mamografia é considerada a principal estratégia de detecção precoce por ser capaz de mostrar lesões muito pequenas, ainda em fase inicial. Para o rastreamento mamográfico, a estratégia preconizada no Consenso, para mulheres assintomáticas entre 50 e 69 anos, é a realização do exame pelo menos a cada dois anos, sendo garantido o acesso a exames diagnósticos, ao tratamento e ao seguimento das alterações encontradas. O documento contempla também o desenvolvimento de ações de educação para a saúde que incluam o conhecimento do corpo e o autoexame das mamas, desde que ele não substitua o exame físico realizado por profissional de saúde treinado para essa atividade (Ministério da Saúde, 2004).

A mamografia é realizada em um aparelho de raio X apropriado, denominado mamógrafo. Nele, a mama é comprimida de forma a fornecer melhores imagens e, portanto, melhor capacidade de diagnóstico. O desconforto provocado é suportável.

A recomendação apontada pela nossa política é clara ao apontar que a mamografia deve ser feita entre mulheres de 50 e 69 anos. Quando se tem uma política que estabelece dados tão claramente, sabe-se que ela não está proibindo que se faça o exame fora dessa idade, mas ela corrobora e dá fundamento para o médico não pedir após determinada idade. Então, por mais que se saiba que não é uma recomendação rígida que restrinja à prática, de forma teórica ela restringe sim, e isso depende do entendimento do profissional sobre o envelhecimento da mulher e sua saúde. Como é uma idade em que pode haver outras alterações, como nas taxas de colesterol e glicose, hipertensão arterial etc., a mamografia fica para segundo plano. Mas ela não pode ser esquecida, pois as mulheres estão morrendo de câncer de mama.

Informe ENSP: Como foi realizada a coleta desses dados?

Cristiane Novaes:
Como queríamos trabalhar apenas com a população idosa que tivesse alguma proximidade com os serviços de saúde locais, algum acesso ao serviço público e, além disso, conhecimento de campanhas e informações sobre atitudes preventivas no campo da saúde, fizemos um planejamento para coletar os dados no momento da Campanha Nacional de Vacinação contra a Gripe. Isso porque precisávamos de pessoas idosas que tinham acesso ao serviço de saúde em alguma medida e se cuidavam de alguma forma. Como se trata de uma campanha para idosos, feita na rede pública e que envolve medidas preventivas, realizamos os questionários nesse período.

Informe ENSP: Qual é o perfil dessas idosas? Até que ponto o fato de não possuírem um companheiro afeta a não realização do exame?

Cristiane Novaes:
Idade mais avançada, baixa escolaridade e a ausência de relação conjugal foram fatores de risco para a não utilização de mamografia. A maior parte das mulheres é viúva, mulheres viúvas, as solteiras e as divorciadas têm um risco maior de não fazer o exame. O estado conjugal está associado, sim, mas temos uma distorção de informação grande. Muitas acham que não é importante realizar o exame porque não possuem uma vida sexual ativa, porque nunca foram casadas, porque já passaram pela menopausa. Essa associação deve ser interpretada com o olhar voltado para a nossa cultura e para as funções sociais e biológicas atribuídas às mulheres que, necessariamente, passam pela questão corporal. Ou seja, a mulher dotada de capacidade reprodutiva na maior parte de sua vida, nessa fase do desenvolvimento, perde essa função, perde o companheiro e, não raro, deixa de se ocupar de tudo que permeava essa relação anteriormente para cuidar de um "novo" corpo e de novas demandas que o envelhecimento biológico impõe ao instaurar outras patologias. O seio é uma parte do corpo associada às funções maternas e eróticas ao longo da vida. A partir do momento que se 'perde' essas funções de alguma forma, ele deixa de ser alvo de cuidado ou atenção. Esses relatos mais detalhados chamaram muito a nossa atenção na pesquisa.

Informe ENSP: Na tese você aponta alguma saída para esse quadro?

Cristiane Novaes:
Eu não falo em culpa porque se trata de um processo muito recente esse desencadeado pelo envelhecimento populacional e pelo aumento da expectativa de vida. Os padrões de morbi-morbidade vão mudando com o tempo, principalmente quando falamos em envelhecimento da população brasileira. Portanto, gosto de pensar que se trata de um processo que precisa de ajustes, mas não há como negar que um grande ponto que precisa de intervenção é o educacional. Por parte das mulheres, há uma distorção do conhecimento do que é uma neoplasia de mama, seus fatores de risco, os cuidados necessários. A mulher precisa entender que ela não deve procurar o serviço de saúde só quando houver alguma alteração ou algum nódulo, a busca pelo exame, pelo médico, deve ser parte de sua rotina, ainda que se sinta bem. A educação voltada para mulher é fundamental. Mulheres idosas têm menos conhecimento sobre a detecção precoce do câncer de mama, menor percepção de suscetibilidade e mais barreiras para usar esse tipo de serviço se comparadas com as mais jovens.

Outro ponto que precisa ser contemplado é a educação/atualização dos profissionais de saúde e, mais claramente, do médico, principal agente nessa relação. É papel dele pedir exames e acompanhar essa paciente. A noção de risco precisa ser mais bem refletida pelos profissionais que têm acesso e cuidam dessas mulheres. Nessa situação, a decisão médica é determinante para a realização ou não do exame. Estudos apontam que dentre as razões que inibem a recomendação por parte dos médicos se incluem os custos do exame, a validade dos resultados, o desconforto e/ou a recusa da paciente, esquecimento, baixa aceitação e incerteza sobre as recomendações.

É necessária a reflexão acerca da organização dos serviços de saúde, da formação dos profissionais, da educação em saúde para a população de nosso país. Foi possível observar no desenvolvimento desse estudo que existem falhas importantes na comunicação em saúde, nas bases de dados públicas disponíveis, no entendimento que a população idosa tem sobre o autocuidado e, ainda, na política de controle do câncer de mama vigente. Em síntese, nem os serviços de saúde, nem as políticas de saúde existentes hoje no Brasil parecem contextualizadas com a população e com as demandas que se apresentam.

O envelhecimento é muito heterogêneo. Posso pegar um grupo de mulheres de 70 anos e elas serem muito diferentes dentro desse mesmo grupo. Como saída para esse quadro em que vivemos, vejo a necessidade de uma discussão sobre o envelhecimento, sobre a noção de risco e um planejamento voltado para a educação dessa população e dos profissionais de saúde. São algumas saídas. Se tudo ficar como está, teremos uma situação complicada. Se, em uma cidade que desenvolve ações e programas de saúde para a população idosa, há um desencontro de informações e mulheres que não veem a importância da realização do exame, imagine o que deve acontecer em outras regiões?

Cortesia Clipping Bem Fam (extra)

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