Até o começo de março, escorado em pesquisas que previam uma vitória folgada, Collor estava decidido a disputar uma das duas vagas de senador por Alagoas. Mas a obrigação de repetir as alianças nacionais nos Estados e a desistência do senador Renan Calheiros (PMDB) de concorrer ao governo mudaram seus planos. Ex-líder do governo Collor, Renan preferiu não correr o risco de ficar sem mandato ao enfrentar a máquina do governador Ronaldo Lessa (PSB), que tentará a reeleição. A outra candidata ao Palácio dos Martírios é a senadora petista Heloísa Helena — tão bem situada nas pesquisas quanto Lessa. Renan também não guarda boas lembranças da vez em que disputou o cargo de governador, em 1990. Concorrendo pelo PRN de Collor, foi preterido pelo então presidente, que ajudou a eleger Geraldo Bulhões.
A candidatura de Renan tinha a aprovação dos usineiros. O ex-presidente tentaria o Senado na mesma chapa. Em Brasília, teria a exposição nacional necessária para tentar voltar à Presidência, seu projeto confesso. Com a mudança de rota, Collor convidou o usineiro João Tenório para ser o vice e já começou a fazer contatos com empresários na tentativa de atrair investimentos privados para Alagoas. Quer trocar o título de caçador de marajás pelo de empreendedor. Oficialmente, a largada não foi dada — mas até os muros de Maceió já sabem de sua candidatura. Na quinta-feira, eles amanheceram pichados com a frase "Governo é Collor".
O senador Fernando Collor (PTB-AL) e o presidente Lula se abraçam em comício em Alagoas. A blindagem da Petrobras na CPI custa caro
Nada pode estar sob controle enquanto o presidente José Sarney estiver acossado por denúncias – e o presidente Lula está sendo atraído cada vez mais para o centro dessa crise. Ele precisa sustentar José Sarney, um aliado muito especial, e arbitrar a disputa pessoal e política entre os líderes do PMDB, Renan Calheiros, e do PT, Aloizio Mercadante. O PT nunca foi notável por defender o governo no Senado e o PMDB cobra um alto preço por essa tarefa. A instabilidade aumenta porque no ano que vem dois terços dos 81 senadores vão disputar as eleições nos Estados. Nessa altura, o instinto de sobrevivência fala mais alto que as conveniências dos partidos e os interesses do governo.
Lula acabou se transformando no principal defensor de si mesmo. Na terça-feira, num palanque em Maceió, pagou o mico de elogiar, na mesma frase, Renan Calheiros e o ex-presidente Fernando Collor, adversário histórico do PT e único ex-presidente brasileiro deposto por corrupção num processo de impeachment, em 1992. “Eu quero aqui fazer justiça ao comportamento do senador Collor e do senador Renan, que têm dado uma sustentação muito grande aos trabalhos do governo no Senado.” Não foi o primeiro elogio nem deve ser o último, enquanto Renan for o chefe do PMDB e Collor o membro da CPI da Petrobras.
No dia seguinte, Lula mergulhou mais fundo. Numa entrevista na sede da Embrapa em Brasília, um repórter disse ao presidente o que a oposição pensa sobre a CPI da Petrobras: “Eles estão dizendo que essa CPI acaba em pizza temperada com pré- -sal”. Lula respondeu com o fígado: “Depende, todos eles são bons pizzaiolos”. A reação no Senado foi imediata. Cristovam Buarque (PDT-DF), ex-petista e ex-ministro de Lula, pediu um voto de censura ao presidente pela frase. Sem consultar o Planalto, Aloizio Mercadante pediu desculpas pela “frase infeliz” do presidente, mas Lula, segundo assessores, não retira uma palavra do que disse.
No fim do dia, o PMDB ajudou a oposição a rejeitar a renovação do mandato de Bruno Pagnoccheschi na direção da Agência Nacional de Águas. Ele foi indicado por Marina Silva (PT-AC) e caiu porque ela é adversária de Sarney e de Renan. Com Sarney na corda bamba, aliados que se autodestroem e dois terços da Casa de olho nas eleições, Lula só pode estar seguro de uma coisa: a cada dia, ele vai ter de se envolver mais na crise do Senado.LEIA neste blog: As amizades colloridas, (crônica de Ruth de Aquino)
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