Governo defende reprodução planejada de soropositivos
FOLHA DE S. PAULO
04/05/2010
O Ministério da Saúde elabora documento em que estimula portadores de HIV que queiram ter filhos a fazer sexo desprotegido em condições específicas. Segundo o texto, se o casal planejar a gravidez na melhor fase clínica do tratamento, o risco de transmitir o vírus é muito menor. Isso inclui estar com a quantidade de vírus baixa e o total de células de defesa elevado, não ter doenças crônicas associadas nem infecções no trato genital.
Documento estimula sexo desprotegido no dia fértil da mulher, para diminuir risco
Segundo informações do Ministério da Saúde, quase 3.000 mulheres com o vírus da AIDS, em tratamento, engravidaram em 2008
O Ministério da Saúde elabora um documento em que estimula soropositivos interessados em ter filhos a fazer sexo desprotegido, em datas e condições clínicas específicas.
O documento inclui estratégias de redução de risco de transmissão do vírus, em um contexto onde a maioria dessas pessoas não tem acesso a tratamentos de reprodução assistida para tentar engravidar.
"Em 2008, quase 3.000 mulheres soropositivas engravidaram e a maioria estava em tratamento com antirretroviral. Elas poderiam ter sido orientadas a se expor apenas no período fértil", diz Andrea da Silveira Rossi, consultora técnica do DEPARTAMENTO DE DST/AIDS e Hepatites Virais do ministério.
Segundo Rossi, se o casal planejar a gravidez na melhor fase clínica do tratamento da AIDS, os riscos de transmissão do vírus são muito menores.
Isso inclui estar com a carga viral indetectável e o CD4 (células de defesa) elevado, não ter outras doenças crônicas associadas, não ter infecções do trato genital (como outras doenças sexualmente transmissíveis) e planejar a relação para a data exata do período fértil.
A estratégia não elimina o risco de transmissão do vírus, mas o reduz muito, segundo Rossi.
Após a relação desprotegida, o documento recomenda que o parceiro sem HIV tome os ANTIRRETROVIRAIS como prevenção.
O protocolo dirá também que, se a mulher for SOROPOSITIVA, ela deverá continuar tomando o antirretroviral durante a gestação, e o bebê também tomará a droga no primeiro mês de vida. A criança não poderá ser amamentada.
O número de grávidas com HIV é cada vez maior, diz Rossi: "Esse assunto é pouco discutido. Temos que orientar os casais que não têm acesso às técnicas de reprodução assistida sobre formas de engravidar".
"Em termos de porcentagem de chance de contaminação [cerca de 2%], pode ser aceitável a gravidez natural. Mas se considerarmos a doença, acho que não", diz Eduardo Pandolfi Passos, vice-presidente da Sociedade Latino-Americana de Reprodução Assistida.
"Relações desprotegidas são contraindicadas. Em alguns casos, o risco de contaminação chega a 4%", diz Waldemar de Carvalho, coordenador o Centro de Reprodução Assistida em Situações Especiais da Faculdade de Medicina do ABC.
Já o infectologista Caio Rosenthal, do Emílio Ribas, diz: "Estudos sugerem que a contaminação, nos casos em que a carga viral é indetectável, é menor do que se pensava. Com a orientação certa e conhecendo os riscos, [a gravidez] é questão da autonomia do casal".
OMS
A OMS aborda o tema desde 2006. O documento, porém, cita a redução de riscos (sexo sem CAMISINHA) para casais em que ambos têm o vírus. No caso de a mulher ser HIV positivo e o homem não, a OMS recomenda a autoinseminação. No caso de o homem ter a doença, a OMS sugere reprodução assistida.
"A maioria dos pacientes não pode pagar por reprodução assistida. Com certeza vamos receber críticas, mas as orientações são individualizadas. Falamos em redução de risco, não em eliminação", diz Rossi.
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