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03/05/2010
Pré-natal, direito da mulher e do bebê
Apesar do crescimento do número de atendimentos na rede pública do DF, gestantes ainda enfrentam problemas para marcar consultas e fazer exames
# Helena Mader
Toda mulher sonha com uma gravidez tranquila e, principalmente, com o nascimento de um bebê saudável. Para que os nove meses da gestação só tragam boas surpresas à futura mamãe, é preciso seguir um rígido calendário de exames e de visitas ao médico. São essas consultas que podem garantir o bom desenvolvimento do feto e a saúde da gestante. No Distrito Federal, o número de grávidas que realizaram o pré-natal na rede pública cresceu 21,24% nos últimos seis anos. Só em 2009, foram atendidas 192.955 pacientes.
O aumento das consultas não reflete, entretanto, maior qualidade dos atendimentos. Em alguns postos de saúde, as mulheres enfrentam dificuldades para marcar as sessões de acompanhamento com os médicos. Nos hospitais, são longas as filas para os exames de ultrassom. Com isso, a capital federal ainda apresenta dados negativos, como um número alto de registros de SÍFILIS congênita - doença que é prevenível com a realização de um bom pré-natal. Nos últimos três anos, foram registrados 489 casos no DF. A meta do governo é eliminar a doença.
Outra estatística desfavorável é o coeficiente de mortalidade materna - índice que também está relacionado à qualidade do pré-natal -, que cresceu no DF. No ano passado, 12 gestantes morreram durante a gestação, no parto ou logo depois de dar à luz. O número é o dobro do registrado em 2008 na cidade, de acordo com o Datasus. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o índice de mortalidade materna é um dos principais indicadores da qualidade da assistência dada à mulher.
Há mais um sinal de alerta. Apesar da alta contabilizado nos últimos seis anos, de 2008 para 2009, houve uma redução de 35% no número de consultas de pré-natal. Os técnicos do governo vão analisar os dados para investigar se essa queda está relacionada à redução das taxas de natalidade ou à uma baixa procura das gestantes.
O coordenador de ginecologia e obstetrícia da Secretaria de Saúde, Avelar de Holanda Barbosa, diz que o aumento do número de consultas na rede pública é positivo, mas destaca que esse dado é insuficiente para registrar a qualidade do atendimento. "Se os índices de mortalidade materna aumentam e se ainda temos casos de SÍFILIS congênita, por exemplo, é porque existem falhas no pré-natal", reconhece.
A doméstica Maria das Dores da Silva Lira, 34 anos, está ansiosa pela chegada da primeira filha, Alana. O nascimento está previsto para o próximo dia 10, mas Maria não gostou do atendimento que recebeu no Centro de Saúde 3 do Guará. "A maioria das consultas foi apenas com enfermeiras, não com médicos. Para fazer dois exames de ultrassom, tive que procurar uma clínica particular", reclama Maria das Dores.
Apesar das falhas no sistema, é possível perceber a conscientização das mulheres sobre a importância de uma gestação saudável. A maior da escolaridade da população contribui para o crescimento dos atendimentos feitos durante a gravidez nos centros de saúde públicos de Brasília. No Brasil, o aumento do número de consultas no SUS foi de 125%. Roraima teve o crescimento mais expressivo: 2.379%.
Para a babá Maria da Conceição Dionísio Silva, 21 anos, o pré-natal foi importante, já que a futura mãe sofreu com dores abdominais durante toda a gravidez. "Eu ficava preocupada com a dor, que às vezes era forte. A médica teve o cuidado de me acompanhar todos os meses e, quando o incômodo era maior, eu corria para o posto, mesmo fora das datas marcadas para as consultas", explica Maria da Conceição, moradora do Itapoã, que foi atendida no Centro de Saúde 9 do Cruzeiro Novo.
Fortalecimento
O Ministério da Saúde comemorou o aumento do número de consultas de pré-natal realizadas em todo o país. O diretor do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas da pasta, José Luiz Telles, atribui o fenômeno à melhoria da rede de atenção básica no país. "Além do fato de as pessoas terem maior acesso à informação, o crescimento das consultas também está ligado ao fortalecimento da atenção primária. Isso é importante porque ajuda a reduzir as taxas de mortalidade infantil e representa uma vitória das mulheres brasileiras", justifica Telles.
Nas consultas ao longo da gestação, as mulheres devem realizar uma série de exames, tanto de sangue como de imagem. Os médicos verificam se a futura mamãe tem diabetes gestacional (1)ou hipertensão, doenças que podem levar a uma gravidez de alto risco. "Esses problemas representam duas das principais causas de mortalidade materna. Com o pré-natal e com um acompanhamento especializado, a mulher pode evitar situações que colocam em risco a sua vida e a do bebê", explica José Luiz Telles.
Entre as mais importantes orientações dos médicos às gestantes está a proibição do uso de drogas, cigarro ou álcool. Abrir mão desses hábitos nocivos é essencial para que o bebê se desenvolva de forma saudável. O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Dioclécio Campos Júnior, explica os perigos de fumar durante a gravidez. "A mãe que fuma coloca em grande risco a criança, pois aumentam as chances de morte súbita. Além disso, com o consumo de álcool, há mais possibilidade de desenvolvimento da síndrome alcoólica fetal, que afeta muito o desenvolvimento", alerta o pediatra.
Dioclécio Campos Júnior também destaca a importância do pré-natal para a construção do vínculo afetivo entre a mãe e o bebê. "É preciso fazer um trabalho com a gestante para que ela enfrente o mínimo de estresse possível, já que ele é muito nocivo para a criança. A presença do pai nas consultas também é bastante recomendável, porque o conceito de paternidade é indispensável para completar à gravidez."
1 - Alerta
O diabetes gestacional é a alteração das taxas de açúcar no sangue durante a gravidez. Na maioria dos casos, o tratamento é feito com dieta e exercício. Quando essas medidas não são suficientes, é necessário fazer um acompanhamento com injeções de insulina. Sempre que a gestante apresentar essa doença, a gestação é considerada de alto risco.
É preciso fazer um trabalho com a gestante para que ela enfrente o mínimo de estresse possível, já que ele é muito nocivo para a criança. A presença do pai nas consultas também é bastante recomendável"
Dioclécio Campos Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria
Atenção à futura mamãe
Além de exames, as consultas de pré-natal devem orientar sobre todas as fases da gestação e cuidar da condição psicológica da mulher
Helena Mader
No oitavo mês de gravidez, a operadora de caixa Valdete Ribeiro de Moraes, 26 anos, tem dúvidas e questionamentos típicos de qualquer mãe de primeira viagem. Além de enfrentar as mudanças no corpo e a expectativa do parto, ela teve que buscar informações sobre a saúde do bebê e dicas de como cuidar da primeira filha, Geovana, que deve nascer até 12 de junho. Durante o pré-natal no Centro de Saúde 9 do Cruzeiro, ela participou de palestras e de reuniões com outras gestantes. "Esses encontros foram tão importantes quanto o pré-natal. Aprendi muito e fiquei mais calma com as informações passadas pelas médicas e enfermeiras", conta.
As ações educativas para as gestantes, como essas que Valdete participou, fazem parte das diretrizes do Ministério da Saúde para o atendimento de mulheres grávidas. Além de exames médicos de rotina, da coleta de sangue e das ecografias, as mulheres também precisam de orientações importantes sobre a higiene, a nutrição, a prática de atividades físicas e a preparação para o parto.
Roupas ideiais
A ginecologista Sandra Chaves, que faz atendimentos de pré-natal na rede pública, conta que as gestantes chegam ao centro de saúde com muitas dúvidas. "O ideal é que elas participem de pelo menos quatro palestras durante a gestação. Na primeira, falamos sobre os cuidados durante a gravidez, como ter atenção com o peso, com a hidratação da pele e até mesmo sobre as roupas ideais. Em seguida, abordamos as mudanças no corpo, além de assuntos como as relações sexuais durante a gravidez. No terceiro encontro, explicamos como é o parto e, ao final, damos dicas sobre o puerpério (após o nascimento do bebê)", conta a ginecologista. "Essa atenção ao lado psicológico da grávida é tão importante quanto as consultas médicas", acrescenta a especialista.
A auxiliar administrativa Luci Soares Gonçalves, 34 anos, seguiu todas as recomendações médicas e teve o privilégio de curtir a gravidez com tranquilidade. "Tirando os enjoos, foi tudo perfeito", conta. Durante as oito consultas pré-natal, ela fez os exames indicados e também ouviu das enfermeiras do posto de saúde a importância da amamentação para a saúde da criança. "Essas orientações me trouxeram muita tranquilidade. Valeu a pena ir a todas as consultas", revela Luci.
Rede privada
No Sistema Único de Saúde, a orientação é para que as grávidas façam pelo menos seis consultas de pré-natal. Mas os médicos recomendam um atendimento por mês até o sétimo mês; encontros quinzenais no oitavo mês e, depois disso, uma consulta semanal até o nascimento. Já na rede particular, além do acompanhamento mensal, a oferta é grande. Os pais que têm condições de pagar podem fazer, por exemplo, uma ecografia 4D, procedimento que permite ver até mesmo o rostinho do bebê. O acesso a esses procedimentos, porém, depende da renda familiar.
Vice-presidente da Sociedade Brasiliense de Ginecologia e Obstetrícia e professor da Universidade de Brasília, Alberto Carlos Zaconeta explica que, independentemente das condições financeiras, existem alguns procedimentos que são essenciais. "Basicamente, todas as grávidas deveriam fazer testes de tipagem sanguínea, hemograma, de glicemia, exame de SÍFILIS e HIV, de toxoplasmose, além da coleta de urina para verificar infecções. Além disso, três ecografias são suficientes", afirma o especialista. Zaconeta garante que a maioria das grávidas conclui a gestação sem nenhum tipo de problema. "Mas cerca de 15% delas podem ter complicações. O pré-natal é importante para identificar as doenças maternas e fetais de forma precoce", acrescenta o obstetra.
Para a maioria dos pais, o exame preferido é a ecografia. Ao ver o corpinho em formação pela tela, eles têm segurança sobre a saúde do bebê. Mas especialistas explicam que a grávida não precisa fazer o exame de imagem todo mês. O ideal é que sejam feitos pelo menos três sessões de ultrassom durante a gestação, uma por trimestre. "O ultrassom é muito importante, quando bem usado. Não é necessário fazer todo mês, mas não podemos pensar em um bom pré-natal sem esse instrumento", explica o coordenador de ginecologia e obstetrícia da Secretaria de Saúde, Avelar de Holanda Barbosa.
Frequência
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