Falta compreensão sobre o papel do pai, que mudou mais do que o da mãe
O Globo
29/03/2010
RIO - De maternidade, todo mundo fala. Uma profusão de artigos e reportagens é publicada todos os meses em revistas femininas e, diariamente, em jornais. Mulher, é fato, gosta mais de discutir a relação, seja ela qual for, com quem for. Talvez por isso se fale tão pouco sobre paternidade.
- Há muito pouco conhecimento sobre paternidade - atesta o psicanalista Rubens de Aguiar Maciel, da USP e do Hospital das Clínicas, um dos poucos especialistas do país. "Quando comecei o doutorado, em 2006, havia só uma tese sobre o tema. Quatro anos depois, era só aquela e mais a minha. O tema é escasso inclusive em publicações internacionais." No entanto, sustenta, o pai é uma figura fundamental na estruturação da personalidade da criança e seu papel, diferentemente do da mãe, mudou radicalmente nos últimos 100 anos.
Nesta entrevista, Maciel fala sobre seu estudo inédito com homens prestes a se tornarem pais pela primeira vez, os anseios e inseguranças que os acometem. E também sobre as suas próprias incertezas como pai de duas filhas. "Eu fiz o possível para ser um bom pai, mas acho que a minha filha de 17 anos não concorda com isso."
DA CAVERNA PARA O APARTAMENTO
A MUTAÇÃO DO PAI: "Há 100 anos, o papel do homem era o de provedor financeiro da família. Ele se relacionava com o filho na transmissão do ofício em alguns outros aspectos da educação. Mas se limitava a isso. Os cuidados e a educação do dia a dia eram função da mãe. Hoje, há outro tipo de participação, há mais intimidade. O papel do pai autoritário, dominador, que ditava normas de procedimento e comportamento vem sendo abandonado."
A FAMÍLIA CRESCE: "Quando uma criança chega numa família em que é bem-vinda, ela cria uma experiência interna de que o mundo a aceita. Isso é fundamental porque, nos primeiros anos de vida, a criança cria sua estrutura emocional, adquire confiança em si própria e no mundo. Pais inseguros, ansiosos, imaturos, ambivalentes em relação ao filho, geram uma criança com dúvidas, inseguranças, necessidade de ser e agir de acordo com expectativa dos pais. Isso gera na criança um medo de que o mundo não vai recebê-la bem, de que é preciso ficar preocupada em agradar ou não será bem recebida."
O PRIMEIRO FILHO: "A chegada do primeiro filho tem um impacto emocional muito grande. Gera fantasias e expectativas únicas que, a partir do segundo, são diferentes."
PAPEL X FUNÇÃO: "Temos que distinguir entre o papel e a função de pai. O papel é mais normativo, tem a ver com as obrigações morais que ele deve ter diante de sua família. A função é algo mais profundo, diz respeito ao mundo interno da criança, à sua personalidade, seu lado emocional."
Colaboração : Clipping Bem Fam(29/03/010)
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