31.3.2010
|12h09m
artigo
O golpe cívico-militar foi esquecido
31 de março é a data oficial de “comemoração” do Golpe cívico-militar concluído em 1º de abril de 1964.
Ao contrário de outros países do Sul da América, como Chile, Uruguai e Argentina, aqui operadores políticos e movimentos populares ignoram solenemente a história recente.
Considerando que boa parte das atuais elites dirigentes daqui estava na oposição ou eram aliadas do regime de força, vejo essa ignorância como um mecanismo nefasto. Tal manobra de “abafa” tampouco é novidade.
Na Europa do pós-2ª Guerra, nos países beneficiados pelo Plano Marshall, fez-se vistas grossas para os ex-colaboradores dos governos nazi-fascistas.
No Brasil, nem sempre foi assim. Lembro que na segunda metade dos anos ’80, ainda no Rio de Janeiro, a Associação Municipal de Estudantes Secundaristas (AMES) convocava a Semana Edson Luís, recordando o estudante assassinado pela ditadura em 28 de março de 1968 em um conflito no restaurante Calabouço.
O ápice se realizava no Centro Acadêmico Cândido de Oliveira (CACO), da Faculdade de Direito da UFRJ, quando em 31 de março era organizado o Enterro do Golpe.
Estes momentos, fazendo política através do simbólico, marcavam a têmpera das minorias mobilizadas e também refletiam um grau de antagonismo ainda latente. E porque não se manteve a luta pela memória revivida?
Ao não encontrar suficientes fatores explicativos na política interna de um país, cabe ao analista buscar algum marco comparativo continental. O que leva nossos vizinhos a carregar de sentido estas lutas?
Há um padrão nos protestos anti-golpe, quando argentinos saem às ruas em 24 de março, uruguaios em 27 de junho e chilenos em 11 de setembro.
Em todas estas datas existe a presença de continuidade política e bandeiras contemporâneas. Uma destas bandeiras é a permanente luta reivindicativa por Verdade, Memória, Justiça e Punição a todos os responsáveis pelos crimes de lesa-humanidade, não importando sua patente, cargo ou função à época.
Já a continuidade na política se faz notar por agrupações, correntes, movimentos ou partidos a reivindicar seus mortos pela repressão.
A ação coletiva depende de elementos de unidade e reconhecimento mútuo. Do contrário, ninguém se move. Um ritual fúnebre da liturgia de esquerda do Cone Sul é o de levar cartazes e faixas com rostos de mártires e desaparecidos políticos. É como afirmar que ninguém tem o direito ao esquecimento.
Já as esquerdas brasileiras, em geral, têm uma concepção de curto prazo que as impede identificar causas de tipo unitário e com potencial agregador. Tal se verifica na presença de arenistas no governo do ex-sindicalista e, pela conseqüente falta de uma conseqüente política de Direitos Humanos.
No Brasil, os que padeceram nos porões ou morreram em situações de confronto também são esquecidos por aqueles que deveriam reivindicá-los. Nas duras regras do jogo político, o pragmatismo inescrupuloso é coveiro da história.
Bruno Lima Rocha é cientista político (www.estrategiaeanalise.com.br / blimarocha@via-rs.net)
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