NOVA FRIBURGO:O SENTIMENTO É DE RAIVA E VERGONHA CÍVICA

16 de julho de 2011 #189

Esta semana teve demissão definitiva no DNIT e há uma suposta ordem de Dilma para que seja feita uma “faxina geral”. Isso não vai dar, porque o parceiro é o PMDB, e ele teria que ser tirado do governo para essa faxina ser geral mesmo. Mas, no Transportes, dizem que a faxina será “gradual”. Ou seja; nada ou quase nada vai acontecer. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Cezar Peluso, negou pedido de liminar feito pela defesa do ex-deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) para que ele assuma o cargo de senador. A decisão assinada na quarta-feira (14) foi divulgada nesta quinta-feira (15). Meno male. Muitas outras coisas rolaram, inclusive a ameaça de um calote americano, mas, hoje, vou falar um pouco ( e o pouco vai pela emoção e pela falta de sono que me assolam há dois dias, desde que fui a Nova Friburgo, anteontem, com membros da Comissão de Direitos Humanos, da OAB-RJ, marcada muito antes das denúncias de corrupção feitas pela mídia. Fomos ver a situação das também vítimas deste roubo indecente que ocorre em Friburgo ( a próxima ida, será a Teresópolis), a situação das obras e das pessoas - essas, sim, o material que mais importa. Ali, neste momento, que se dane a preocupação ambiental. O que importa é o social. Mas Carlos Minc andou por lá, e avisou que vai desapropriar uma área enorme, para fazer um parque fluvial. Enquanto isso, a cidade parece uma praça de guerra. Está praticamente igual a janeiro, só que com a lama seca, por causa da estiagem. Num abrigo que visitamos, 17 famílias vivem atochadas em pequenos quartos, com todas as suas coisas ainda dentro de caixas de papelão. Não vi um cobertor, um lençol, uma toalha de banho. E Friburgo faz um frio danado. E, normalmente, apenas um colchão por quarto, independente do número de pessoas habitando o cômodo. A depressão grassa na cidade. Em breve, quando as novas chuvas chegarem, deveremos ter uma onda de suicídio. Placas da empreiteira Delta, do marido da amante do governador, segundo consta, estão por toda a cidade, mas não há uma obra sendo feita. Não há máquinas funcionando na cidade. Só vimos um trator, parado e sujo. Para as pessoas não retornarem às suas casas ameaçadas, cortaram água e luz. E a representante da Casa Civil de Cabral, Juliana Leitão e Mello, “Gestora de Políticas Públicas e Gestão Governamental”, toca o terror nas comunidades, marcando de vermelho as casas que vão ser demolidas, e , simplesmente, comunica ao morador pobre que a casa dele vai dançar. Mas, se na mesma encosta, houver uma casa bacana, ela não recebe seu círculo vermelho e o número de condenação. É o terror dos moradores, que vivem inseguros e insones, pois não terão para onde ir. Menos da metade dos desabrigados recebe o aluguel social e, com a tragédia e a especulação, o salário mínimo do aluguel, não dá pra nada e não se encontra o que alugar. Aqueles mais de 800 mortos “desaparecidos”na tragédia, continuam na mesma situação,e seus corpos apodrecidos estão sob a terra, e nunca mais ninguém falou nada sobre isso. Encontramos um senhor que perdeu tudo, incluindo todos os documentos, junto a escritura da casa e ele disse não ter ainda condições psicológicas de ir atrás da documentação. O olhar dos habitantes da cidade é vago, olha para o nada, ou olha para o chão. Parece uma cidade de zumbis. Numa encosta detonada na Praça dos Suspiros, cuja igrejinha já foi restaurada pela Fundação Roberto Marinho, no alto daquilo que é a prova da desgraça havida, um boliche e um parque de diversões não foram condenados, e esperam poder voltar a funcionar, junto ao teleférico. Fomos fotografados pelo dono do negócio, mas a recíproca foi verdadeira. A informação que tivemos é que a comida está acabando. Fica em um galpão. Onde estão os outros donativos, como roupas e brinquedos, não descobrimos. Mas a assessoria do Hotel Bucsky me informa que eles vão distribuir 360 cobertores. Que seja logo, antes que o inverno acabe. A sensação é de raiva e vergonha cívica. E de ansiedade e preocupação com a situação atual e com o que virá, dentro de meses. As pedras que não caíram no temporal de 12 de janeiro, estão prontinhas para fazê-lo. Verbas foram enviadas e alguém as enfiou no bolso. Países querem ajudar, mas diante da corrupção evidente e já denunciada pela mídia essa semana, e mesmo antes, não sabem como ajudar. A situação é de descaso dos órgãos públicos, a população, mais uma vez, abandonada e as verbas que lhes são destinadas, desviadas e nada é feito. No nordeste há anos há a “indústria da seca”, que já levou mais de duas vezes o Plano Marshall, que recuperou a Europa no pós-guerra, e a seca continua. Em Santa Catarina, também se provou roubo de donativos e muito desvio de dinheiro. Parece que, no século XXI, vamos inaugurar a indústria das enchentes. Nos terrenos devastados, deve vir este absurdo Parque Fluvial - que só vai acontecer se a gente não gritar – e, provavelmente, uma ocupação hoteleira, pois, neste governo estadual, está mais do que provado que o ser humano é o que menos importa.. Do grupo que foi a Friburgo, quinta-feira, ninguém dormiu ao chegar em casa. Agora está muito cedo, ainda não falei com ninguém, mas eu, que não tinha dormido ao chegar, também dormi mal de ontem para hoje. E não sei o que será o CURTIR TAMBÉM É CIDADANIA de hoje. Deveria ser uma marcha fúnebre, mas não vai ser, não. Talvez a Marselhesa, aproveitando que o 14 de julho, Queda da Bastilha, foi na quinta-feira. Bom fim-de-semana, pra quem tiver essa sorte. Marcia de Almeida Editora www.emdiacomacidadania.com.br

Em Dia Com A Cidadania - 2008 - Todos os direitos reservados