07/06/2011 - 18h30
Eduardo Barbosa integrou o movimento social de luta contra a aids de 1994 a 2004. Foi presidente do GIV (Grupo de Incentivo à Vida), do Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo e participou da fundação da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids.
Está no Ministério da Saúde desde 2004, quando foi convidado para ser o responsável adjunto pela Unidade de Articulação com a Sociedade Civil e Direitos Humanos. Em 2006, assumiu a diretoria adjunta do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais.
Agência Aids: Qual foi a principal luta do movimento social na época em que você era ativista?
Eduardo: O ativismo era fundamentado na luta pela vida e pelo acesso a medicamentos. Naquela época, as mortes eram frequentes. A gente brincava no GIV que o nosso passeio era ir a velório e cemitério. Era um momento de incerteza muito grande.
Agência Aids: Depois que o Brasil passou a fornecer antirretrovirais, em 1996, qual passou a ser foco dos militantes?
Eduardo: Por volta do ano 2000 começamos a exigir também questões como trabalho e qualidade de vida. Hoje em dia a luta está muito mais focada em direitos humanos, direito à maternidade, paternidade, emprego, lazer, namoro. Junto com essas mudanças modificou-se também a forma der fazer ativismo.
Agência Aids: O que mudou?
Eduardo: Se antes era necessário ir para a rua fazer manifestações, jogar sangue na porta de um Centro de Referência (de DST/Aids) ou fazer uma mobilização na porta do teatro municipal de São Paulo colocando velas, hoje existem outros caminhos. Os meios de comunicação evoluíram. As redes sociais na internet tornaram a informação muito mais rápida e ágil. Então, denúncias de falta de medicamentos, maus tratos, violações de direitos relacionadas à discriminação e preconceito tornam-se públicas de forma muito mais rápida.
Agência Aids: Há militantes que criticam essa nova forma de ativismo. Para eles, o movimento social está enfraquecido. Você concorda?
Eduardo: Já vi essa colocação sendo feita várias vezes, e discordo. Não acredito de forma nenhuma que o ativismo esteja enfraquecido ou que as pessoas perderam a capacidade de se indignar. Elas continuam se indignando e se mobilizando, mas em um contexto diferente. O ativismo está de cara nova e essa cara precisa ser interpretada.
Agência Aids: Para o governo, essa nova militância têm tanto impacto quanto à realizada anteriormente, no início da epidemia?
Eduardo: Acredito que sim. O governo, especialmente na área de saúde, acompanha essas novas mídias. É uma forma de verificar o que está sendo feito na ponta, as principais dificuldades e demandas da população. E lógico que quando existe uma série de denúncias na internet o poder público tem que procurar ver o que está acontecendo e dar respostas para isso.
O fato dos militantes estarem dialogando mais com o governo é visto algumas vezes como ativismo burocrático. O que acontece é que o governo está mais aberto para a conversa, até porque há pessoas, como eu, que vieram do movimento social e possuem essa disposição.
Agência Aids: Você considera que contribui mais para a luta contra a aids enquanto ativista ou trabalhando para o Departamento?
Eduardo: Das duas formas. No movimento social você tem um foco e uma forma de atuação e você vai cobrar efetivamente as políticas públicas. No governo é uma outra forma de atuação. Existem limitações que são legais, de prioridades e estrutura.
Agência Aids: Você se considera um ativista que atua no governo?
Eduardo: Não. Sou uma pessoa com conhecimento do movimento social, que atua como alguém do governo e busca dialogar com os militantes.
Agência Aids: Como a experiência de ativista influencia no seu trabalho atual?
Eduardo: Até por conta do envolvimento com a causa você extrapola o limite do funcionalismo público, não tem horário. Então se precisa ir sábado ou domingo no aeroporto para liberar uma carga, você vai. Se precisa algumas vezes quebrar protocolos de hierarquia para resolver um problema você acaba fazendo, e às vezes até recebendo algumas advertências.
Hoje, quando temos alguma perspectiva de falta de medicamento ou algum outro problema, lógico que como pessoa que vive com HIV você tem uma postura diferenciada. Você não quer que falte remédio nem para você nem para os outros, então vai buscar um caminho para encurtar os processos burocráticos e agilizar as soluções.
Agência Aids: Assim como aconteceu com você, alguns ativistas estão indo trabalhar para o governo. Outros, por diferentes motivos, estão abandonando a causa. Os integrantes da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids é que substituirão esses militantes?
Eduardo: Os jovens estão se somando aos adultos, e não vindo para substituí-los. Existem problemas na comunicação entre os grupos e segmentos de ativistas, mas, cada um está buscando a melhor forma de atuar dentro do seu espaço. Para mim, os jovens adultos têm muitos problemas de ego e de busca por pequenos poderes. Mas a maioria dos ativistas está realmente preocupada com a causa.
Agência Aids: Qual o maior desafio do movimento social atualmente?
Eduardo: Conseguir sustentabilidade. Se as pessoas se mobilizam e percebem determinada necessidade, toda a sociedade tem que contribuir para atender essa demanda, não só o governo. Em relação ao financiamento governamental, uma das dificuldades é que a legislação brasileira dificulta o repasse de recursos, pois quase equipara organizações sociais de fim lucrativo com as de cunho totalmente voluntário. Essa relação é muito desigual. Estamos buscando junto ao governo federal outras formas de financiamento para as ONGs.
Fábio Serrato
DICA DE ENTREVISTA:
Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais
Assessoria de Imprensa
Tels.: (61) 3306 7051 / 7024 / 7010 / 7016
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