Problema de saúde pública
JORNAL DE BRASILIA
07/07/2010
Carlos Carone e Francisco Dutra
Mais do que um dilema moral, a prática ilegal do aborto também é um grave problema de saúde pública. Números do Ministério da Saúde revelam que a cada hora 21 mulheres buscaram o Sistema Único de Saúde (SUS) para realizar procedimentos médicos pós-aborto, a chamada curetagem, ao longo do ano passado, em todo Brasil. Tantos atendimentos resultaram num gasto aos cofres públicos de R$ 37,2 milhões. Com essa quantia o Governo Federal poderia, por exemplo, investir na construção de 1,2 mil moradias, considerando que uma casa popular custa R$ 30 mil.
E a conta fica ainda mais "amarga" aos cofres públicos observando os gastos dos últimos sete anos. Entre 2008 e 2009, foram registrados os maiores gastos com a realização de procedimentos médicos pós-aborto. Somados, os valores chegam à R$ 75,5 milhões. Desde 2003, os valores vêm aumentando gradativamente. Para se ter uma ideia, os números relacionados às curetagens custaram aos cofres públicos R$ 28,9 milhões, passando no ano seguinte a R$ 35 milhões.
Apesar do aumento dos gastos, nos últimos cinco anos, o ministério informou que houve um aumento sistemático na distribuição de métodos CONTRACEPTIVOS reversíveis, como ANTICONCEPCIONAIS, camisinhas e Dispositivo Intra Uterino (DIU). Essa dinâmica resultou em queda no número de procedimentos pós-aborto realizados na rede pública do País. Em 2004 foram realizadas 241 mil curetagens, contra 183 mil no ano passado. Trata-se de uma queda de 24%.
VENDA
Segundo o ministério, apesar de os números englobarem também os abortos espontâneos, estima-se que a maioria deles tenha sido provocado. Em grande parte dos abortos induzidos ilegalmente, as mulheres utilizam medicamentos abortivos ilegais, como o Cytotec. O Jornal de Brasília, na edição da última segunda-feira, revelou um esquema criminoso que fatura com a venda do medicamento em plena Feira dos Importados, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). A reportagem mostrou que o remédio é vendido sem preocupação com a fiscalização da polícia ou da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Um fardo secreto
Os nomes nas linhas a seguir são fictícios, mas o drama é real. Silvia se surpreendeu ao abrir a mensagem de celular da irmã Fátima. O texto dizia: "Tá vendo o que você fez comigo! Agora eu fiz!". Ainda confusa, Silvia ligou para a irmã para tirar satisfação. Entre uma explicação e soluços de choro ela descobriu que a mensagem não era para ela e sim para o ex-namorado da irmã. Sem o apoio do companheiro, Fátima realizou um aborto ilegal.
Ao encontrar a irmã, Silvia ficou ainda mais chocada ao saber do drama que ela passou para não ter a criança. "Ela fez junto com uma amiga. Mas sangrou muito. Não parava de sangrar. Passou muito mal mesmo. Só melhorou porque foi até um hospital para fazer a curetagem", conta Silvia. Após terminar o procedimento para conter o sangramento, Fátima ainda passou várias horas internada sob a supervisão de médicos.
Fátima decidiu arriscar um aborto quando percebeu que não teria o apoio do namorado na criação da criança. O namoro tinha diversas idas e vindas, repletas de brigas e demais desconfortos. Hoje, Fátima segue a vida normalmente. O episódio do aborto ilegal tornou-se um fardo secreto, que precisará ser carregado por ela, Silvia e a amiga que acompanhou tudo.
Risco para nova gravidez
Quando uma mulher realiza um aborto, as consequências são imprevisíveis. Uma série de complicações podem ocorrer, desde leves dores até sangramentos intensos. Quando as mulheres procuram por ajuda, os médicos que costumam atender às pacientes precisam realizar um procedimento chamado curetagem. A intervenção cirúrgica é feita para diagnosticar e tratar sangramentos uterinos anormais, crescimento uterino e anormalidades dos tecidos uterinos. Na maioria das vezes é necessário fazer uma curetagem para remover restos de tecidos após os abortos provocados.
Com a curetagem, em razão da anestesia, a paciente poderá sentir-se tonta depois do procedimento. As mulheres que fazem o aborto e passam pelo procedimento podem sentir cólicas fracas e algum sangramento por vários dias até duas semanas depois da curetagem. O procedimento começou a ser usado depois que muitas mulheres fizeram abortos e o feto não foi expelido totalmente. Com isso, infecções atacavam o organismo e podiam levar até a morte. A intervenção é tão traumática que pode inviabilizar uma nova gravidez.
SAIBA +
De acordo com informações feitas por meio de um levantamento por psicólogos do SUS, mulheres que realizam abortos sofrem uma série de problemas psíquicos após a prática do crime.
As mulheres que abortam, de acordo com os registros médicos, sofrem sintomas que incluem perturbações mentais, tentativas de suicídio, crises histéricas, perda de autoconfiança e de auto-estima.
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