22/07/2010
HÉLCIO CORRÊA GOMES
De acordo com o IBGE, o Brasil apresenta (2010) uma população estimada de 192.304.735 habitantes. Deste total 51,3% são de mulheres. Na faixa etária reprodutiva, agasalhando até as que têm 60 anos, têm-se no estimado no entorno de 13% da referida comunidade. O que significa alto índice de mulheres com vida sexual ativa e reprodutiva.
Contudo, não se tem aqui qualquer política de governo com caráter social ou pedagógica sexual geral eficiente e na proteção dos concidadãos - notoriamente das adolescentes. Nada alerta com segurança as famílias (orientando-as) com competência e por via da política liberal laica ou da persuasão racional e realista direta. No sexo o governo insiste com marketing envelhecido permeado de tabus religiosos - algo pecaminoso e tolerado.
É fato que explicação direta para população para se obter sexo seguro vai causar frisson (arrepio fingido) nas instituições puritanas e correlatas - injustificável. Entrementes, não se pode mais deixar de centrar a discussão sexual na proteção da maternidade. Não se pode deixar de abordar os perigos das doenças sexualmente transmissíveis e até letais.
Tais assuntos precisam se despir do dogma religioso arcaico - tal qual como quer fazer o Ministério da Saúde, mas que apesar do todo esforço, titubeia na maior parte com marketing subliminar. Tudo porque a situação dúbia (sexo e impulso, na hora se dá um jeito ou celibato impossível) significa apenas caricatura distorcida ou exposição ao perigo concreto. E que atinge desnecessariamente à saúde individual e coletiva nacional.
O dado nacional disponível (2010) das curetagens (procedimento de raspagem do útero) - após aborto, demonstra a verdade do erro brasileiro cometido na política de orientação sexual geral. Somente no SUS entre 1995/2007, segundo o Instituto do Coração da Universidade de São Paulo, tal cirurgia foi cabeça de chave das intervenções médicas. De 32 milhões de procedimentos cirúrgicos neste período, 3,1 milhões são de curetagens (registros do Ministério da Saúde). Mexa-se no que quiser mexer e analise como quiser, a finalização é mais terrível para as mulheres. E aqui deve centrar a maior atenção pública nacional.
Não se pode deduzir que todas as curetagens resultam dos abortos provocados. Nem que resultam em grande parte dos abortos espontâneos, mas segundo os médicos do SUS (consultados), as curetagens são praticamente dos abortos provocados. O médico Thomaz Gollop, por exemplo, em entrevista ao Jornal Estado de São Paulo, coordenador do grupo de estudos sobre o aborto da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, diz que "a maior parte dos abortamentos espontâneos não exige internação. E que as complicações e curetagens são absolutamente resultantes dos abortos provocados". Não há como esconder mais o sol com uma puída peneira moral.
O país merece fomento de outro sistema de planejamento familiar e bem mais eficaz - humanizado. E notória melhoria no direito sexual de prazer seguro e reprodutivo. Doravante, cause o frisson que causar, deve-se tratar laicamente o assunto da saúde sexual. Do contrário continuaremos na envelhecida discussão infrutífera entre um feminismo tardio e a Igreja Católica sobre os abortos. E que já resulta pelos extremismos nos milhões de abortos (desnecessários).
É preciso interromper as mentalidades de avestruzes. E proteger de modo mais corajoso a maternidade e a boa saúde sexual individual e coletiva no Brasil. É preciso ter maior praticidade nas políticas públicas - ideal laico a ser perseguido com maior seriedade - incansavelmente.
HÉLCIO CORRÊA GOMES é advogado e diretor tesoureiro da Associação dos Advogados Trabalhista de Mato Grosso (Aatramat).
Cortesia: Clipping Bem Fam(22/07/010)
Nenhum comentário:
Postar um comentário