Conferência Internacional de Aids: Sem dinheiro, avanços na prevenção e no tratamento apresentados em Viena serão inúteis, dizem participantes da mesa de encerramento
26/07/2010
“Dizem que o mundo está em crise econômica, mas não é verdade. O que falta é colocar a aids como prioridade mundial. Quando há emergência em Wall Street (Rua onde estão as bolsas de valores de Nova York), bilhares e bilhares de dólares aparecem de repente”, criticou o coordenador geral da XVIII Conferência Internacional de Aids, Julio Montaner.
Para ele, “a saúde da população merece mais responsabilidade financeira que as crises econômicas.”
A coordenadora local da Conferência, Brigitte Schmied, afirmou que as reuniões em Viena provaram que é possível expandir o tratamento e a prevenção para todos aqueles que precisam. “Apesar de muitos obstáculos no nosso caminho, deixamos este encontro com energias renovadas”, disse.
De acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e Aids (Unaids), 5.2 milhões de pessoas estão em tratamento com antirretrovirais no mundo. O número de pacientes que recebem os vitais medicamentos é 20 vezes maior hoje que em 2003, por exemplo. Mas o número total de pessoas que precisam de medicamentos é estimado em 10 milhões.
Michel Sidibé, Diretor Executivo do Unaids, citou como alvo, durante todos seus discursos na Conferência, o plano Tratamento 2.0, cujo objetivo é expandir o teste de HIV e o tratamento da aids até 2025, evitando 10 milhões de mortes.
Representando as pessoas vivendo com HIV na mesa de encerramento, a argentina Patrícia Pérez defendeu a campanha mundial “Mais paz, menos aids”. “Precisamos de paz para evitar a violência doméstica, o estigma e a discriminação nas nossas comunidades, precisamos de paz em nossos países para que os fundos sejam para questões sociais e não para guerras”, comentou.
Cortesia Clipping Bem Fam(26/07/010)
Patrícia defendeu que até a próxima Conferência Internacional de Aids, em Washington-DC nos Estados Unidos em 2012, as mulheres homossexuais, imigrantes, índias, usuárias de droga, trabalhadoras do sexo, presas, crianças ou jovens estejam mais incluídas nas atividades e nas tomadas de decisões de combate da pandemia. “Nada será feito para a gente, sem a nossa participação”, afirmou.
A Conferência Internacional de Aids volta aos Estados Unidos depois de 20 anos. O país deixou de concorrer pela sede do evento porque passou a proibir a entrada de estrangeiros portadores do HIV, regra mudada pelo Presidente Barack Obama.
Novidades científicas
A norte-americana Diane Havlir é uma das coordenadoras científicas da Conferência em Viena. Em entrevista à Agência de Notícias da Aids, ela disse que o estudo do gel vaginal, feito à base do antirretroviral tenofovir e que mostrou eficácia de até 54%, merece destaque especial porque é o maior êxito sobre possíveis estratégias para uma revolução da prevenção entre as mulheres. (Leia aqui)
“Na última conferência (México, em 2008), a circuncisão foi muito falada, pois ficou provada que pode prevenir os homens em até 60%, mas o microbicida traz agora esperança às mulheres, que em muitos casos não conseguem exigir dos seus parceiros o uso do preservativo”, comentou.
Diane disse que viu também novas descobertas na área de ciência básica sobre o funcionamento do HIV no organismo humano. “Cada pequeno passo que completamos sobre como age o vírus da aids dentro da célula será importante para pensarmos em outras possibilidades de tratamento, vacina e até mesmo a cura da doença”, disse.
Ela observou ainda estudos que comprovam a importância da distribuição de seringas descartáveis para prevenir o vírus entre usuários de drogas e pesquisas que mostraram as melhores combinações medicamentosas para o tratamento de soropositivos com tuberculose.
Brasileiros na conferência somam 303
De acordo com a organização do evento, 19.300 pessoas de 197 países participaram da Conferência em Viena. Quase 1300 foram jornalistas e outros profissionais da comunicação.
Aproximadamente 1200 participantes vieram da Europa do Leste e da Ásia Central, regiões que receberam atenção especial no encontro por serem as únicas do mundo onde a proporção de casos novos do HIV ainda cresce.
Os brasileiros no evento somaram 303. Na última Conferência Internacional de Aids, no México, foram 405.
A suíça foi o país numericamente mais representado com 3360 participantes. Os Estados Unidos tiveram 2832, seguidos pelo Canadá com 1037 e Áustria com 845.
Durante toda a programação do evento, ocorreram mais de 400 debates e apresentações orais.
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