Colegas
Como sabem o ativismo é aquela coisa que gruda na pele,na alma e não sai mais...onde quer que estejamos olharemos o mundo com estes olhos compromissados.O duro é que somos poucos para muitas pautas.
Sempre militei por direitos humanos em diferentes áreas (aids,diversidade,mulheres,crianças,jovens etc).Neste momento estou mergulhada na questão da saúde das mulheres e das crianças.
A maioria me conhece pelo movimento de aids,mas também trabalho na Universidade de São Paulo e sou docente de um curso que neste ano enfrentou vários problemas (até postei uma msg aqui na lista).
O curso de obstetrícia forma parteiras/parteiros profissionais para trabalhar na área da Saúde da Mulher (em especial planejamento reprodutivo,pre natal,parto,puerpério e assistência ao recém nascido).
Há uma lei do exercício profissional da enfermagem que regula o exercício profissional de obstetrizes (art. 6. diz são enfermeiros e inciso II portadores do diploma de obstetrícia).Contudo o sistema COREN/COFEN criou várias resistências ao registro (houve uma tentativa de acordo que parecia bem sucedida com o regional,mas o federal disse quem legislava sobre a questão era o nacional e não o regional).Enfim, uma grande pendência que reverberou em muitas dificuldades para nós e o quase fechamento do curso.
Entretanto, fomos (professoras,alunos,movimentos pela humanização do parto) resistentes e conseguimos manter o curso !E nesta semana o MPF recomendou que o COFEN registre as/os obstetrizes.(Vejam matéria em anexo).Há uma ilegalidade no não registro .
O trânsito jurídico um dia vai se resolver (porque temos um curso reconhecido pelo Conselho de Educação e com lei que ampara o exercício profissional)mas também precisamos caminhar na divulgação da profissão, na construção do apoio da sociedade e na inclusão destes profissionais no SUS.
No momento o curso da USP é o unico no país,mas esperamos que ao longo do tempo esta graduação (curso universitário) se expanda pelo país(teremos então pessoas que escolhem fazer faculdade de medicina,de enfermagem ou de obstetrícia sendo que médicos e enfermeiros continuam podendo escolher se especializar nessa área )
Trata-se de formar profissionais de saúde (curso de 4 anos e meio com três eixos-biológicas,assistência a saúde e ciencias humanas e sociais) que ao lado de outros profissionais possam compor equipes para um atendimento competente e humanizado.
O número de Maio de 2011 da Revista Lancet, uma das mais prestigiadas revistas internacionais do campo da saúde, trata especificamente da saúde no Brasil e no artigo intitulado Saúde de mães e crianças no Brasil: progressos e desafios apresenta os dados alarmantes sobre os partos e nascimentos:
Cerca de 3 milhões de nascimentos ocorreram no Brasil em 2007 – 89% dos partos foram realizados por médicos e 8%, por enfermeiras obstétricas (especialmente nas Regiões Norte e Nordeste).Quase metade (47%) desses partos ocorreu por operações cesarianas – essas cirurgias representaram 35% dos nascimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS; sob o qual ocorrem três quartos de todos os nascimentos do país) e 80% dos partos pelo setor privado. Quarenta e oito por cento das primíparas deram à luz em uma cesariana, o que é muito mais elevado que o limite máximo de 15% recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e superior às cifras registradas em qualquer outro país. Quase metade (46%) de todas as cesarianas foi agendada com antecedência, de acordo com as mães entrevistadas na Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde de 2006.
Além disto pesquisa da FundaçãoPerseu Abramo aponta o fato de que de cada 4 mulheres uma sofre violência institucional no parto. Não dá para recusar no país a presença de uma/um profissional que tem sido amplamente valorizada no cenário internacional (pelo efeito positivo que sua presença tem promovido-vejam abaixo informe da UNFPA a este respeito).E parteiras são muito antigas, a única novidade é uma formação universitária(e tb é bom deixar nítido que médicos,enfermeiras e parteiras tradicionais tem o nosso respeito)
Escrevo para apresentar esta pauta e deixar o movimento informado e quando este assunto aparecer em algum debate vocês saberem o quão importante isto é para o país,em especial para a saúde das mulheres,crianças,homens (seus familiares e comunidade -pq estes profissionais podem se inserir em UBS).
Agradeço a atenção
abs
Bete Franco
Obstetrícia adequada poderia salvar 3,6 milhões de vidas, mostra novo relatório
Ter, 21 de Junho de 2011 13:51 |
38 de 58 países poderiam atingir a ODM5 com mais 112 mil parteiras
GENEBRA / DURBAN - Até 3,6 milhões de mortes poderiam ser evitadas a cada ano em 58 países em desenvolvimento se os serviços de obstetrícia fossem ampliados até 2015, segundo um importante relatório divulgado pelo UNFPA, o Fundo de População das Nações Unidas, e parceiros.
O Relatório Situação Mundial das Parteiras e Parteiros Profissionais 2011, lançado no Congresso Trienal da Confederação Internacional de Parteiras Profissionais (ICM) que acontece em Durban, África do Sul, revela novos dados confirmando que há uma diferença significativa entre o número de parteiras em atividade e o número de profissionais necessárias para salvar vidas.
"Para assegurar que cada mulher e seu recém-nascido tenham acesso a serviços de obstetrícia de qualidade, é preciso que tomemos medidas ousadas que complementem o que temos alcançado em todas as comunidades, países e regiões de todo o mundo", disse Ban Ki-moon, Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, em seu prefácio ao relatório.
A cada ano, 358.000 mulheres morrem durante a gravidez ou o parto, cerca de dois milhões de recém-nascidos morrem nas primeiras 24 horas de vida e são registrados 2,6 milhões natimortos, tudo em razão de cuidados de saúde inadequados ou insuficientes.
"O relatório aponta para uma necessidade urgente de formar mais profissionais de saúde com competências em obstetrícia e assegurar o acesso equitativo aos serviços nas comunidades, a fim de melhorar a saúde das mulheres e crianças", disse Dr. Babatunde Osotimehin, Diretor Executivo do UNFPA.
O Relatório Situação Mundial das Parteiras e Parteiros Profissionais 2011 revela que, a menos que 112 mil novas parteiras sejam capacitadas e colocadas em postos de trabalho, 38 dos 58 países pesquisados não conseguirão alcançar a meta de 95% de partos realizados e atendidos por pessoas qualificadas, como exige o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM) 5, relativo à saúde materna. Em escala mundial, o déficit de parteiras é de 350 mil profissionais.
Além disso, se instalações médicas adequadas estivessem acessíveis para lidar com complicações no seu início, muitas mortes poderiam ser evitadas - 61% ou cerca de dois terços de todas as mortes maternas, 49% ou quase metade de natimortos, e 60% ou 3 em cada 5 mortes neonatais. O relatório acrescenta que, se as parteiras estivessem no lugar certo para os serviços para que pudessem auxiliar com atendimento especializado nas complicações mais graves, até 90% das mortes maternas poderiam ser evitadas.
O Relatório Situação Mundial das Parteiras e Parteiros Profissionais 2011, coordenado pelo UNFPA, é o resultado da colaboração entre 30 parceiros, cujo objetivo coletivo é fortalecer as práticas obstétricas para prevenir as mortes maternas, sequelas do parto e melhorar a saúde dos recém-nascidos, famílias e comunidades inteiras. O relatório pesquisou 58 países que, juntos, representam quase 60% de todos os nascimentos mundiais, mas 91% de todas as mortes maternas. Entre os 38 países que necessitam mais urgentemente agregar parteiras até 2015, 22 precisam duplicar a força de trabalho; sete precisam triplicar ou quadruplicar; e nove (Camarões, Chade, Etiópia, Guiné, Haiti, Nigéria, Serra Leoa, Somália e Sudão) necessitam intensificar significativamente a oferta de parteiras profissionais, multiplicando o número de trabalhadoras entre 6 e 15 vezes.
"Este relatório identifica claramente a necessidade de criar uma autoridade competente e ativa de parteiras e parteiros profissionais, que trabalhe como componente de um sistema de saúde eficaz. Além disso, novos padrões globais da ICM para o ensino de obstetrícia e regulamentação ajudarão governos e formuladores de políticas a colocar em prática as recomendações do relatório ", disse Bridget Lynch, presidente da Confederação Internacional de Parteiras Profissionais.
A maioria das mortes ou sequelas decorrentes do parto ocorrem em países de baixa renda e acontecem porque as mulheres - geralmente pobres e marginalizadas - não têm acesso à instalações de saúde eficazes ou à profissionais de saúde qualificados, principalmente aqueles com habilidades obstétricas.
O aumento do acesso das mulheres à serviços obstétricos de qualidade tornou-se um foco de esforços globais para alcançar o direito de toda mulher a melhores cuidados de saúde durante a gravidez e o parto. É também o ponto central de três Objetivos de Desenvolvimento do Milênio - reduzir a mortalidade infantil (ODM 4), melhorar a saúde materna (ODM 5) e combater a Aids, a malária e outras doenças (ODM 6).
Além de número insuficiente de parteiras, o relatório revela que a cobertura no interior dos países é desigual, assim como sua qualidade. Há uma escassez de instituições de formação e oportunidades de emprego para parteiras. Além disso, as regulamentações são deficientes, as associações profissionais são fracas, o ambiente político é desfavorável e a omissão dos serviços de obstetrícia no cálculo do custo dos planos de recursos humanos para a saúde materna e neonatal são grandes desafios.
O relatório faz uma série de recomendações aos governos, órgãos reguladores, instituições educacionais, associações profissionais e organizações internacionais que ajudariam a solucionar estes problemas e reforçar o status da obstetrícia nos 58 países pesquisados.
"A boa notícia é que, quando as mulheres estão ao alcance de uma parteira ou parteiro apoiados por um sistema de saúde eficaz, não só se reduz nitidamente a possibilidade de morte devido a complicações do parto, como também as e os profissionais obstétricos passam a ser o vínculo de importância para o bem-estar do bebê e de atenção à saúde de toda a família”, disse Lennie Kamwendo, presidente da White Ribbon Alliance for Safe Motherhood – Malawi Board of Trustees. “É preciso assegurar prioridade a investimentos em parteiras e parteiros profissionais para oferecer o cuidado de salvar vidas em comunidades onde muitas vidas de mães são perdidas desnecessariamente”. Mais informações:
Acesse o site
www.stateoftheworldsmidwifery.org, onde está disponível o relatório completo.
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