Secretaria de Saúde de Goiás vai fechar casa de apoio a portadores do HIV e terceirizar o serviço em ONG.
Goiás possui quatro casas de apoio a portadores do vírus HIV/aids e de DST’s (doenças sexualmente transmissíveis), fora grupos e organizações que prestam assistência jurídica e psicológica. Das casas de abrigo, duas delas localizam-se na grande Goiânia: o Condomínio Solidariedade, fundado há quase 30 anos, e o Centro de Apoio ao Doente de Aids (Cada), que tem 18 anos.
O Condomínio Solidariedade foi criado em meados da década de 1980 quando surgiram os primeiros casos de aids em Goiás. À época, as principais formas de transmissão da doença eram por relação homossexual, transfusão de sangue e uso de drogas injetáveis. Ao longo da década de 1990, o número de portadores do vírus foi crescendo, porém em relacionamentos heterossexuais e com a mulher passando a ter participação expressiva no índice. A demanda diminuiu no final da década.
Hoje, a história da aids vem sendo alterada pela terapia anti-retroviral, que retarda a evolução da infecção, aumentando o tempo e a qualidade de vida do portador. Aliado à ciência, governos têm instigado o uso do preservativo em propagandas na televisão e distribuindo-o em postos de saúde.
De acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde, 9.248 casos de aids foram notificados em Goiás desde 1984 (primeiro acontecimento) até o ano de 2009, sendo que o índice tem diminuído. Dados da Secretaria Estadual de Saúde revelam que o Condomínio Solidariedade atende cerca de 10 pessoas por mês, vindas do interior em intervalos regulares para fazer consultas e exames no Hospital de Doenças Tropicais (HDT), em Goiânia. A estrutura do condomínio conta com 72 profissionais, entre psicólogos e nutricionistas.
O Cada, por sua vez, apesar de possuir 17 leitos, atende aproximadamente 30 pacientes por mês com quatro profissionais, número suficiente, segundo a direção da casa, para receber demanda maior de portadores.
Diante da ociosidade dos órgãos (e respaldado pelo Ministério da Saúde que entende que não é papel do Estado manter abrigos para portadores de HIV), a secretaria estuda desativar o Condomínio Solidariedade, levando os pacientes de lá para o Cada. A casa de apoio ganharia mais cinco leitos e três funcionários pagos pelo Estado.
O secretário de Saúde, Antônio Faleiros, afirma que a decisão não foi tomada, mas que acredita que ela é a melhor opção. Ele alega que o Cada é bem localizado (fica perto do HDT) e tem estrutura física melhor que a do condomínio. “A Casa de Apoio é melhor, fica a menos de cinco minutos do HDT. Imagina se eu, indo a São Paulo fazer tratamento, vou querer ficar longe do hospital, ter problema com transporte. Outro fator é que o Cada é ocioso, tem condição de atender mais pacientes.”
De acordo com Faleiros, o Estado não imporá aos portadores a saída. Os doentes serão convidados pela secretaria para uma conversa, em que prevalecerá a decisão da maioria. Se a maior parte aceitar, serão todos transferidos para o Cada e o condomínio desativado. Do contrário, o Estado procurará uma organização não governamental (ONG) que tenha o interesse em assumir a casa de abrigo.
O secretário desmente que é intenção do governo criar o Centro de Recuperação de Dependentes Químicos (Credeq), promessa de campanha do governador Marconi Perillo (PSDB), no espaço onde hoje é Condomínio Solidariedade. “Nunca se pensou nisso.”
A possível mudança gerou polêmica entre os portadores de aids. Alguns fizeram manifestações na porta do Condomínio Solidariedade e na Assembleia Legislativa. Para Faleiros, é a questão sentimental que faz com que eles reajam assim. O secretário cita os portadores de hanseníase que não quiseram deixar a Colônia Santa Marta quando foi transformada no Hospital de Dermatologia Sanitária. “Mesmo esvaziada abriga gente.”
Cada
A Casa de Apoio ao Doente de Aids (Cada) já chegou a receber cerca de 80 portadores de HIV por mês na época em que o vírus acometia maior número de goianos. Hoje, depois de os casos terem diminuídos consideravelmente, a casa recebe de 30 a 35 pacientes mensalmente. Pesa o fato de as consultas serem marcadas com maior espaço de tempo. Os médicos costumam passar receitas de dois em dois meses. Por conta disso, o Cada afirma que tem condição de receber os pacientes atendidos pelo condomínio.
Segundo o coordenador-geral da Casa de Apoio, Brasílio Rezende, conhecido como Tocha, há condição e estrutura. “Estamos preparados. Nossa estrutura física é grande, temos 17 leitos e ganharemos mais 5. Faremos aqui com 5 profissionais o que eles fazem lá com 50”, garante. A casa, que é mantida com verba de R$ 3,4 mil do governo federal mais R$ 1,2 mil de trabalho com material reciclável, venda de camisas bordadas e doações de alimentos feitas pela população, tem os mesmos especialistas que o Condomínio Solidariedade.
Portadores do vírus HIV não querem deixar condomínio
Sob o sol quente do meio-dia de quinta-feira, 2, portadores do vírus HIV protestavam contra a desativação do Condomínio Solidariedade na entrada do abrigo. Exaltados, diziam que o Estado não tinha o direito de tirá-los dali. Questionados sobre o por que da reação, a resposta foi unânime: “O Cada não cabe, é uma casa simples e pequena.”
Regina Célia, 59 anos, portadora do vírus há 15, sugere que o Cada vá para o condomínio. Segundo ela, há estrutura para receber os pacientes da Casa de Apoio. Outro portador, que não quis se identificar, disse que já morou quatro anos lá e que não gostaria de perder os cursos, o trabalho manual e o acesso a psicólogos e nutricionistas. “Não queremos ficar sem esses benefícios.”
Maria de Lourdes Souza, 48, portadora do vírus há 20 anos, diz que está proibida de entrar no condomínio. “Estão barrando a gente desde que começaram a falar nessa mudança. Sou cadeirante e venho de ônibus. Tenho medo de perder as cestas que recebo.”
Núbia Clemente Flores tem 34 anos; contraiu o vírus aos 24. Segundo ela, a Secretaria de Saúde se reuniu com a direção do abrigo na segunda-feira, 30, a portas fechadas e nada os informou. “Ele [Antônio Faleiros] diz que vai conversar conosco, mas esse dia nunca chega.” Ainda segundo Núbia, o Condomínio Solidariedade cortou o combustível das ambulâncias e a alimentação. Ela também reclama que organizações não governamentais (ONGs) querem fechar o abrigo há anos.
Fonte:http://www.jornalopcao.
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