Novas Ferramentas de Prevenção
O que são elas? Qual a Sua Relevância para as Pessoas Vivendo com HIV (VIH)?
Informações Básicas: Novas Tecnologias de Prevenção (NTPs) em contexto
Para garantir uma abordagem compreensiva para lidar com o HIV, a comunidade internacional está reivindicando investimentos constantes e um empenho maior para o acesso universal à prevenção, aos cuidados, ao tratamento e ao apoio, inclusive um maior acesso aos meios existentes comprovados de prevenção da transmissão do HIV. Ao mesmo tempo, o mundo precisa de novas ferramentas e tecnologias de prevenção que funcionem com os métodos de prevenção existentes, complementando-os.
Há vários esforços globais no momento para desenvolver novas tecnologias de prevenção do HIV. Atualmente, estão sendo realizadas pesquisas sobre microbicidas vaginais e retais, vacinas, profilaxia pré-exposição (PrEP) e a utilização do tratamento para o HIV como prevenção.
A pesquisa sobre NTPs é um processo prolongado, que leva 12 anos ou mais para passar do laboratório e da testagem em animais para os estudos de segurança e eficácia e, então, passar pela aprovação regulamentar e pelos estudos pós-marketing.
Este kit de ferramentas traz uma breve definição de cada uma das ferramentas de prevenção potenciais sendo pesquisadas, faz uma descrição geral da situação atual das pesquisas e discute sua relevância para as pessoas vivendo com HIV1. Ele, então, faz um resumo das pesquisas sobre tecnologias de prevenção que fracassaram — diafragmas e barreiras cervicais e o tratamento para o vírus herpes simples (HSV-2). Finalmente, o kit de ferramentas apresenta uma visão geral das tecnologias de prevenção que atualmente temos à nossa disposição — preservativos femininos e masculinos, a circuncisão masculina médica, a profilaxia pós-exposição e a prevenção da transmissão vertical (às vezes chamada de transmissão de mãe para filho ou TMPF) — e faz um resumo das recentes constatações sobre estas tecnologias.
Ferramentas de prevenção potenciais
Microbicidas
Os microbicidas são substâncias que poderiam ser aplicadas na vagina ou no ânus para prevenir a transmissão sexual do HIV. Os microbicidas podem estar em forma de gel, espuma, creme ou película ou podem estar contidos num anel vaginal, que libera o ingrediente ativo gradualmente, ou em um enema ou ducha anal.
Vários microbicidas vaginais foram testados em ensaios clínicos. Seis microbicidas vaginais candidatos — nonoxynol-9, Savvy, sulfato de celulose, Carraguard, BufferGel e PRO 2000 — foram testados em ensaios de fase avançada e mostraram ser ineficazes na prevenção do HIV.
Uma série de candidatos da próxima geração, baseados em medicamentos anti-retrovirais (ARV), estão em fases mais iniciais de ensaios clínicos. Os resultados do estudo sobre o gel vaginal tenofovir Fase IIB são esperados para 2010.
A pesquisa sobre microbicidas anais está vários anos atrás da pesquisa sobre microbicidas vaginais. Em meados de 2008, o primeiro ensaio sobre a segurança dos microbicidas anais foi concluído. Outro ensaio, que testa o tenofovir, começou no final de 2009, e mais dois ensaios sobre a segurança anal estavam em estágio de planejamento no início de 2010.
Os microbicidas não são apenas para as pessoas HIV negativas. Muitas pessoas HIV positivas também os querem. Um microbicida poderia reduzir o risco de uma pessoa HIV positiva se infectar com outras cepas do HIV. Alguns produtos também podem reduzir o risco de contração de outras infecções sexualmente transmissíveis ou infecções fúngicas (também chamadas infecções vaginais) Para pessoas com um sistema imunológico comprometido, isto poderia ser uma importante vantagem. Também é possível que um microbicida não-contraceptivo possa ajudar uma mulher HIV positiva a engravidar com pouco risco de colocar o seu parceiro HIV negativo em perigo.
Os microbicidas baseados em ARV provavelmente são mais potentes contra o HIV e podem durar mais que os microbicidas não baseados em ARVs. Porém, eles também poderiam ter mais efeitos colaterais, como a resistência aos medicamentos, se usados acidentalmente por alguém que já é HIV positivo. Por este motivo, os usuários terão de consultar um provedor de cuidados de saúde e fazer um teste de HIV antes de receberem estes produtos. Os produtos poderão ser obtidos somente com receita médica. Os microbicidas baseados em ARVs não são apropriados para serem usados por pessoas HIV positivas. Portanto, devem ser buscados microbicidas não-baseados em ARVs a fim de garantir uma nova alternativa de prevenção segura para as pessoas vivendo com HIV.
Profilaxia Pré-Exposição
A Profilaxia Pré-Exposição ou “PrEP” trata-se de uma estratégia de prevenção do HIV experimental que usaria os ARVs para reduzir o risco de infecção pelo HIV entre as pessoas HIV negativas. Nas estratégias atualmente sendo testadas, as pessoas HIV negativas tomariam uma dose diária de um só medicamento ou uma combinação de medicamentos. A PrEP pode ser comparada às pílulas anticoncepcionais (contraceptivas): assim como a pílula anticoncepcional é tomada uma vez ao dia para evitar a gravidez, a PrEP poderia ser tomada uma vez ao dia para evitar a infecção pelo HIV em caso de exposição.
A PrEP não é recomendada para a prevenção do HIV no momento, porque não sabemos ainda se ela realmente funciona para preveni-lo. Pesquisas estão sendo realizadas para ver se ela funciona ou não.
Os ensaios de PrEP atuais estão testando o tenofovir (Viread) ou o Truvada™ (tenofovir com emtricitabina), dois medicamentos anti-retrovirais atualmente utilizados como tratamento para a infecção pelo HIV. Há cinco estudos de grande escala em andamento testando a eficácia da PrEP. Estes estudos envolvem entre 1.200 e 5.000 pessoas. Os resultados destes ensaios estarão disponíveis entre 2010 e 2012. Um dos estudos sendo realizados é um estudo expandido sobre segurança, envolvendo 400 homens que fazem sexo com homens (HSH). Este estudo está investigando os efeitos colaterais, a adesão e o impacto da PrEP nos comportamentos de risco. Outro estudo sendo planejado envolverá 150 participantes e avaliará a viabilidade da PrEP tomada duas vezes por semana e antes das relações sexuais, ao invés de diariamente.
As pessoas vivendo com HIV estão envolvidas como participantes de um ensaio de grande escala sobre a eficácia da PrEP. O ensaio Partners PrEP, sendo realizado em Uganda e no Quênia, está inscrevendo 3.900 casais heterossexuais em relacionamentos sorodiscordantes. O ensaio testará a PrEP (tenofovir ou Truvada) para ver se ela evita que o parceiro HIV negativo se infecte. Os casais recrutados incluem um parceiro HIV positivo que não se qualifica ainda para tratamento, embora receba cuidados contínuos para o HIV.
Há casais sorodiscordantes participando também de um pequeno estudo que está examinando a dosagem de PrEP alternativa acima mencionada.
O teste de HIV precisará ser uma das condições para acessar a PrEP, pois apenas as pessoas que sabem que são HIV negativas podem usá-la de forma segura. Se você for HIV positivo e usá-la, provavelmente desenvolverá um vírus resistente aos medicamentos, o qual poderá ser transmitido a outras pessoas. Se você tiver um vírus resistente aos medicamentos, também poderá ser mais difícil tratar a sua infecção pelo HIV.
Vacinas
Uma vacina é uma substância que ensina o organismo a reconhecer e a se defender contra bactérias e vírus que causam doenças. A vacina causa uma resposta do sistema imunológico — o sistema de defesa do organismo — preparando-o para combater e também para se lembrar de como combater, caso se exponha a uma infecção específica. A vacina não é o mesmo que cura, mas previne a infecção ou retarda a progressão da doença.
Embora as vacinas preventivas tenham sido criadas para pessoas HIV negativas, acredita-se que elas possam ter um efeito terapêutico, se a pessoa vacinada acabar tornando-se HIV positiva. Uma vez que as vacinas apenas reduzem o risco de infecção — sem eliminá-lo — uma pessoa vacinada ainda pode tornar-se HIV positiva. Espera-se que a vacina que a pessoa recebeu quando ainda era HIV negativa possa ajudá-la quando ela se tornar HIV positiva, mantendo uma carga viral mais baixa e um sistema imunológico que funcione melhor do que se ela não tivesse sido vacinada. A vacina preventiva tomada enquanto a pessoa era HIV negativa poderia, assim, ter um efeito terapêutico quando ela se tornasse HIV positiva.
Há vacinas terapêuticas também estão sendo testadas, cujo objetivo é estimular a resposta imunológica do organismo ao HIV, a fim de melhor controlar a infecção entre as pessoas que já são HIV positivas.
No momento, não há nenhuma vacina preventiva ou terapêutica que comprovadamente funcione.
No início de 2010, havia quase 30 ensaios clínicos de vacinas preventivas experimentais para o HIV em andamento em mais de 20 países diferentes pelo mundo. A maioria destes ensaios consiste em pequenos estudos sobre segurança de Fase I e II.
Dois ensaios sobre a eficácia de uma vacina candidata chamada AIDSVAX terminaram em 2003. Ambos os estudos constataram que a candidata não protegia contra a infecção. Um dos ensaios foi feito entre homens homossexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) nos Estados Unidos, no Canadá e nos Países Baixos. O outro ensaio foi feito entre pessoas que se injetam drogas (UDIs) na Tailândia.
No final de 2007, as vacinações em dois ensaios de prova de eficácia de Fase IIB de grande escala foram interrompidas depois que uma análise inicial planejada mostrou a falta de eficácia. Os ensaios estavam sendo realizados na Austrália, no Canadá, na República Dominicana, no Haiti, no Peru, na África do Sul e nos Estados Unidos. Ambos os ensaios foram desmascarados (isto é, foi dito aos participantes se eles haviam recebido o placebo ou a vacina experimental) depois que uma análise dos dados indicou a possibilidade de que a vacina do estudo, desenvolvida pelos Laboratórios de Pesquisa Merck, poderiam ter aumentado a probabilidade de infecção pelo HIV entre um determinado subgrupo que havia tomado a vacina. A vacina do estudo não causa a infecção pelo HIV. O aconselhamento sobre prevenção do HIV foi oferecido durante todo o ensaio e continua sendo oferecido. Os dados estão sendo analisados, e os resultados estão sendo divulgados à medida que são anunciados.
Em setembro de 2009, foram divulgados os resultados de um ensaio sobre eficácia de Fase III de grande escala na Tailândia. Este ensaio “prime-boost” testou uma combinação de duas vacinas, chamadas ALVAC e AIDSVAX, e constatou que a vacina diminuía o índice de infecção pelo HIV entre 26,2 e 31,2 por cento em comparação ao placebo. Os resultados do ensaio não mostraram que a vacina reduzia a carga viral das pessoas infectadas. Algumas análises indicam que a redução nas infecções foi estatisticamente significativa, assim, a possibilidade de o resultado ser por acaso é baixa. Porém, outras análises indicam que os resultados não foram estatisticamente significativos. Os resultados do ensaio continuam sendo analisados e serão importantes para orientar a futura pesquisa sobre vacinas e mostrar que uma vacina eficaz contra o HIV é possível.
Outra constatação recente e positiva no campo da pesquisa sobre vacinas foi a descoberta de dois anticorpos amplamente neutralizantes contra o HIV, que revelam um ponto desconhecido no vírus que poderia ser um bom alvo para o desenvolvimento de vacinas.
UMA PALAVRA SOBRE A EFICÁCIA PARCIAL
Os programas educacionais precisam explicar claramente as diferenças entre os índices de eficácia das várias opções de prevenção, a fim de evitar que as pessoas mudem de uma ferramenta de prevenção altamente eficaz para outra menos eficaz, o que poderia resultar no aumento das infecções pelo HIV.
Os produtos com menos de 100% de eficácia ainda podem causar um impacto significativo na pandemia do HIV. Em muitos casos, inclusive no caso dos microbicidas, das vacinas e das barreiras cervicais, muitos pesquisadores acreditam que somente índices de eficácia moderados serão alcançados. Entretanto, há motivo para se crer que mesmo um produto com eficácia parcial poderia ter benefícios em certas circunstâncias, especialmente em casos em que outros meios de proteção mais eficazes, como os preservativos, não sejam viáveis ou desejáveis.
Tratamento para o HIV como Prevenção
Acredita-se que o tratamento para o parceiro HIV positivo possa funcionar de duas maneiras como prevenção do HIV: em âmbito individual e em âmbito populacional.
No âmbito individual, há ensaios em andamento para descobrir se o risco de transmissão de um parceiro HIV positivo para um parceiro HIV negativo diminui quando o parceiro HIV positivo está tomando anti-retrovirais (ARVs). Os ARVs reduzem a carga viral ― a quantidade de vírus no sangue ― das pessoas HIV positivas. Acredita-se que a redução da carga viral diminua as chances de transmissão do HIV. Em 2008, a Comissão Nacional Suíça da AIDS (SIDA) disse que as pessoas HIV positivas que estão recebendo tratamento, possuem uma carga viral indetectável por pelo menos seis meses e não têm nenhuma outra infecção sexualmente transmissível (nem seu parceiro sexual) não devem ser consideradas como em risco de transmitir o HIV a outros através do coito vaginal. Tem havido um debate significativo sobre esta afirmação, em parte, porque a carga viral no sangue talvez nem sempre corresponda à carga viral no sêmen.
Há um ensaio sobre eficácia em andamento, chamado HPTN 052, testando esta abordagem. O objetivo do ensaio é inscrever 1.750 casais sorodiscordantes para examinar se os participantes HIV positivos que começam a tomar ARVs no momento da inscrição, independentemente da sua contagem de células CD4, têm menos chances de transmitir o vírus para os seus parceiros HIV negativos em comparação aos participantes que esperam para começar a tomá-los somente quando for clinicamente indicado. Todos os participantes do ensaio recebem um pacote de prevenção básica, que inclui tratamento para infecções sexualmente transmissíveis, preservativos e aconselhamento sobre a redução de risco. Os locais do ensaio são o Brasil, a Índia, o Maláui, a Tailândia, os Estados Unidos e Zimbábue.
Em âmbito populacional, algumas pessoas afirmam que a testagem em massa do HIV e a provisão de tratamento para as pessoas com resultados de HIV positivos poderiam reduzir consideravelmente o número de novas infecções pelo HIV. Acredita-se que, além de diminuir a carga viral através do tratamento, as campanhas de testagem em massa fariam com que mais pessoas soubessem o seu status, o que diminuiria o comportamento de risco das pessoas com resultados positivos.
Os ativistas do tratamento e as redes de pessoas vivendo com HIV há muito reivindicam o acesso universal ao aconselhamento e à testagem voluntária (ATV), seguido de acesso universal ao tratamento para os que o necessitarem. Em alguns casos, a abordagem do tratamento como prevenção propõe iniciar o tratamento com ARVs para as pessoas HIV positivas assim que elas forem diagnosticadas — o que pode ou não ser quando clinicamente indicado. Tem havido discussões contínuas em âmbito local, nacional, regional e global sobre estas várias abordagens. Os ativistas do tratamento, os defensores e promotores da prevenção e as redes de pessoas vivendo com HIV manifestaram o seu apoio ao maior acesso à testagem e ao tratamento, desde que estes continuem baseados nos direitos e sejam voluntários, vinculem a testagem ao tratamento, aos cuidados, ao apoio e à prevenção, lidem com os numerosos obstáculos ao acesso ainda existentes e reconheçam que as pessoas ainda podem decidir retardar o tratamento por motivos clínicos, econômicos, sociais ou pessoais.
Há discussões em andamento e planos de um estudo que avalie a viabilidade de uma estratégia “testar-e-tratar” para o HIV, intensificada e voltada para a comunidade nos EUA.
Ferramentas previamente investigadas
Diafragmas e Barreiras Cervicais
Os diafragmas e as barreiras cervicais oferecem proteção contraceptiva parcial. Como eles cobrem o colo do útero, o qual contém algumas das células mais vulneráveis à infecção do HIV na vagina, eles também estão sendo testados como uma possível opção de prevenção do HIV para as mulheres.
Ao contrário da maior parte da superfície da vagina, a qual consiste em várias camadas de células planas e resistentes, partes da superfície do colo do útero consistem numa única camada de células frágeis, as quais se danificam com maior facilidade. Nas mulheres mais jovens, estas células cervicais estão ainda mais expostas do que nas mulheres adultas, aumentando o risco para as meninas adolescentes. Além disso, há mais células-alvo para o HIV no colo do útero do que no resto da vagina. A passagem de fluidos infecciosos para o trato genital superior (também altamente susceptível) por via do colo do útero pode ser outro fator na contração do HIV nas mulheres.
Em julho de 2007, o estudo sobre diafragmas do MIRA (Methods for Improving Reproductive Health in Africa), realizado na África do Sul e em Zimbábue, anunciou seus resultados. O ensaio constatou que não há benefício adicional algum em usar um diafragma e lubrificante, no que diz respeito a um pacote abrangente de prevenção do HIV (preservativos, aconselhamento, triagem de ISTs e tratamento). Os autores do estudo concluíram que o diafragma não deve ser utilizado ou promovido como meio eficaz de prevenção do HIV no momento. Outras barreiras cervicais ainda podem ser exploradas, talvez em combinação com outras estratégias emergentes, tais como os microbicidas.
Tratamento para HSV-2
A presença de úlceras genitais causadas pelo vírus herpes simples tipo 2, ou HSV-2, foi sugerida como um possível fator de risco de infecção pelo HIV. Foi previsto que a supressão do herpes com o medicamento barato e não-protegido por patente aciclovir diminuiria o risco de HIV — tanto o risco de contrair a infecção pelo HIV quanto o risco de transmiti-la a outros.
Em 2007, o estudo HPTN 039 realizou investigações para determinar se o aciclovir preveniria a contração do HIV entre pessoas HIV negativas e HSV-2 positivas. O estudo concluiu que não há evidência alguma de que o aciclovir tomado duas vezes ao dia previne a infecção pelo HIV entre mulheres e HSH infectados.
Além disso, em maio de 2009, foram anunciados resultados do ensaio Partners in Prevention, o qual realizou investigações para determinar se o aciclovir preveniria a transmissão do HIV de pessoas que fossem tanto HIV positivas quanto HSV-2 positivas. O ensaio, realizado em 14 locais em sete países africanos, constatou que a terapia supressiva contínua para o HSV-2 em pessoas HIV positivas não reduzia o seu risco de transmissão do HIV para os seus parceiros HIV negativos. No entanto, houve evidência de que o aciclovir funcionava para reduzir as taxas de úlceras genitais e a carga viral do HIV nas pessoas co-infectadas pelo HIV e pelo HSV-2. Esta redução na carga viral não era suficiente para reduzir a transmissão para os parceiros HIV negativos. Porém, houve evidência de que ela retardava a progressão do HIV entre as pessoas com HIV e HSV-2 que também apresentavam contagens das células T CD4 altas demais para serem tratadas com anti-retrovirais para HIV de acordo com as atuais diretrizes para tratamento.
Ferramentas de prevenção existentes
Preservativos Masculinos e Femininos
Os preservativos masculinos e femininos são tecnologias de prevenção agora disponíveis para ajudar os casais a reduzirem seus riscos. Quando corretamente utilizados, ambos podem reduzir o risco de transmissão do HIV em mais de 90%. Entretanto, o acesso global aos preservativos masculinos é extremamente baixo, e o acesso aos preservativos femininos é ainda pior.
Em ambos os casos, a comunidade global precisa aumentar consideravelmente seus esforços no que diz respeito à distribuição, à promoção e ao acesso.
No caso dos preservativos femininos, as previsões iniciais da adoção e do impacto foram excessivamente otimistas, dados os desafios para a introdução de um novo produto. Alguns destes desafios foram as percepções negativas dos métodos de barreira, o preconceito que os provedores de serviços podem ter contra novos produtos e a falta de apoio para programas em grande escala. Um dos maiores problemas para as mulheres que vivem em países em desenvolvimento, no que diz respeito à utilização dos preservativos femininos, é o custo. Embora os preservativos femininos estejam disponíveis, eles são consideravelmente mais caros que os preservativos masculinos.
Investigações realizadas em mais de 40 países observaram uma boa aceitabilidade inicial dos preservativos femininos entre pessoas de idades, status social e econômico e histórico sexual variados. Muitas mulheres gostam dos preservativos femininos porque eles oferecem proteção contra o HIV e outras ISTs, são fáceis de usar, aumentam o prazer sexual e são uma boa opção para os homens que não gostam de usar preservativos masculinos.
Em março de 2009, a Female Health Company (FHC) anunciou a aprovação da Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos para o preservativo feminino de 2ª geração conhecido como FC2. O FC2 possui o mesmo design, aparência e uso que o FC1, porém é feito com um material diferente — uma borracha sintética chamada borracha nitrilítica. O FC2 é tão seguro e eficaz quanto o FC1 e será vendido por cerca de 30% menos.
A PATH (Partnership for Appropriate Technologies in Health), uma organização sem fins lucrativos, está pesquisando e desenvolvendo um novo design de preservativo feminino. O Preservativo da Mulher está pronto para um ensaio clínico combinado de Fase II/III, a última etapa antes de ser aprovado pela FDA.
Os esforços para aumentar a promoção, a distribuição, o acesso e a utilização de preservativos masculinos e femininos desempenham um papel vital no combate à pandemia do HIV. Vários estudos mostraram que, embora os métodos que não são de barreira representem um importante componente para o trabalho de prevenção no contexto do sexo com parceiros casuais, eles são quase que universalmente descartados no contexto das relações mais estáveis e contínuas. Isto talvez se deva a vários fatores, entre eles, o desejo de engravidar e a idéia de que os métodos de barreira sejam uma barreira para a intimidade também e não apenas para o HIV, as ISTs e a gravidez. Por mais eficazes que os preservativos masculinos e femininos sejam na prevenção da transmissão do HIV, precisamos desesperadamente de métodos que não sejam de barreiras, tais como os microbicidas e as vacinas.
Circuncisão Masculina Médica
O prepúcio masculino contém uma concentração de células imunológicas que constituem um alvo para o HIV durante os primeiros estágios da infecção. O lado interno do prepúcio do pênis em particular é altamente susceptível à infecção do HIV; acredita-se que a pele que permanece após a circuncisão seja menos susceptível. É possível que a circuncisão proteja os homens contra a infecção pelo HIV por eliminar estes alvos do HIV.
Desde os anos 80, estudos observacionais têm constatado que os países com índices mais altos de circuncisão masculina possuem os índices mais baixos de infecção pelo HIV. Em 2006, o primeiro ensaio randomizado sobre a eficácia da circuncisão masculina para a prevenção do HIV, realizado na África do Sul, mostrou que a circuncisão reduzia o risco de contração da infecção para o homem em 60%, em ambientes em que o risco de transmissão geralmente ocorre entre homens e mulheres. Este resultado foi confirmado em dois ensaios subseqüentes no Quênia e em Uganda. Em termos gerais, os três estudos sugerem que a circuncisão masculina segura e estéril, realizada por um profissional treinado, pode reduzir, em pelo menos 50%, o risco de contração do HIV através do sexo vaginal para os homens HIV negativos. Não há dados conclusivos sobre o impacto na transmissão para parceiras do sexo feminino. Um estudo constatou uma tendência insignificante para um aumento no risco da transmissão do homem para a mulher, mas isto poderia estar relacionado com a retomada da atividade sexual antes da cicatrização completa de ferimentos, e é necessária uma pesquisa mais profunda.
Não há dados de ensaios clínicos randomizados sobre o impacto da circuncisão masculina nos índices de transmissão do HIV através do coito anal.
Com base nos dados de ensaios realizados com homens HIV negativos, há um argumento convincente a favor da disponibilização da circuncisão masculina como um complemento para as estratégias de prevenção do HIV eficazes atuais, como os preservativos, as agulhas limpas e a mudança de comportamento. Estes programas devem enfatizar o que se sabe e o que não se sabe sobre a circuncisão masculina.
Profilaxia pós-exposição
Quando uma pessoa toma ARVs durante um mês inteiro logo após exposição ao HIV — como um acidente com agulha num hospital — isto se chama profilaxia pós-exposição ou “PEP”. Geralmente, a PEP é dada aos profissionais da área da saúde após exposição ocupacional ao HIV. Ela também pode ser oferecida em outras situações em que se sabe que houve exposição ao HIV, como, por exemplo, o sexo desprotegido e o compartilhamento de agulhas com um parceiro que se sabe ser HIV positivo, especialmente se a situação tiver sido involuntária (como, por exemplo, após estupro ou quando o preservativo se rompe).
O acesso à PEP varia muito. Na maioria dos casos, é muito difícil avaliar a exposição não-ocupacional. Mesmo após um estupro, as mulheres, às vezes, têm dificuldade em obter acesso à PEP, embora, para ser eficaz, o medicamento deva ser iniciado logo após a exposição.
Prevenção da transmissão vertical
Para prevenir a transmissão vertical (transmissão do HIV de uma mãe HIV positiva para o filho), é extremamente importante dar ARVs à mãe durante a gravidez e o trabalho de parto e ao bebê durante as primeiras semanas após o parto. O parto por cesariana e evitar a amamentação sempre que possível também podem reduzir significativamente o risco de transmissão. Se não for possível evitar a amamentação, amamentar exclusivamente o bebê é menos arriscado do que alternar entre amamentação e o uso de fórmulas infantis.
O ideal seria ampliar os programas de prevenção para garantir que menos mulheres se tornassem HIV positivas. Se elas forem HIV positivas, e se for clinicamente indicado, as mulheres devem ter acesso contínuo ao tratamento e não apenas durante a gravidez e o parto. De longe, o maior número de mulheres grávidas HIV positivas vive na África Subsaariana. Porém, nesta região, menos da metade (45%) teve acesso a ARVs para a prevenção da transmissão vertical em 20082.
Conclusão
Para que a prevenção do HIV seja eficaz, ela requer abordagens complementares:
garantir um aumento significativo no acesso e na adoção das ferramentas de prevenção comprovadamente eficazes existentes
desenvolver novas ferramentas de prevenção
lidar com as estruturas socioeconômicas, políticas e culturais que aumentam a vulnerabilidade e promover a Saúde, a Dignidade e a Prevenção Positivas3, conforme definido pelas pessoas vivendo com HIV
Para que isto ocorra, é necessário que haja um comprometimento político e um financiamento maior. Somente então as ferramentas de prevenção urgentemente necessárias serão desenvolvidas e disponibilizadas.
As Pessoas Vivendo com HIV têm um papel importante a desempenhar, aprendendo e informando sobre os avanços na pesquisa sobre prevenção e apoiando a pesquisa e o desenvolvimento como um componente vital da resposta ao HIV. Elas também podem trabalhar para garantir que a voz de muitas partes interessadas, especialmente das comunidades mais afetadas pelo HIV, sejam incluídas nas discussões sobre a pesquisa sobre prevenção.
Por favor, consulte a lista de recursos e links abaixo, onde você poderá ficar sabendo mais sobre a prevenção do HIV, as NTPs e a defesa e a promoção de direitos.
Referências e fontes de informações adicionais
Prevenção
Positive Health, Dignity and Prevention (GNP+ e UNAIDS (UNSIDA)): http://www.gnpplus.net
HIV Prevention Research: A Comprehensive Timeline (AVAC): http://www.avac.org/timeline-website/index.htm
UNAIDS (UNSIDA) (inclui informações gerais sobre prevenção): http://www.unaids.org
Microbicidas vaginais e anais
Global Campaign for Microbicides (GCM): http://www.global-campaign.org
International Partnership for Microbicides (IPM): http://www.ipmglobal.org
Microbicide Trials Network (MTN): http://www.mtnstopshiv.org
International Rectal Microbicide Advocates (IRMA): http://www.rectalmicrobicides.org
Pofilaxia pré-exposição
PrEP Watch (AVAC): http://www.prepwatch.org
Materiais e links da GCM sobre PrEP: http://www.global-campaign.org/EngDownload.htm#prep
Vacinas
AIDS Vaccine Advocacy Coalition (AVAC): http://www.avac.org
AIDS Vaccine Clearinghouse (AVAC): http://www.aidsvaccineclearinghouse.org
International AIDS Vaccines Initiative (IAVI): http://www.iavi.org
Global HIV Vaccine Enterprise: http://www.hivvaccineenterprise.org
Tratamento para HIV como prevenção
AIDS Vaccine Advocacy Coalition (AVAC): http://www.avac.org/ht/d/sp/i/421/pid/421
UNAIDS (UNSIDA): http://www.unaids.org/en/KnowledgeCentre/Resources/FeatureStories/archive/2009/20091106_ART_for_HIVprev.asp
Declaração da sociedade civil sobre o tratamento como prevenção: http://www.icaso.org/resources/2009/ART_statementEN.pdf
Diafragmas e barreiras cervicais
Women’s Global Health Initiative: http://wghi.org/research/female_controlled_tools.htm
Cervical Barrier Advancement Society: http://www.cervicalbarriers.org
Informações da Global Campaign for Microbicides sobre barreiras cervicais: http://www.global-campaign.org/barriers.htm
Tratamento para HSV-2
HIV Prevention Trials Network (HPTN) Study: http://www.hptn.org/research_studies/hptn039.asp
Estudo da University of Washington e da Bill and Melinda Gates Foundation: http://www.clinicaltrials.gov/ct/show/NCT00197574 ; http://uwnews.org/article.asp?articleid=49611
Preservativos masculinos e femininos
Informações do Centre for Health and Gender Equity sobre preservativos femininos: http://www.preventionnow.net/
Informações da Global Campaign for Microbicides sobre preservativos femininos: http://www.global-campaign.org/female-condom.htm#[femalecondom]
Informações da Family Health International (FHI) sobre preservativos femininos: http://www.fhi.org/en/topics/femcondom.htm
Informações da PATH sobre preservativos femininos: http://www.path.org/projects/womans_condom.php
Informações da Planned Parenthood sobre preservativos femininos: http://www.plannedparenthood.org/birth-control-pregnancy/birth-control/female-condom.htm
Informações da Planned Parenthood sobre preservativos masculinos: http://www.plannedparenthood.org/birth-control-pregnancy/birth-control/condom.htm
Circuncisão masculina médica
Informações da AIDS Vaccine Clearinghouse sobre CM (AVAC): http://www.aidsvacinaclearinghouse.org/MC/index.html
Informações da UNAIDS (UNSIDA) sobre CM: http://www.unaids.org/en/Issues/Prevention_treatment/MC.asp
Informações da Global Campaign for Microbicides sobre CM: http://www.global-campaign.org/malecircumcision.htm
Profilaxia pós-exposição
Organização Mundial da Saúde: http://www.who.int/hiv/topics/prophylaxis/en/
UNAIDS (UNSIDA): http://www.unaids.org/en/PolicyAndPractice/Prevention/HIVPEP/default.asp
Prevenção da transmissão vertical
Organização Mundial da Saúde: http://www.who.int/hiv/topics/mtct/en/index.html
1 Por favor, consulte o documento para discussão O Papel das Pessoas Vivendo com HIV na Pesquisa Biomédica sobre Prevenção e a Busca de Novas Ferramentas de Prevenção do HIV, Global Network of People Living with HIV (GNP+), 2010.
2 Organização Mundial da Saúde (OMS). Toward universal access: Scaling up priority HIV/AIDS interventions in the health sector. http://www.who.int/hiv/pub/2009progressreport/en/ Acessado em 26 de outubro de 2009.
Extraído do site:
Veja também:"El papel de las personas que viven con el HIV en la investigación de la prevención biomedica...."(18/08/010)
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