Há exatamente 18 anos os infectologistas Vicente Amato Neto e Jacyr Pasternak, em editorial chamado “Hepatite no tempo da AIDS”, publicado na Folha de São Paulo em 10 de agosto de 1992, faziam uma forte análise critica denunciando que o governo muito falava da AIDS e praticamente nada informava sobre as hepatites. Com algumas poucas mudanças de vocabulário, a análise se aplica ao comportamento atual no ministerio da saúde.
Passados 18 anos o enfrentamento da maior epidemia existente no Brasil continua sem um programa com metas definidas e estabelecidas quantitativamente para seu enfrentamento. Enquanto na AIDS, o planejamento é realizado informando-se quantos tratamentos serão ofertados nos próximos anos, quantos preservativos serão distribuídos, quantos testes serão realizados, tudo com metas especificadas quantitativamente, nas hepatites, excetuando vacinação da hepatite B, somente existem promessas genéricas, sem números e, não podendo ser quantificadas não existe previsão orçamentária, de tal forma que dificilmente serão executadas.
Na AIDS o planejamento é para “fazer” em quantidades especificadas e definidas. Nas hepatites B e C simplesmente se coloca que serão “implementadas” ações, mas é lamentável tal atitude, pois “implementar” não é “fazer”. Implementar significa dar prosseguimento, colocar em prática, mas não necessariamente significa o compromisso de realizar uma tarefa. Exemplo: ninguém diz vou “implementar uma viagem” e sim vou “fazer uma viagem”.
Passados 18 anos do alerta na Folha de São Paulo o silêncio nas hepatites já resulta em que a hepatite C é a principal causa dos transplantes de fígado.
Passados 18 anos e desde 2009 o programa de hepatites está incorporado ao programa de AIDS e, ainda, somos obrigados a saber de absurdos como o acontecido no final de maio, quando o Programa DST/AIDS/Hepatites do Ministério da Saúde emitiu nota criticando o Edital do Concurso para admissão nos quadros do Exército, por ser discriminatório solicitar aos candidatos o teste da AIDS. Entretanto não criticou que no mesmo edital também estava sendo solicitado o teste das hepatites B e C, uma clara demonstração que cuida com diferentes pesos e medidas as duas epidemias, cuidando dos infectados com AIDS e deixando ao Deus dará os infectados com as hepatites B e C.
Desde o ano 2000 grupos de pacientes realizam em 19 de maio, sem apoio do governo, atividades de divulgação das hepatites, movimento que começou no Brasil e passou a ser um dia mundial com 68 países realizando o evento. Em 2009 o ministério da saúde, pela primeira vez, realizou uma pequena campanha no dia 19 de maio, a qual esperávamos seria repetida e ampliada a cada ano, mas em 2010 já recebemos um balde de água fria. No mês de março o Departamento DST/AIDS/Hepatites comunicou às secretarias estaduais da saúde, que não seria realizada campanha em 19 de maio e, seguindo a sugestão da Organização Mundial da Saúde, a campanha seria realizada em 28 de julho.
Até chegou a ser ventilado pelos técnicos que a campanha teria filmes para TV, spot de radio, cartazes, folhetos, testes de detecção, vacinação, entre outras propostas, mas já passado o mês de julho e metade de agosto que atire a primeira pedra quem viu tal campanha. Somente uns poucos folhetos, 500 mil para sermos exatos, foram impressos falando ao mesmo tempo das hepatites A, B, C, D e E distribuídos às secretarias da saúde a algumas ONGs já na metade de agosto. Quem recebe os folhetos não sabe qual a utilização que deverá dar aos mesmos.
Mais uma vez o movimento social das hepatites se sente frustrado e desiludido com o pouco caso que está sendo dado às hepatites, em especial à hepatite C, motivo pelo qual o ano de 2010 será mais um, nestes últimos 18 anos desde o alerta na Folha de São Paulo em 1992, em que o vírus consegue avançar mais que as ações do governo. Mais um ano perdido no enfrentamento da maior epidemia que atinge o povo brasileiro.
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