Pesquisa analisa reações adversas ao tratamento do câncer de mama
ENSP
16/08/2010
Koifman ressalta que as intercorrências podem surgir no pós-operatório, levando até a condição do linfedema, problema que além do aspecto estético, traz a diminuição motora e a sensibilidade
Cerca de 17% das mulheres podem apresentar edema no braço, conhecido como linfedema, resultante da retirada dos linfonodos axilares durante tratamento cirúrgico do câncer de mama. Adicionalmente, a realização da quimioterapia subsequente à cirurgia também pode acarretar outras reações adversas, comprometendo as condições físicas e psíquicas dessas pacientes. Embora o problema seja conhecido, poucos estudos foram feitos sobre os determinantes genéticos dessas complicações, de acordo com o pesquisador Sergio Koifman, que coordena estudo sobre o tema no âmbito do Programa Inova-Ensp, em parceria com outras instituições do Estado do Rio de Janeiro. O trabalho, também coordenado por Rosana Vianna Jorge, da UFRJ, e Anke Bergmann, do Inca, busca analisar as características genéticas que possam estar envolvidas com o desenvolvimento de linfedema e reações adversas após o tratamento cirúrgico do câncer de mama.
O pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Sergio Koifman explica que o projeto está em desenvolvimento com grupos de pesquisadores do Inca, UFRJ, Uerj e Uenf, já tendo sido aprovado no edital de pesquisa clínica do câncer do CNPq, agora ampliado com o Inova-Ensp. “Nossa meta é obter uma coorte de 600 pacientes com câncer de mama no Rio de Janeiro, todas acompanhadas no Inca, e analisar os fatores genéticos e ambientais associados à ocorrência de linfedema e reações adversas ao tratamento. Desta forma, poderemos compreender melhor as características genéticas que possam estar envolvidas enquanto elementos facilitadores da formação do linfedema e outras complicações”, diz.
Koifman ressalta que as intercorrências podem surgir no pós-operatório, levando até a condição do linfedema, problema que além do aspecto estético, traz a diminuição motora e a sensibilidade. “A autoimagem da paciente já se encontra bastante abalada pela intervenção cirúrgica na mama. Há ainda essa possibilidade de limitação funcional do braço.
Adicionalmente, surgem reações adversas com o início da quimioterapia, incluindo fraqueza, náuseas, diarreia, anemia, entre outras, que são também capazes de abalar mais ainda a saúde física, social e psíquica da mulher”, explicou o pesquisador. “No caso do linfedema, pela sua frequência, ele tem essa característica de também representar um problema sério para o SUS, seja do ponto de vista do custo adicional do tratamento, de recuperação, isso sem falar do custo humano da ocorrência”, afirmou. O ineditismo do projeto faz com que, além de possibilitar melhor entendimento das condições que levam a essa situação, seja possível viabilizar a identificação de grupos de alto risco de virem a desenvolver problemas colaterais.
O que leva ao linfedema e reações adversas
Segundo Koifman, em decorrência dos tratamentos realizados para controle do câncer (cirurgia, radioterapia e quimioterapia), pode ocorrer obstrução dos vasos linfáticos, tornando o braço mais suscetível ao desenvolvimento de infecção. O primeiro mecanismo de defesa existente no sistema linfático é constituído pelos gânglios, que podem ser parcialmente ou totalmente retirados durante a cirurgia, o que facilita a passagem de organismos que não seriam tão eficientemente controlados através do sistema imunológico.
No Brasil, aproximadamente 50% das mulheres que chegam no sistema de saúde com câncer de mama já se encontram em estágio avançado, o que implica a realização de intervenções mais extensas para o tratamento do câncer. De acordo com Koifman, quanto mais cedo for feito o diagnóstico, menor é a necessidade de se realizarem cirurgias extensas, e com ela o risco de desenvolverem linfedema e reações adversas ao tratamento.
Essa linha de pesquisa sobre a incidência de linfedema subsequente ao tratamento do câncer de mama vem sendo desenvolvida na Ensp há cerca de uma década e consistiu no objeto de estudo de Anke Bergmann em sua dissertação de mestrado e tese de doutorado. A pesquisadora, atualmente trabalhando no Inca, e também uma das participantes do atual projeto apoiado pelo edital Inova-Ensp, analisou uma coorte com mais de mil mulheres para estudar a incidência de linfedema. “Um aspecto importante observado nesse trabalho é que as mulheres que haviam realizado atividades físicas prévias nos braços, como lavadeiras ou passadeiras, apresentavam menor frequência de linfedema. O sistema vascular, pelo esforço, aliado ao desenvolvimento muscular, parece prevenir a ocorrência dessa complicação”, diz Koifman.
Para a equipe do pesquisador, essa é uma informação importante para acoplar ao projeto, uma vez que será levantada uma série de condições genéticas no sentido de identificação de grupos de alto risco. “Até o surgimento de novas opções de tratamento do câncer de mama, a mastectomia continuará sendo uma opção terapêutica, pois representa atualmente a única chance de cura confirmada nos casos iniciais de câncer de mama (cancer in situ). O que se pretende neste estudo, afirmou, é contribuir para a identificação, previamente à realização da cirurgia, de quais seriam aqueles grupos que apresentam riscos mais elevados de virem a desenvolver complicações adicionais como aquelas aqui descritas”.
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