Dioneia Delgado Lima
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Subject: Números oficiais conseguem retratar a situação da hepatite C
Date: Sat, 31 Jul 2010 14:13:04 -0300
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Uma questão para o Senhor Ministro da Saúde, Dr. José Gomes Temporão tentar responder:
NÚMEROS OFICIAIS CONSEGUEM RETRATAR A SITUAÇÃO DA HEPATITE C
No último dia 28 o ministério da saúde divulgou dados referentes às hepatites no Brasil. Os dados, por serem oficiais, permitem realizar um retrato confiável da atual situação da hepatite C.
Para tal segue um resumo do apresentado e sua interpretação. Solicito que não seja considerado como uma critica, pois são na sua totalidade os próprios números apresentados de forma oficial. Simplesmente serão colocados de forma que possam ser interpretados por quem não é especialista em epidemiologia.
CASOS CONFIRMADOS DE HEPATITE C
É ponto pacifico e aceito pelo governo que o total estimado de infectados cronicamente com hepatite C no Brasil seja de aproximadamente 3,5 milhões de indivíduos.
O sistema de vigilância epidemiológica do ministério da saúde registra que entre os anos de 1999 e 2009 foram confirmados 60.908 casos de hepatite C, o que representa 1,74% da população infectada.
Considerando o total de infectados, o número de indivíduos oficialmente reconhecidos que estão com hepatite C representa 1,74% do total da epidemia.
Conforme dados oficiais podemos então afirmar que 98% dos 3,5 milhões de infectados desconhecem, por falta de diagnostico, que estão doentes.
Desconsiderando dados antigos, quando ainda não existia um programa nacional para cuidar da epidemia da hepatite, vamos analisar os avanços conseguidos somente nos últimos quatro anos, quando conforme os dados do Ministério da Saúde os casos confirmado de hepatite C são os seguintes:
2006: 9.098 casos confirmados de hepatite C
2007: 10.115 casos confirmados de hepatite C
2008: 9.954 casos confirmados de hepatite C
2009: 9.754 casos confirmados de hepatite C
O não aumento dos casos diagnosticados de hepatite C reflete o resultado da dificuldade para se realizar o diagnostico. O ministério da saúde não aumenta a oferta de testes, os quais são oferecidos em poucos locais. A resposta é simples e os dados apresentados pelo ministério confirmam:
Quantidade de testes de hepatite C feitos em 2004: 1,33 milhões
Quantidade de testes de hepatite C feitos em 2009: 1,47 milhões
Aumento de 28.000 testes de hepatite C por ano, representando um incremento de 2,1% ao ano durante o período.
Existem no Brasil aproximadamente 60.000 unidades básicas de saúde (em alguns estados chamados de postos de saúde) locais onde por lei deveria estar disponibilizado o teste, mas por ser ínfima a quantidade de testes para diagnostico da hepatite C, se fossem distribuídos a toda a rede resultaria em enviar a cada unidade 24 testes de hepatite C por ano, o que representaria realizar um teste para diagnosticar a hepatite C a cada 15 dias em cada unidade.
O não aumento das notificações reflete como conseqüência no número de pacientes em tratamento, estimado pelo ministério da saúde na oferta de 10.500 tratamentos para o ano de 2010, praticamente o mesmo número de tratamentos realizados nos últimos anos.
CASOS CONFIRMADOS DE HEPATITE C POR ESTADO
Os estados que por sua população apresentam poucos casos notificados se encontram destacados na cor vermelha, ficando evidente que muito pouco está sendo feito nesses estados para diagnosticar os infectados com hepatite C. Os estados que estão realizando um trabalho bem feito estão destacados na cor azul.
Ø Acre, média dos últimos 4 anos de 107 casos por ano.
Ø Alagoas, média dos últimos 4 anos de 40 casos por ano.
Ø Amapá, média dos últimos 4 anos de 27 casos por ano.
Ø Amazonas, média dos últimos 4 anos de 7 casos por ano. (1)
Ø Bahia, média dos últimos 4 anos de 225 casos por ano.
Ø Ceará, média dos últimos 4 anos de 59 casos por ano.
Ø Distrito Federal, média dos últimos 4 anos de 72 casos por ano.
Ø Espírito Santo, média dos últimos 4 anos de 90 casos por ano.
Ø Goiás, média dos últimos 4 anos de 133 casos por ano.
Ø Maranhão, média dos últimos 4 anos de 32 casos por ano. (1)
Ø Mato Grosso do Sul, média dos últimos 4 anos de 68 casos por ano.
Ø Mato Grosso, média dos últimos 4 anos de 42 casos por ano.
Ø Minas Gerais, média dos últimos 4 anos de 393 casos por ano.
Ø Pará, média dos últimos 4 anos de 40 casos por ano.
Ø Paraíba, média dos últimos 4 anos de 13 casos por ano. (1)
Ø Paraná, média dos últimos 4 anos de 262 casos por ano.
Ø Pernambuco, média dos últimos 4 anos de 38 casos por ano.
Ø Piauí, média dos últimos 4 anos de 0,5 casos por ano. (1)
Ø Rio de Janeiro, média dos últimos 4 anos de 316 casos por ano. (2)
Ø Rio Grande do Norte, média dos últimos 4 anos de 48 casos por ano.
Ø Rio Grande do Sul, média dos últimos 4 anos de 1.188 casos por ano.
Ø Rondônia, média dos últimos 4 anos de 31 casos por ano.
Ø Roraima, média dos últimos 4 anos de 6 casos por ano.
Ø Santa Catarina, média dos últimos 4 anos de 564 casos por ano.
Ø São Paulo, média dos últimos 4 anos de 5.864 casos por ano.
Ø Sergipe, média dos últimos 4 anos de 44 casos por ano.
Ø Tocantins, média dos últimos 4 anos de 9 casos por ano.
(1) - Estados considerados médios, como Amazonas, com 4 casos diagnosticados por ano, Maranhão com 32 casos, Paraíba com 13 ou, Piauí com menos de 1 caso por ano, são realmente estados onde não existe praticamente trabalho algum sendo realizado, nem comprometimento do controle social sobre os gestores.
(2) - Rio de Janeiro se encontra em vermelho devido à diminuição continua dos casos notificados, que foi de 451 casos em 2006, de 355 casos em 2007, de 253 casos em 2008 e de 205 casos em 2009, um claro exemplo de falta de trabalho é comprometimento do programa estadual de hepatites.
OFERTA DE TRATAMENTOS NA HEPATITE C EM 2010
A falta de diagnostico e confirmação dos casos reflete diretamente na possibilidade de acesso ao tratamento.
Pacientes em tratamento da hepatite C por região estimada para o terceiro trimestre de 2010, conforme os dados oficiais:
Região Norte: 793 pacientes - (AC; RO; RR; AM; PA; AP e TO) – Sete estados – Media de 113 pacientes em tratamento por estado.
Região Nordeste: 969 pacientes - (MA; PI; CE; RN; PE; PB; AL; SE e BA) – Nove estados – Media de 110 pacientes em tratamento por estado.
Região Centro-Oeste: 464 pacientes – (MS; MT. GO e DF) - Quatro estados – Media de 116 pacientes em tratamento por estado.
Região Sudeste: 5.915 pacientes – (SP; RJ; MG e ES) - Quatro estados – Media de 1.479 pacientes em tratamento por estado.
Região Sul: 2.365 pacientes – (SC; PR e RS) - Três estados – Media de 788 pacientes em tratamento por estado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma empresa é avaliada em função das suas vendas e seu lucro, devendo crescer a cada ano, uma organização social pode ser avaliada pelo número de atendimentos e eventos realizados, já ações de governo na área da saúde são avaliadas, também, pelos resultados apresentados. No caso especifico da hepatite C, por não existir vacina, não existe melhor avaliação que o aumento nos diagnósticos dos casos é o conseqüente aumento no número de pacientes tratados.
Tomei a precaução de analisar os últimos quatro anos para evitar comparações que poderiam ser criticadas. O Programa Nacional de Hepatites Virais foi criado em fevereiro de 2002 e instituído por portaria em 2003, assim é correto se esperar que se as ações planejadas e executadas estão realmente surtindo efeito passem a apresentar resultados a partir do ano 2006 e nos anos seguintes.
Os resultados, expressos nos números oficiais, tanto em relação à disponibilidade de testes de detecção, dos casos notificados e no de pacientes tratados mostram um quadro preocupante para os infectados com hepatite C.
Conforme estudos científicos sobre a evolução natural da hepatite C, quatro anos representam que os 98% dos 3,5 milhões de infectados progrediram 1 grau no nível de fibrose que destrói seu fígado, agravando seu estado de saúde e diminuindo a possibilidade de cura se algum dia vier a ter a benção de ser diagnosticada, coisa que parece improvável pelo andar da carruagem.
Estimado Senhor Ministro da Saúde, Dr. José Gomes Temporão, se a hepatite C afeta 3,5 milhões de brasileiros (tal vez a maior epidemia a ser enfrentada pela saúde pública) não deveria ser criado um departamento especifico para cuidar dela?
A incorporação das hepatites no Programa DST/AIDS pode ser excelente para hepatite B já que a mesma e uma DST, mas a hepatite C nada tem a ver com AIDS ou com qualquer DST, então, o que faz em tal departamento? Sem querer ser impertinente ou mal educado, mas pergunto se foi colocada em DST/AIDS para tratar os infectados de hepatite C como cidadãos de segunda categoria?
Carlos Varaldo
Grupo Otimismo
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