“(...) Me amarram, me aplicam, me sufocam num quarto trancado / Socorro! Sou um cara Normal asfixiado. / Minha mãe, meu irmão, minha tia me encheram de drogas / de levomepromazina. / Ai, ai ai que sufoco da vida. Estou cansado de tanta levomepromazina. (Sufoco da Vida. Hamilton, Meurício e Alexandre M.)
No final dos anos 70, no bojo da luta contra a ditadura, nasceram muitos movimentos sociais que contribuíram para a construção do projeto democrático brasileiro. Um deles foi o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental que denunciou a violência existente nos hospitais psiquiátricos, violência esta não apenas contra as pessoas em sofrimento psíquico, vítimas das formas mais brutais de desrespeito aos direitos humanos, mas também contra vários brasileiros que lutaram contra o regime militar de exceção. Muitas denúncias referiam-se a presos políticos que eram internados em hospícios.
No final dos anos de 1980, o movimento se consolidou como um dos mais importantes e amplos movimentos sociais do país, disseminando-se por todos os estados e assumindo mais efetivamente sua luta pela superação dos manicômios. Foi quando surgiu o lema POR UMA SOCIEDADE SEM MANICÔMIOS, significando o repúdio a qualquer forma de exclusão social e de violência contra as pessoas em sofrimento mental.
O manicômio, para o Movimento, não é apenas o hospício, o hospital psiquiátrico, onde a violência é certamente mais direta e opressora, mas é o conjunto de saberes científicos, de práticas institucionais, sociais e políticas que autorizam tais formas de exclusão e violência. Neste sentido, todas as formas de medicalização da sociedade são também objeto de crítica e denúncia por parte do Movimento.
Com a participação inegável do movimento, foi deflagrado no país um dos mais importantes e reconhecidos processos de reforma psiquiátrica existentes em todo o mundo. Neste processo destaca-se a participação de usuários e familiares, além dos técnicos, que atuam, todos eles, não como atores ou objetos, mas como atores reais, como protagonistas de um novo cenário, que é marcado por uma nova cultura de cuidado, de convivência e solidariedade.
Desde 1988, vem realizando comemorações no dia 18 de maio, que ficou conhecido como o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. São eventos políticos, sociais, culturais, artísticos, científicos, em todos os estados, em todas as capitais, em inúmeras cidades. Tais comemorações têm como objetivo convocar e despertar a sociedade para a questão da violência manicomial no seu sentido amplo, ao qual nos referimos anteriormente. Mas o dia 18 foi ficando pequeno, e daí passou-se a organizar atividades na semana toda e agora por todo o mês de maio.
No 18 de maio apontam-se as arbitrariedades em relação à violação dos direitos humanos e cidadania dos usuários; reivindica-se a ampliação não apenas da rede de serviços territoriais, substitutivos aos hospitais psiquiátricos, mas também dos dispositivos e estratégias culturais e sociais que são fundamentais na construção de uma nova relação entre a sociedade e a loucura; luta-se pela superação do estigma, do preconceito, da segregação e da exclusão, mas luta-se, fundamentalmente, pela construção desta nova sociedade solidária para com as pessoas em sofrimento e em situação de risco social. |
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