O comércio criminoso do aborto corre solto no Distrito Federal. A venda de abortivos proibidos por lei, como o Cytotec, ocorre em plena luz do dia nos estacionamentos da Feira dos Importados, a poucos quilômetros do Departamento de Polícia Especializada (DPE). Homens, que se fazem passar por guardadores de carros, cobram caro por quatro comprimidos da droga, antigamente usada para o tratamento de úlcera e que provoca fortes contrações. As cartelas custam até R$ 800.
Durante uma semana mergulhada no esquema que movimenta o comércio de abortivos proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a equipe de reportagem do Jornal de Brasília identificou pontos de venda muito bem camuflados. O trabalho e os flagrantes realizados pela reportagem foram feitos com o conhecimento da Delegacia do Consumidor (Decon) e do Ministério Público.
Em Ceilândia Centro, algumas farmácias mantêm um esquema velado para a transação. Quase sempre, um balconista possui conexões com fornecedores. Mediante a encomenda, ele deixa o estabelecimento comercial para pegar o abortivo. A compra nunca ocorre perto das farmácias. O dinheiro costuma ser entregue na praça central, próxima da 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro). Os preços variam de R$ 300 a R$ 500 pelos quatro comprimidos necessários para realizar o aborto.
Perto da Feira dos Importados as vendas ocorrem com mais facilidade. Nos estacionamentos, entre as bancas e o Centrais de Abastecimento do DF (Ceasa), vendedores circulam tranquilamente. Eles não trabalham sozinhos e não andam com os abortivos. Ao ouvirem o pedido de um cliente respondem de imediato: "Tenho sim. Mas vai custar R$ 800. Onde você está estacionado? Te entrego no carro". Aproveitando o fluxo no estacionamento, a transação é feita em poucos minutos. E quando não têm o "material" pedem o telefone do comprador para entrar em contato quando uma nova remessa chegar.
Comércio virtual
No entanto, o comércio do Cytotec e de outros abortivos como chás de ervas e ANTICONCEPCIONAIS de alta dosagem, não se limita às ruas. Pela internet, por meio de sites especializados na venda de todo o tipo de medicamentos, a pessoa interessada não encontra dificuldade em manter contato com os revendedores e ter acesso ao medicamento, quase sempre entregue por meio dos Correios.
Aparentemente, os vendedores agiam de forma isolada em pequena escala. Com o aprofundamento das investigações, a Polícia Civil identificou uma rede desenvolvida por grupos distintos que buscam esses medicamentos no Paraguai e os distribuem na capital federal. Um dos casos mais recentes foi a prisão de um homem que tinha contatos em quase todas as cidades do DF. Estima-se que Márcio Gomes da Silva, 34 anos, preso semana passada durante uma operação realizada pela Delegacia do Consumidor (Decon), faturava R$ 10 mil mensais com a venda do Cytotec.
A rede entre os traficantes foi monitorada a partir da prisão do homem. Foi identificado que ele mantinha casas fechadas em cidades como Taguatinga, Gama, Sobradinho, Guará e Samambaia. A polícia suspeita que as residências serviam de depósito para esconder os abortivos. "Encontramos registros feitos pelo suspeito em que ele fornecia os medicamentos ilegais para outros pequenos traficantes. Além disso, ele tinha uma agenda cheia. Costumava fazer até oito entregas em apenas um dia", detalha a delegada-chefe da Decon, Suzana Machado.
Durante as investigações que identificaram a ação dos traficantes, a Polícia Civil chegou a uma rota usada pelos criminosos para fazer com que o Cytotec chegue em segurança até o Distrito Federal. Boa parte dos fornecedores encontra-se fora do País. Parte dos medicamentos é proveniente do Paraguai e atravessa a fronteira escondida dentro de brinquedos e produtos eletrônicos. Com a pouca fiscalização, os abortivos passam pela Ponte da Amizade, que liga a cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná, com Ciudad del Este, no Paraguai. Já em solo brasileiro, os remédios são distribuídos para diferentes partes do País. No DF, o Cytotec chega por meio de ônibus interestaduais, junto com os conhecidos sacoleiros, que viajam até o Paraguai para comprar produtos mais baratos.
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