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Pesquisa desenha o mapa da hepatite C
CORREIO BRAZILIENSE
14/07/2010
USP mostra que transmissão do vírus está associada a grupos sociais e que exposição a drogas aumenta risco de contaminação
Belo Horizonte - Os resultados de uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) podem ajudar no foco das campanhas de prevenção da HEPATITE C. Segundo o trabalho, que faz parte da Rede de Diversidade Genética Viral, os três principais subtipos do vírus causador da hepatite, o HCV, no Brasil, teriam entrado no país em diferentes momentos. O mais recente deles, o 1a, que tem crescido mais e, especialmente, entre os mais jovens, estaria associado às pessoas que possuem mais parceiros sexuais e estiveram expostas a mais fatores de risco.
O dado é importante na formulação de um perfil dos portadores de HEPATITE C, hoje considerada epidemia. Enquanto em todo o mundo cerca de 170 a 190 milhões de pessoas estão infectadas, no Brasil as estimativas chegam a 3,5% da população, com muitos casos atribuídos a usuários de drogas injetáveis.
O contato sexual foi usado como medida para compreender a interação social dos indivíduos. De acordo com o coordenador da pesquisa, o virologista do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Paolo Zanotto, partiu-se do pressuposto de que a rede de contatos sexuais de uma pessoa seria um bom indicativo também de suas interações sociais.
Segundo Camila Romano, pesquisadora do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, os portadores do vírus HCV-1a teriam mais interações sociais e mais comportamentos de risco, o que indica que os subtipos mais novos, em especial o 1a, devem continuar se espalhando. Entretanto, segundo ela, é importante ressaltar que o número de relações sexuais não é o responsável pela transmissão acelerada, mas apenas um indicador dos contatos sociais.
Para chegar aos resultados foram feitas coletas de sangue de indivíduos infectados entre 1996 e 2007, em diferentes centros de tratamento da doença no interior paulista e no Hospital das Clínicas de São Paulo. Além do sequenciamento de parte do vírus, os pesquisadores contaram com dados de questionários respondidos pelos pacientes. Mesmo assim, segundo a pesquisadora, não foi possível explicar cerca de 40% dos casos, que não foram expostos aos principais fatores de risco, como o uso de drogas injetáveis e transfusão de sangue antes de 1993. Práticas como manicure e pedicure, extração dentária e pequenas cirurgias, reveladas pelos questionários, também não foram informativas, já que todos os pacientes haviam feito grande parte delas.
Descoberta
A partir da compreensão da dinâmica evolutiva do vírus foram identificadas os diferentes comportamentos das epidemias de cada subtipo. O primeiro vírus a entrar no país foi do subtipo 1b, que cresceu bastante no passado e está diminuindo provavelmente em função do controle nos bancos de sangue implementados entre as décadas de 1980 e 1990. Em seguida, entrou o subtipo 3a, seguido pelo subtipo 1a, com a maior taxa de crescimento entre todos.
A análise dos períodos de entrada do vírus e a idade de seus portadores também revelaram que os subtipos atingem grupos etários diferentes. Enquanto o subtipo 1b não apresentou estratificação etária, os dois mais recentes circulam entre pessoas nascidas em uma mesma época, afirmam os pesquisadores.
Outra descoberta muito importante foi que o tamanho da população do estado de São Paulo no momento da entrada do vírus também parece ter sido crucial para determinar a sua força de crescimento, de acordo com a pesquisadora. "Isso foi inédito no sentido de que não é esperado que um vírus que é transmitido primariamente por sangue contaminado sofra impacto da densidade populacional na sua transmissão", explica Camila.
Já os dados sociológicos revelados pelos questionários ajudaram nas conclusões sobre o perfil dos portadores e os prováveis fatores que levaram à transmissão diferenciada dos três subtipos mais prevalentes. "Entre as pessoas que já tiveram 50 ou mais parceiros, os chamados altamente conectados, o subtipo 1a é o mais presente. Quando vemos o comportamento dos mais conectados - aqueles com maior exposição a fatores de risco como tatuagens, piercings, drogas injetáveis e não injetáveis e sexo desprotegido - percebemos que ele é bastante diferente. Enquanto quem teve poucos parceiros, cinco ou menos, apresentou como comportamento de risco mais comum a transfusão sanguínea antes de 1993, os altamente conectados usaram mais drogas injetáveis, já foram presos mais vezes, e muitos nunca usaram CAMISINHA - o que reflete na quantidade deles que já teve alguma doença sexualmente transmissível", explica Camila.
A forma de transmissão do vírus, entretanto, ainda não está totalmente compreendida, mas já se sabe que ele está crescendo e aproveitando novas chances de se transmitir entre os grupos de indivíduos suscetíveis e expostos a vários fatores de risco. "Como a melhor estratégia ainda é a prevenção, precisamos aumentar nosso entendimento de como o HCV está aproveitando as redes sociais para se espalhar", explica. Por isso o próximo passo da pesquisa é estratificar os dados populacionais e sociológicos para aumentar a compreensão de como os vírus se organizam em setores sociais.
Quando vemos o comportamento daqueles com maior exposição a fatores de risco como tatuagens, piercings, drogas injetáveis e não injetáveis, e sexo desprotegido, percebemos que ele (o perfil do paciente) é bastante diferente
Camila Romano, pesquisadora
Cortesia Clipping Bem Fam(14/07/010)
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