Segundo Jornal Agora, tratamento da tuberculose sofre mudança
Agora
23/03/2010
Por decisão do Ministério da Saúde, desde fevereiro os pacientes de tuberculose estão recebendo um novo tratamento no Brasil. A nova terapia baseia-se no acréscimo de um medicamento - o etambutol - aos três que vinham sendo usados, e na administração desses quatro medicamentos numa mesma drágea. Sua principal vantagem é facilitar a ingestão dos medicamentos e impedir que, usados em separado, possam induzir ainda maior resistência dos bacilos a esse tratamento.
"A mudança é positiva, mas revela que a resistência do bacilo às drogas aumentou e que falta um controle adequado da doença no país", avalia o pneumologista Renato Gutierrez, da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Rio Grande do Sul (SPTRS). Ele salienta que a incidência de tuberculose se mantém alta no Brasil, com cerca de 90 mil novos casos ao ano, taxa que tem se mantido com pequenas variações desde a década de 1980.
"A resistência do bacilo aos medicamentos aumenta porque muitos abandonam o tratamento, que dura seis meses. Falta organizar e preparar o serviço de saúde para exercer um maior controle, especialmente entre as comunidades mais pobres, que são as grandes vítimas da doença", diz o especialista.
No Rio Grande do Sul, os índices apontam para a existência de cerca de 50 casos de tuberculose para cada 100 mil habitantes, com aproximadamente cinco mil novos casos e 300 óbitos ao ano. "Essa incidência coloca o Estado num patamar intermediário no ranking nacional, mas não favorável, já que em Porto Alegre a incidência é de 100 casos, ou seja, o dobro da média estadual", alerta o pneumologista Cesar Augusto Espina, também vinculado à SPTRS.
Ele explica que o maior problema na Capital gaúcha é a taxa de coinfecção tuberculose/HIV, que chega a 30%, percentual próximo à média dos países africanos que ostentam os índices mais preocupantes da doença. "Em Porto Alegre, 30% dos tuberculosos têm AIDS e, por isso, estão em risco de vida. Faltam investimentos na área. O Hospital Sanatório Partenon, que é o centro de referência para tratamento de tuberculose, já teve 350 leitos e hoje está com apenas 50", afirma Espina.
Próximo ao Dia Mundial de Combate à Tuberculose (24 de março), os especialistas da SPTRS reforçam que há necessidade de desenvolver uma estratégia efetiva de combate ao problema, com atendimento próximo às comunidades infectadas e tratamento supervisionado, o que depende de mais recursos, pesquisas e descentralização dos programas de saúde. Eles destacam que, por atingir populações mais carentes e menos organizadas politicamente, a tuberculose muitas vezes não recebe a devida atenção dos gestores públicos.
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