Manila, 10 mar (EFE).- Uma campanha de distribuição de preservativos nas Filipinas, país católico, gerou uma grande polêmica entre o Governo, que pela primeira vez defende seu uso para combater a aids, e a Igreja, que o segue considerando inaceitável.
A controvérsia começou no último dia de São Valentim (equivalente ao Dia dos Namorados), quando o Ministério da Saúde filipino distribuiu preservativos gratuitos para conscientizar a população sobre as doenças sexualmente transmissíveis.
A reação da hierarquia eclesiástica foi rápida. A Igreja qualificou a campanha como "imoral" e exigiu a renúncia da ministra da Saúde, Esperanza Cabral, pois "ela não pode influenciar os jovens filipinos".
"É imoral que alguém no Executivo esteja promovendo o uso de preservativos, que como bem sabemos, não servem para prevenir o HIV e a aids", e é preocupante "pois a moral social está ameaçada, sobretudo entre a juventude", assegurou o bispo Ramón Argüelles.
No entanto, Esperanza não deu o braço a torcer e decidiu travar uma queda-de-braço com a Igreja ao antecipar que também deve distribuir pílulas anticoncepcionais.
As pílulas são legalizadas, vendidas em qualquer farmácia filipina, mas seu preço é muito alto para as pessoas mais pobres.
Em janeiro, houve 4.600 novos casos de pessoas infectadas pelo HIV. Entretanto, o sistema de saúde do país acredita que apenas um em cada dez casos é confirmado, pela falta de informação.
A ministra quer evitar a todo custo mais contágios, e tem apoio da presidente Gloria Macapagal Arroyo, que é contra o aborto e defende a abstinência e a fidelidade em uma sociedade contraditória e machista como a filipina, centrada na família, mas que faz vista grossa com homens adúlteros.
Para defender sua posição, as autoridades eclesiásticas querem proibir os anúncios de preservativos ou, pelo menos, incluir em cada pacote uma advertência que o produto "pode falhar na proteção da aids" pois "os consumidores têm o direito de conhecer a verdade".
"Dado o enorme índice de falhas, os preservativos não podem ser a solução, e representam uma sensação falsa de segurança que promove a promiscuidade fora do casamento", afirma a Conferência de Bispos Católicos das Filipinas.
A instituição denuncia que "a multimilionária indústria dos preservativos se dirige aos adolescentes, passando por cima da moralidade e da família" e promover o uso do preservativo equivale a "debilitar a fibra moral da juventude".
Além disso, a polêmica ocorre em plena campanha eleitoral, e todos os candidatos sabem que devem tomar cuidado para não ofender a poderosa Igreja, que em 1986 e 2001 mobilizou seus fiéis para tirar do poder primeiro o ditador Ferdinand Marcos e depois o presidente corrupto Joseph Estrada.
Por enquanto, só Estrada, que busca nova eleição e é famoso por sua longa lista de amantes e filhos bastardos, deixou clara sua postura: "Os filipinos devem ter direito a escolher."
Essa premissa foi defendida por cerca de 100 pessoas que nesta semana jogaram milhares de preservativos inflados em frente à sede do bispado, em Manila, para protestar por sua obstinação em seguir rejeitand-os.
Segundo as pesquisas, mais da metade da população apoia uma nova lei que financie métodos anticoncepcionais para conter o altíssimo crescimento demográfico das Filipinas, que quase não tem recursos para alimentar seus mais de 93 milhões de habitantes, dos quais quase 90% se declaram católicos.
No entanto, a maioria reconhece que obedecerá o que for determinado pela Igreja, que renega de qualquer tipo de planejamento familiar e segue enviando seus sacerdotes para visitas a cada casa, para alertar sobre os perigos do sexo precoce e a promiscuidade atribuída ao preservativo nas zonas mais pobres do arquipélago.
Carlos Santamaría
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