05/07/2010
Fantástico
SÃO PAULO - A Justiça deve decidir em setembro próximo se o médico Roger Abdelmassih, 66 anos, é culpado nas acusações de estupro feita por pacientes. Ele responde por 56 acusações de abuso sexual. No último interrogatório, no dia 7 de maio, Abdelmassih alegou não ter abusado de nenhuma paciente. No máximo, segundo ele, dava beijos no rosto. Segundo ele, são característicos da família dele os cumprimentos afetuosos, com abraços e beijos, sem outra intenção. O Ministério Público pede 300 anos de prisão para o médico. ( Leia também: Abdelmassih entra com pedido para renunciar à profissão de médico )
O "Fantástico", da TV Globo, apurou que no interrogatório, que durou cerca de 3 horas, o médico, de 66 anos, disse que, antes das cirurgias, as pacientes eram sedadas com propofol. É o mesmo anestésico que Michael Jackson usou para tentar dormir, antes de morrer.
Para a Justiça, Roger Abdelmassih contou que, depois que surgiram as acusações de estupro, decidiu investigar os efeitos do propofol. E constatou que ele poderia provocar alterações no comportamento sexual das pacientes.
Irimar de Paula Posso, anestesiologista do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, com 40 anos de profissão, afirma:
- São muito raras as alucinações por anestésicos, especialmente pelo propofol. Agora, tem vários relatos de médicos que assediaram pacientes e quiseram dizer que era culpa do anestésico.
- Eu estava retornando da sedação, eu ainda estava um pouco zonza, mas eu estava bem consciente de tudo o que aconteceu - afirma uma ex-paciente.
O especialista em reprodução assistida será julgado pela juíza Kenarik Boujikian Felippe. Os acusados de crimes sexuais não vão a júri popular. Cabe a um juiz decidir a sentença. Juristas acreditam que, mesmo que a condenação seja alta, o médico poderá recorrer em liberdade, já que respondeu à maior parte do processo fora da cadeia.
Uma paciente contesta a defesa do médico.
- Ele vinha com essa mania que diz que é normal dele, de tentar beijar você perto da boca. E você percebia que ele estava excitado - conta.
Entre agosto e dezembro do ano passado, Roger Abdelmassih ficou na prisão. Foi solto dois dias antes do Natal pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e responde às acusações em liberdade.
No processo, já foram ouvidas mais de 200 pessoas. Entre elas, há 130 testemunhas de defesa e 35 mulheres que dizem ter sido atacadas dentro da clínica do médico. Algumas afirmam que sofreram mais de um abuso sexual.
No depoimento, Roger Abdelmassih afirmou à juíza que não costumava ficar sozinho com as mulheres que se tratavam com ele. E que, mesmo quando isso acontecia, era perto de alguma sala que tinha gente.
Uma ex-paciente disse ao Fantástico que isso não o impedia de cometer os abusos.
- Eu comecei a bater na porta porque ele fechou a porta. Eu fui estuprada pelo doutor Roger - diz a ex-paciente.
Roger Abdelmassih também é réu em uma ação civil pública, por crimes contra os direitos do consumidor. Para garantir o pagamento de eventuais indenizações, a Justiça bloqueou os bens e as contas bancárias dele.
Para o Ministério Público, há uma tentativa de burlar esse bloqueio, com envolvimento da mulher do médico, a procuradora da República Larissa Maria Sacco, de 31 anos, que está de licença do cargo, sem receber salário. Roger era viúvo e se casou em fevereiro com Larissa. Segundo a acusação, o médico usa uma empresa agropecuária que está em nome da mulher para fazer movimentações de dinheiro. Por isso, o Ministério Público está tentando bloquear, também, os bens de Larissa.
Procurados pelo Fantástico, os advogados de defesa afirmaram que ninguém iria gravar entrevista e que as provas são frágeis: se resumem aos depoimentos das supostas vítimas.
O especialista em reprodução assistida - que está proibido de exercer a medicina - diz que as acusações partiram de clientes que não conseguiram engravidar.
Clipping Bem Fam(05/07/0100
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