Cartão vermelho à infância perdida
Jornal do Brasil - 01/07/2010
A pobreza é um dos fatores mais comumente responsáveis pelo baixo nível de desenvolvimento humano e pela origem de uma série de mazelas, algumas das quais proibidas por lei ou consideradas crimes. É o caso do trabalho infantil. A chaga encontra terreno fértil nas sociedades subdesenvolvidas, mas também viceja onde o capitalismo, em seu ambiente mais selvagem, obriga crianças e adolescentes a participarem do processo de produção. Foi assim na Revolução Industrial de ontem e nas economias ditas avançadas. E ainda é, nos dias de hoje, nas manufaturas da Ásia ou em diversas regiões do Brasil.
De todo modo, enquanto o trabalho infantil foi minimizado já que nunca se pode dizer erradicado entre as nações ricas, ele continua sendo um grave problema nos países mais pobres. Por isso, iniciativas de combate à exploração de crianças, como a campanha Cartão Vermelho para o Trabalho Infantil, lançada ontem no Rio de Janeiro, são merecedoras de todo o apoio da sociedade. A campanha, que tem como garoto-propaganda o jogador Robinho, da Seleção Brasileira, é fruto da parceria entre a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e entidades que formam o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil.
Graças a políticas públicas realizadas nos últimos anos, como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), do governo federal, as taxas de crianças e adolescentes que trabalham no país vêm registrando quedas acentuadas. Mesmo assim, o problema ainda preocupa, pela sua extensão. A legislação brasileira proíbe que menores de 14 anos trabalhem. Mas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), havia, em 2008, um total de 993 mil crianças entre 5 e 13 anos nesta situação. Numa faixa etária mais ampla, até 17 anos, quando se espera que os jovens ainda estejam estudando, foram contabilizados ao todo 4,5 milhões de crianças e adolescentes exercendo algum tipo de trabalho. Esse contingente representava 10,2% das pessoas da faixa etária.
A maioria é empregada doméstica (51,6%) e outros 35,5% estão ocupados em áreas agrícolas. Em muitos casos, a atividade sequer é remunerada. De acordo com a Pnad, só 32%. Mas segundo o Ministério do Trabalho, o índice pode chegar a 90%, devido aos casos desumanos de trabalho infantil e, ainda por cima, escravo.
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