Casais sorodiscordantes para Aids confessam que nem sempre optam por relações sexuais com preservativo
Pesquisa realizada com 13 casais heterossexuais em que um parceiro tem HIV revela falta de segurança na relação sexual.
Com o intuito de estudar o universo dos casais sorodiscordantes mais a fundo, a pesquisadora Ivia Maksud realizou pesquisa que resultou na tese de doutorado intitulada “Casais sorodiscordantes, conjugalidade, práticas sexuais e HIV/Aids”. Segundo a autora, “a tese examina a partir de uma perspectiva sócio-antropológica como se dão as relações conjugais entre casais sorodiscordantes para o HIV”. A pesquisa, realizada no segundo semestre de 2007, baseou-se em entrevistas individuais com perguntas basicamente sobre questões relacionadas à descoberta da sua soropositividade ou da de seu parceiro, na convivência com a doença no cotidiano, hábitos sexuais do casal e vida afetivo-sexual.
O estudo foi realizado com entrevistas de treze casais cujos componentes apresentavam idades compreendidas entre 23 e 61anos de idade. Inicialmente, a pesquisadora realizou quatro entrevistas com casais do município do Rio de Janeiro e depois com mais quatro com casais de outros estados. Posteriormente, ela inseriu na pesquisa um grupo de nove casais assistidos pelo Ipec –Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas, um instituto de pesquisa situado no campus da Fiocruz que realiza acompanhamento médico de casais sorodiscordantes para o HIV. Casais sorodiscordantes são aqueles em que um dos cônjuges é portador de HIV e o outro não.
De acordo com o estudo, muitos casais relataram que a revelação da soropositividade ao parceiro foi algo temido e que, diante do conhecimento da doença, os contatos íntimos passaram a ser mais escassos. Um casal sempre “dá beijos na boca, embora ‘a intensidade já tenha sido maior, porque no período da descoberta houve uma queda total e depois uma retomada, mas não é mais como era antigamente’”, relata a pesquisadora fazendo referência ao depoimento de um dos entrevistados.
Quando perguntados acerca da utilização de preservativos, houve casais que afirmaram dispensar seu uso e que “a gente começa a se gostar tanto que não liga para o que o outro tiver”. E ainda: “preservativo incomoda, tira a sensibilidade e o conforto”. O descaso com o uso da camisinha aparece recorrente em diversos momentos das entrevistas: “Gosto muito dela, mas te confesso que a gente faz sem camisinha. A gente acha até que ela tem. Aí ela faz os exames (e não ocorre a transmissão)”, afirma um soropositivo que tem relacionamento conjugal de cinco anos com soronegativa.
A falta de esclarecimento acerca da transmissão também se mostrou presente: “homem não pega de mulher”, afirmou um dos entrevistados. Alguns portadores do HIV disseram preferir ter parceiros portadores do vírus porque, segundo eles, “seria natural”.
Diante dos resultados da pesquisa, Ivia finaliza falando acerca do distanciamento existente entre a população e as informações de tratamento e prevenção da Aids oferecidas pelo Ministério da Saúde e por outros membros da sociedade. Segundo ela, o material distribuído com o intuito de promover o esclarecimento acerca da doença não tem seus códigos decodificados,ou seja , não são compreendidos pelas pessoas, de uma forma geral. “A existência de informações oficiais sobre prevenção e tratamento do HIV/Aids disponibilizadas pelo Ministério da Saúde em campanhas, livros, folhetos e cartilhas educacionais, materiais de promoção à saúde desenvolvidos e distribuídos por Ongs, o conjunto de entrevistas sugere uma distância entre códigos produzidos e recebidos”, afirma.
16/04/2008
Um comentário:
Estamos no aguardo de ver aprovado este Projeto e participarmos com as nossas experiências.
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