Prezados (as),
Em relação à questão do teste rápido por ocasião do Rock In Rio, a exemplo do que já vem acontecendo em outros eventos de massa pelo Brasil, informo que na última quinta-feira(08/09), tivemos uma reunião na Secretaria de Estado de Saúde, com a participação do Fórum ONG/Aids RJ, ativistas convidados, Gerência Estadual e outros profissionais da Rede Pública de Saúde, convocada pelo Departamento de Aids, quando pudemos discutir, avaliar e encaminhar diversas questões pertinentes a esse assunto.
Da parte do Departamento de Aids estiveram presentes, além do Eduardo Barbosa, o Ivo Brito e o Ronaldo Hallal.
Após a paresentação dos diferentes pontos de vista, inclusive o nosso, contrário a esse tipo de ação, algumas questões ficaram pactuadas tais como a de que o oferecimento dos exames não acontecerá durante o horário dos shows e que MS e SES/RJ se empenharão em garantir, dentro da rede de referência local, o fluxo para acolhimento das pessoas com resultado positivo com garantia de diagnóstico e acompanhamento. Sobre a questão do pré e pós aconselhamento, ficou definido que todas as normas preconizadas deverão ser seguidas pelas equipes em atuação no local, assim como, em oportunidades futuras, as articulações com o movimento de luta contra a Aids local deverá ser antecipada ao máximo de forma a evitar ruidos de comunicação como aconteceu nessa oportunidade.
Roberto Pereira
Coordenação Geral
Centro de Educação Sexual - CEDUS
Membro Suplente da Comissão Nacional de Aids - MS
Membro da Executiva do Fórum ONGs Tuberculose - RJ
Membro da Executiva do Fórum ONG Aids RJ
Av. General Justo, 275 - bloco 1 - 203/ A - Castelo
20021-130 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil
Cel: (55.21) 9429-4550
A prioridade absoluta tem de ser o HUMANO.
Acima dessa, não reconheço nenhuma outra.
(José Saramago)
Prezados, também participei dessa reuniáo e depois de muitas
explicações e justificativas perguntei se alguém sabia como ficava a cabeça
de uma pessoa que recebe um diagnóstico positivo, principalmente em uma
festa. Recebi resposta não satisfatória e logo à seguir fui participar
de um debate na Escola de Enfermagem Ana Neri da UFRJ(público alunos
do mestrado , doutorado , professores e profissionais) após a
apresentação do filme POSITIVAS, juntamente com a diretoraSusanna Lira.
Iniciei minha fala me desculpando por ter chegado atrasada porque a
reunião com o DN se prolongou mais do que estávamos esperando e para
minha surpresa todos queriam saber se a testagem no Rock in Rio havia
sido cancelada e ficaram bastante decepcionados quando informei que ela
acontecerá.
Durante as perguntas a organizadora, professora Dra. Carla me
confidenciou que havia um casal presente (que não era aluno) que acabara
de receber pela manhã o resultado positivo e desejou assistir ao filme,
ele estava inscrito para me fazer pergunta(só o resultado dele deu
positivo o da mulher deu negativo). Aproveitei uma pergunta para falar
sobre a importancia do apoio familiar, das relações sorodiscordantes,
sem buscar culpados, que ninguem precisa sair contando sua sorologia
enquanto não se sentir à vontade para isso, que a pessoa tem direito ao
sigilo, que buscar ajuda psicologica e um grupo de apoio era importante
para o fortalecimento e que principalmente temos que vivenciar nosso luto, para depois
com o tempo conseguirmos forças para continuarmos a vida.O homem pediu
para falar e em pranttos (chorou muito, muito muito) disse que quando
recebeu o diagnóstico pensoui em se matar, pois ele é evangélico, tem 45
anos, tem uma companheira e que não tem coragem de enfrentar a
familia,os amigos,falou do medo de ter infectado a mulhere da sua culpa
por ter se relacionado fora de casa sem preservativo.
Perguntei porque ele fez o teste e onde e ele nos explicou que é
doador de sangue e que fez no hemoRrio. Perguntei se ele se sentiu
acolhido no momento em que recebeu a noticia ea resposta dele nos fez
chorar à todos que estávamos presentes (só a assistente social sabia
do caso) ele respondeu: * - Eu só queria um abraço e não recebi *.
Fiquei ali parado sem saber o que fazerpor mais de 3 horas, só pensando
em me suicidar. Me foi dito que eu deveria chamara alguém para me buscar
e que eu tinha que contar para a minha mulher, pois ela tambem teria
que fazer o teste. Quando minha mulher chegou choramos juntos e fomos
informados de que ela não poderia fazer o teste lá e nos foi dado
vários endereços para procurarmos um e então viemos aqui no CTA
(Hospital São Francisco de Assis) onde ela fez o teste rapido e deu
negativo e fomos convidados para assistir ao filme. E agora ! Onde ir
para iniciar o tratamento. Ouviu dizer que os hospitais estão todos
lotados e que a fila de espera é grande. Será que as pessoas vão olhar
para ele descobrir que ele tem HIV. A mulher vai fazer outro exame em 3
meses, mas até lá, podem transar, beijar, Onde conseguir camisinhas, Qual
diferença entre ter HIV e ter Aids. Ele também vai emagrecer e ficar com a
fisionomia característica da Aids. Ela é da marinha será mandada
embora quando descobrirem que ele está infectado. Será que ela vai
abandoná-lo (a mulher ficou o tempo todo calada, sentada ao lado dele). Será que vão pensar
que ele é gay, esta doença é castigo. Quando vai morrer.Respondi com
emoção auxiliada pela Susanna (que ofereceu uma copia do filme para que
ele pudesse ouvir os depoimentos com calma, inclusive dos familiares)
reforçou a minha fala sobre a orientação sexual de cada pessoa, que
doença não é castigo e que precisamos acreditar em alguma coisa para
superar este momento. A Dra. Carla disse que trabalha com pessoas
soropositivas há mais de 20 anos e que os medicamentos, a adesão e os
bons pensamentos são primordiais para uma melhora físicca, além da
descoberta precose da doença. Solicitei à ela que utilizasse seus
conhecimentos para que ele fosse tratado ali mesmo, evitando uma
peregrinação pelos serviços. Aproveitei para dizer à todos os presentes
que assistiram emocionados o desespero daquele homem, que ao chegarem em
seus locais de trabalho não esquecessem o quanto um abraço, um aperto
de mão,uma palavra amiga pode salvar vidas. Se alguém não se sente à
vontade para estas ações que procurem outra função. Não vá lidar com o
público tão diretamente.
Aí pensei nas pessoas que recebem diagnóstico em festas. Como
desejei que as autoridades estivessem ali, ouvindo um homem chorar
copiosamente, com tantas perguntas sem respostas, com culpa, com medo .
Será que continuariam achando que faz o teste em uma festa quem quer.
Que basta indicar o hospital para um acompanhamento inicial, que
receber um diagnóstico positivo para o HIV é a mesma coisa que receber
um diagnóstico de diabetes. Sei da importancia de ficar sabendo o mais
cedo possível da doença, para evitar casos como o meu que devido ao
diagnóstico tardio acabei ficando cega. Mas será que não estamos
realizando estas ações em locaisinadequados. Será que não estamos
priorizando a saúde física mais que a saúde mental.Será que estamos
perdendo a sensibilidad e banalizando a dor de um diagnóstico positivo.
P.S. Antes de encaminhar esta carta recebi um e-mail da Dra. Carla me
informando que o rapaz seracompanhado lá no hospital.
- Não falamos mais sobre o filme, apenas ouvimos e procuramos acolher
aquele ser humano que precisava de colo, atenção e
solidariedade.Outras pessoas também falaram palavras de incentivo
e de carinho.
-Desculpem a falta dos pontos de interrogação não sei onde fica
localizado neste teclado.
"Nada sobre nós, sem nós"
Beijinhos, Cida Lemos
Cida,
Esse caso aqui relatado, somado a tantas histórias que todos nós temos a contar, muitas delas pessoais e, sonado-se a isso, inseridas em um cenário de total desmantelamento do SUS e formação deficiente da maioria dos quadros que integram os serviços, dá a exata dimensão de mais esse problema que vivemos.
Não há como negar que, mesmo bem intencionada, como referimos entender a inciativa desse oferecimento de testes, essa estratégia continua pesando mais pelo seu aspecto midiático do que como um serviço efetivo a ser oferecido à população.
Essa interpretação é reforçada pela forma como o "momento seguinte" continua a ser encarado e conduzido pelos serviços, sempre sob o olhar complascente de quem deveria estar investindo pesado no enfrentamento dessas deficiências.
Assim como você, a maioria dos convidados à reunião para apresentação da proposta do Rock In Rio, inclusive alguns profissionais de saúde, concordam que essa estratégia não é a melhor escolha para ampliar o acesso ao diagnóstico, principalmente se levarmos em conta, como bem lembrou o companheiro Veriano (ABIA) que existe uma distância enorme entre ter o resultado de um teste e ter um diagnóstico.
Roberto Pereira
Coordenação Geral
Centro de Educação Sexual - CEDUS
Membro Suplente da Comissão Nacional de Aids - MS
Membro da Executiva do Fórum ONGs Tuberculose - RJ
Membro da Executiva do Fórum ONG Aids RJ
DE: GRUPO ÁGUA VIVA - CENTRO DE REFERÊNCIA E PREVENÇÃO DAS DST/AIDS.
Prezados,
É lamentável ainda nos tempos atuais em que a AIDS vem atingindo um número cada vez maior de idosos, não se consegue trabalhar o lado humano do acolhimento.
Casos como este do casal presente neste tão importante evento e que num momento de angústia em não poder encontrar respostas para o alívio de sua dor, acabou por nos mostrar o porque do não consentimento de exames em grandes aglomerações, pois se em uma Unidade de Testagem foi difícil o tão esperado acolhimento, o que dirá em espaços como o "ROCK IN RIO?".
Como sempre admiro e com certeza sempre admirarei a nossa amiga e parceira Cida Lemos, ela teve a VISÃO HUMANITÁRIA tão necessária neste momento em favor deste casal.
Deus te ILUMINE sempre Cida Lemos.
Nossos OLHOS não enxergam a emoção dos sentimentos tão visíveis ao OLHAR daquele que enxerga TUDO.
Parabéns CIDA pela sua INTERVENÇÃO em favor deste casal.
Atenciosamente,
Luiz Bessa
Administrativo Financeiro
Sustentabilidade Social
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Contribua com a nossa causa: Banco do Brasil 01 - Agência nº 0087-6 C/C 12.668-3.
Constituição Federal:Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
1994 - 2011 - 17 Anos na luta contra a AIDS.
O Centro de Referência e Prevenção das DST/AIDS parte integrante do Grupo Água Viva, criado em 19 de dezembro de 1994, é uma Organização Civil sem fins lucrativos, designada ONG/AIDS, com a finalidade e objetivo de ASSISTIR, ORIENTAR e TRATAR pessoas com HIV e doentes de AIDS. Telefax: (21) 3317-2872 / 9806-1624 / 7694-4031 - Luiz Bessa.
Cida, Roberto e demais, Desde os tempos em que eu era voluntário do
GPVRJ , no viva voz e outros projetos, participei de alguns
treinamentos que me foram muito uteis, lembro de uma palestra na qual
as funcionárias do hospital São francisco de Assis relatavam a
importância do pre e pós aconselhamento.
Meu diagnostico foi dado em um centro de testagem anonima, foi feito
meio que de supetão, apesar de ter acontecido uma reunião antes de
tirar o sangue, lembro que me ligaram para refazer os exames, e ao
pegar o segundo resultado a enfermeira me falou do resultado positivo.
Realmente não tive uma reação tão grave apenas no longo caminho do
CTA ao interior do Hospital maternidade, tinha que ir até a
assistencia social, para falar com a pscologa assistente social para
maiores informações. Como tive que esperar um longo tempo por ela,
acabei desistindo e indo trabalhar, pois pensei estou bem e depois
volto para me tratar, o que só ocorreu depois de uns seis meses quando
eu já estava com carga viral inferior a 40 e muito magro e sem fome.
Daí, acho que aconselhamento pré e pós teste de suma importância!
No meu caso se eu tivesse falado logo com a assistente social, quem
sabe eu já entraria com os ARVs, e assim não precisasse me internar
para me tratar depois?
Vi na palestra das Funcionarias do São Fco Assis um exemplo de
conduta, que evita traumas e ajudam na adesão imediata ao tratamento.
Porem recentemente vi no Programa Conexão reporter, da Globo, um
atendimeto pós resultado feito da forma mais, estupida, que me causou
espanto.
Tipo:
Voce esta com HIV!
Paciente: COMO?
Funcionaria: Bichinho voce esta com bichinho.
Paci: Não entendi.
FUNcionaria: Seu resultado foi positivo!
Nesses termos sem nehuma preparação.
Fiquei espantadissimo. Pois vinha contra tudo o qual eu fora treinado.
Tambem acho que show não é o local adequado para se faser e receber
teste de HIV.
Que se faça uma campanha aproveitando o show, e o grande número de
pessoas presentes tudo bem, mas fazer e dar dignóstico no Rock In Rio
, para mim é demais!!!!
NILO Geronimo Borgna
Ativismocontraaidstb.blogspot.com
Cida e parceiros e parceiras de luta:
É mesmo lamentável que os representantes do governo que estavam na reunião abaixo mencionada não estejam mesmo em nossos espaços sociais de convivência para ver a vida real (BIG BROTHER DA VIDA DE QUEM SE DESCOBRE COM SOROLOGIA POSITIVA PARA O HIV E O DEPOIS DO DIAGNÓSTICO FORNECIDO, AINDA MAIS SE RESIDIR NO RJ). A cena abaixo relatada por vc é uma constante no dia a dia da convivência no GPV/RJ.
Mas a "vontade política" de que programas como "FIQUE SABENDO" devem ser fortalecidos (a qualquer custo), principalmente em um lugar que será FORMADOR DE OPINIÃO NOS PRÓXIMOS DIAS para adolescentes e jovens (na sua maior parte) e cuja a força midiática estará toda neste evento não só nacional como internacionalmente é premente.
Imaginem o mote "até o MS em parceria com a SESDEC-RJ montaram uma tenda para testagem, aconselhamento, promoção e prevenção à saúde no Rock in Rio com testagem para o HIV/Aids e demais...". Não sejamos inocentes! Estamos às vésperas de ano eletivo. Tudo é plataforma do "bem".
Afinal a testagem é de livre arbítrio, em horário fora dos shows, com aconselhamento feito pelos profissionais de saúde e, em caso positivo serão encaminhados aos hospitais de referência já credenciado (HSE, HOSPITAL DA LAGOA e IPEC/FIOCRUZ) para tratamento e blá, blá, blá... que já conhecemos bastante onde dará a continuidade desta história. Sim, pq HIV ainda não tem cura e só quem tem sabe o que significa ter mesmo depois de 30 anos de sua descoberta. Não é só tomar remédio (o que já se registram muitas faltas), nem fazer exames periódicos para controle da carga viral e CD4 (kits andam faltando e o prazo de recebimento dos examos, quando realizados, em alguns lugares, chegam a 180 dias), tem muito mais... a integralidade na saúde e a tal intersetorialidade ou equipes multidisciplinares ainda são raras nos ambulatórios/hospitais do RJ. Enfim, começa aí uma maratona biomédica sem precedentes e o tal "biopsicossocial" nem sempre é abordado. O subjetivo do tratamento é totalmente lateralizado. O foco ainda é a DOENÇA.
Enfim, ninguém é contra a testagem, mas que seja feita com muito respeito ao próximo. Será que festa é um bom lugar??? \
QUANDO VAMOS OLHAR PELOS OLHOS DE QUEM SE SUBMETE A ESTAS TESTAGENS EM EVENTOS? ATÉ QUANDO NÃO VAMOS PERCEBER QUE SER PORTADOR DO VÍRUS HIV AINDA TEM UMA SIMBOLOGIA (MARCA) DE MORTE, PRECONCEITO E MUITA DESINFORMAÇÃO.
QUE SAIBAMOS CUIDAR DO SER HUMANO. PORQUE QUEM AMA CUIDA.
LAMENTÁVEL MESMO PENSARMOS QUE ALGUMA COISA MUDARÁ NESTAS AÇÕES DE CAMPANHAS QUE JÁ VÊM PRONTAS COMO "PACOTES" APENAS PARA LEGITIMAÇÃO OU COMUNICAÇÃO À SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA.
SALVO MELHOR JUÍZO, PRECISAMOS VOLTAR A NOS INDIGNAR E IR ÀS RUAS REIVINDICAR ESPAÇO PARA SERMOS OUVIDOS E ATENDIDOS EM NOSSAS PRETENSÕES. AFINAL, DE QUE LADO ESTAMOS??
COM CARINHO E RESPEITO A TODOS E TODAS,
REGINA BUENO.
ATIVISTA MILITANTE E APAIXONADA POR RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS NA SAÚDE.
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