Pesquisa revela que 61% dos médicos defendem a criminalização das pessoas que transmitem o vírus da aids
17/09/2010 - 10h25
Estudo inédito da USP alerta para o número insuficiente de médicos que cuidam de pessoas que vivem com o HIV no Estado de São Paulo e a falta de preparo da maior parte do grupo. As informações foram divulgadas nesta sexta-feira pelo jornal O Estado de S. Paulo.
De acordo com o autor de estudo, Mário Scheffer, "apesar de exemplar e universal o tratamento da doença no Brasil, há desigualdade no programa de aids. Nem todos os pacientes têm acesso a assistência da mesma qualidade”, disse.
A pesquisa revelou ainda que 70,9% dos 2.361 médicos que prescreveram antirretrovirais de outubro de 2007 a maio de 2009 não tinham formação em infectologia.
Leia a seguir a reportagem na íntegra:
Um estudo inédito da Faculdade de Medicina da USP alerta para o número insuficiente de médicos que cuidam de pessoas que vivem com o HIV no Estado de São Paulo e a falta de preparo da maior parte do grupo. Também revela que 61% dos profissionais defendem a criminalização de portadores que transmitem o vírus da aids a parceiros sexuais - o que contraria orientação das autoridades de saúde brasileiras e das Nações Unidas.
Segundo o trabalho, a região de Franca, no norte do Estado, que concentra a maior incidência de aids em território paulista, tem também a pior distribuição de prescritores de antirretrovirais. Ainda de acordo com o estudo, 70,9% dos 2.361 médicos que prescreveram antirretrovirais de outubro de 2007 a maio de 2009 não tinham formação em infectologia.
O Perfil do Médico Prescritor de antirretrovirais no Estado de São Paulo, trabalho de conclusão de pós-doutorado apoiado pelos governos federal e do Estado de São Paulo, também mostra que o atendimento da maioria dos pacientes acaba concentrado nos médicos especializados - o que os deixa sobrecarregados.
Destaca ainda que os profissionais, em sua maioria, confiam nos medicamentos genéricos e defendem o licenciamento compulsório de remédios para favorecer sua produção. Porém, a maioria diz que o diagnóstico tardio ainda é uma limitação.
"Apesar de exemplar e universal, há desigualdade no programa de aids. Nem todos os pacientes têm acesso a assistência da mesma qualidade", afirma o autor do estudo, Mário Scheffer, que concluiu o pós-doutorado no Departamento de Medicina Preventiva da faculdade.
Segundo especialista, a melhora da qualidade da assistência é um desafio diante do fato de que pessoas com o HIV estão vivendo cada vez mais e os governos, ampliando políticas para o diagnóstico precoce, como os testes rápidos para o vírus da aids. Atualmente, 200 mil pessoas já estão em tratamento no Brasil, a um custo de R$ 800 milhões anuais. "Mas, mesmo na capital paulista, já há dificuldades para se conseguir consultas", afirma Rodrigo Pinheiro, presidente do Fórum de ONGs/Aids de São Paulo.
Preconceito. Além de cruzar dados do sistema de controle de medicamentos, do banco de dados do conselho de medicina paulista e do programa de aids de São Paulo, entre outros, o trabalho se baseou em pesquisa telefônica com 300 prescritores de antirretrovirais, realizada pelo Datafolha, e que investigou a opinião dos médicos sobre direitos dos pacientes e novas políticas de prevenção e assistência.
Apesar de a maioria ter dito concordar com a criminalização de pessoas com o HIV, orientação técnica contrária já foi enviada pelo Ministério da Saúde, inclusive a órgãos da Justiça. Em julho, a orientação foi reforçada pelo programa de aids paulista.
"Em se tratando da transmissão e exposição ao HIV, nas relações consensuais (...), criminalizar o processo saúde-doença (...) é o caminho mais curto para o preconceito, o estigma e a discriminação", diz a nota técnica. "Na verdade, esse tipo de pensamento não prevalece somente entre os médicos como na sociedade. Desconstruir essa ideia não vai ser fácil", opinou Hugo Hagström, ativista da ONG Grupo de Incentivo à Vida.
A maioria dos médicos, porém, concorda que pessoas com HIV devem ter a possibilidade de ter filhos e se use antirretrovirais para prevenir a infecção também em casos de sexo consensual desprotegido- temas em discussão no ministério.
Saúde destaca que maioria é bem tratada
Para o diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Grecco, o estudo mostra que a maioria das pessoas com aids "está sendo atendida muito bem": "A mortalidade não aumenta, a prevalência está mantida, não é o ideal ainda, mas estamos estáveis."
Segundo Grecco, outro dado positivo é o de que 80% dos profissionais disseram conhecer o consenso de terapia com antirretrovirais da pasta.
Para Mário Scheffer, autor do estudo, porém, o porcentual de 20% dos profissionais que ainda não têm acesso ao documento, publicado no site do departamento, é preocupante. "O estudo é importante para pensarmos ainda na distribuição dos profissionais, mas é possível que ela seja reflexo de como especialistas de todos os tipos estão distribuídos", disse ainda Grecco.
O coordenador adjunto do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo, Arthur Kalichman, disse que o trabalho auxilia na melhora da políticas contra a doença, mas destacou que execução dos serviços de aids é principalmente responsabilidade municipal.
Segundo ele, em novembro o órgão realizará treinamento com profissionais de todos os serviços ambulatoriais do Estado. "(O treinamento) é um trabalho contínuo, como lavar louça. Se para, empilha na pia." Kalichman destacou ainda que o sistema de controle dos medicamento antirretrovirais bloqueia prescrições irregulares.
Fonte: O Estado de S. Paulo Retirado do site: Ag. Notícias da AIDS
Nota pessoal: Até hoje não foi noticiado a assinatura de Dna Dilma na carta do Fórum ONG Aids. Aqui fiz uma postagem que falava da assinatura dela, mas o arquivo não abriu, estou aguardando resposta de quem me enviou o arquivo. Serra assinou o compromisso com os PVHA. Mas que garantia teremos se ele assinou que não ia concorrer à Presidência. Pelo menos com o compromisso assinado teremos condições de cobrar posteriormente.
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