Jean Gorinchteyn, médico e autor de 'Sexo e Aids depois dos 50', critica falta de informações e campanhas para idosos
25/10/2010
O infectologista Jean C. Gorinchteyn lançou na última quinta-feira em São Paulo o livro “Sexo e Aids depois do 50” pela editora Ícone. Prefaciado pelo médico David Uip e com comentários dos atores Paulo Goulart, Nicete Bruno e Lima Duarte e da apresentadora Adriane Galisteu, o livro relata o impacto dessa epidemia nos idosos, delineando desde formas de infecção até o drama vivido no momento do diagnóstico.
Dr. Jean revela também exemplos de vida e superação de alguns pacientes, deixando uma marca maior que é o arrependimento de não ter se prevenido.
Agência de Notícias da Aids: Como surgiu a ideia de escrever um livro sobre esse tema?
Jean C. Gorinchteyn - Há poucas publicações científicas sobre o assunto. Porém, o mais dramático é o quão pouco se discute, em congressos médicos ou em campanhas voltadas para a própria população, sobre os riscos que os idosos correm e assim poderem ter o direito de protegerem-se. Trata-se de um livro voltado ao público em geral, incluindo-se a própria comunidade médica, servindo de alerta na prevenção e na discussão da abordagem sobre o HIV e aids nesse grupo etário.
Agência: Nós temos quase 30 anos de HIV no mundo. Quais são os fatores que o senhor atribui as dificuldades das pessoas perceberem sua vulnerabilidade perante esse vírus?
Jean - A aids perdeu ao longo da sua história o temor e a sensação da morte. O tratamento fez com que as pessoas considerassem a aids curável, e assim desmistificou seus riscos. O preservativo deixou de ser aliado nas relações para servir de intruso, sendo deixado por uns, pouco usado por outros, especialmente em pessoas acima de 50 anos que não tiveram o HIV rondando em sua adolescência e assim não se preocupavam em proteger-se, explicando a dificuldade técnica em seu manuseio, sendo preferível abster-se a usá-lo.
A presença de campanhas envolvendo atores jovens volta-se a esse público e dificulta a inserção de outras faixas etária nesse tema, criando-se a falsa sensação de imunidade adquirida ao vírus da imunodeficiência. Recentemente, campanhas singelas trataram de forma banal os riscos em idosos (entenda-se aqueles com mais de 60 anos), mas com atores septuagenários e octogenários, o que não permite o entendimento real dos riscos de infecção nem mesmo nesse grupo. Além de, novamente, marginalizar adultos com mais de 50 anos, que continuam relacionando-se sexualmente sem preservativo, e, ainda, estimulados, por drogas corretoras de distúrbios eréteis que os colocaram mais ativos sexualmente de forma não protegida e tranquilos que não se infectariam.
Agência: Quais foram os depoimentos para o livro que mais lhe tocaram?
Jean - Foi de uma senhora que com olhos cheios de lagrima, disse: "Doutor, eu sabia que meu marido saía com outras mulheres e eu tinha medo de ter relação com ele. Pedia para ele usar preservativo, pois sabia que ele poderia ter alguma doença sexualmente, como a gonorréia ou a sífilis, mas jamais pensei na aids. Isso não é doença de jovem?" Sem dúvida ela foi meu grande estímulo para escrever esse livro.
Agência: Por que as pessoas com mais de 50 anos acham que correm menos risco de se infectar?
Jean - A aids tem estereótipo jovem. Os grandes ícones que morreram, como o Lauro Corona e o Cazuza, eram associados a uma vida sexual intensa com parceiros e parceiras. As campanhas com linguajar e personagens mais jovens não permitem as pessoas identificarem-se neste cenário de risco, assim continuarão achando a aids como sendo uma doença que ocorre, exclusivamente, entre o público jovem.
Agência: Que contribuição o senhor pretende trazer para a discussão nacional sobre a aids com seu livro?
Jean - O livro tem o prefacio do Dr. David Uip, um dos médicos infectologistas mais respeitados do país, diretor do Emílio Ribas, assim como depoimentos de Paulo Goulart, Nicete Bruno, Lima Duarte e Adriane Galisteu. Todos com credibilidade pública e pelos meios de comunicação, dando assim condição de sermos ouvidos por todos, permitindo a apresentação e discussão do tema.
A divulgação do livro já trouxe, antes do seu lançamento, resultados. Recebi muitos e-mails perguntando "Mas pessoas com essa idade pegam essa doença?"
Cortesia: Clipping Bem Fam
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