Curitiba, 29 de janeiro de 2010 Nós, jovens LGBTI representantes da America Latina e Caribe, reunidos na 5ª Conferência Regional da ILGA-LAC, temos a missão política de organizar e garantir o verdadeiro espaço merecido e conquistado historicamente pela juventude, que sempre foi protagonista nos processos transformadores na América Latina e Caribe, tendo como importantes exemplos a revolução cubana e a luta contra os regimes ditatoriais em prol da democracia e das mudanças sociais. Há dez anos, o Fórum Social Mundial já dizia: é preciso globalizar as lutas. Hoje, cada vez mais, vemos a necessidade da construção de uma unidade nas lutas de todo nosso continente, defendendo a promoção da cidadania plena de jovens LGBTI. Sem dúvidas, os debates travados nesta conferência apontam importantes caminhos neste sentido para a nossa juventude. Enfrentamos hoje diversos problemas no tocante as nossas especificidades, sejam estas questões de cunho binário, étnico racial, identidade de gênero, acesso ao mercado de trabalho, inclusão de pessoas com deficiência, acesso e permanência à educação, bem como nas questões relativas aos direitos sexuais e reprodutivos. Nesse sentido evidenciamos a violência contra nossa população como temática da qual não podemos deixar de pontuar. Vemos hoje, em nossos países, um verdadeiro patrocínio a chacina de nossa comunidade e uma repressão da livre expressão de nossa afetividade, especialmente quando relacionada a nós jovens. É sabida a violência dirigida as jovens pessoas trans que são tolhidas desde cedo ao acesso a educação, mais tarde ao mercado de trabalho e a vida social, bem como sabemos que as nossas jovens lésbicas e mulheres bissexuais são violentamente vitimadas pelos conhecidos “estupros corretivos”. Sabemos que é necessário ampliarmos os diálogos e ações referentes aos direitos da juventude de pessoas vivendo com HIV/AIDS no tocante ao exercício pleno de sua sexualidade, autonomia e cidadania. Como também é fundamental pensar políticas que incluam as/os jovens que vivem com deficiência, tais como os surdos, que presentes nesta Conferência nos mostraram a importância de sua participação para uma construção ampla sobre suas especificidades, baseadas no respeito e dignidade humana. Para além da violência direta, também vemos como nossa juventude é disputada pelos mais diversos setores organizados da sociedade, como o mercado, o capital, as religiões e organizações sociais. Nessa perspectiva vemos como o modelo capitalista de sociedade de consumo direciona nossa juventude para um padrão altamente excludente, que acentua a reprodução da estigmatização, do preconceito e da violência, colocadas diariamente às jovens LGBTI, especialmente das comunidades, periferias e zona rural dificultando que todas e todos sintam-se parte integrante desta sociedade. A juventude e, em especial a adolescência, é um momento de formação psicossocial, cultural e identitária do ser humano enquanto indivíduo, sendo este o momento onde as questões culturais, religiosas e familiares se implicam diretamente. O número de suicídios de jovens LGBTI é algo alarmante e precisa ser uma preocupação de todas nós latino-americanas e caribenhas. É conhecida a dificuldade que nossas entidades e lideranças, em sua grande maioria, têm para investir e incentivar a formação de lideranças jovens, repercutindo de forma negativa na nossa luta e organização diária. Isto fica nítido ao observarmos nas delegações das entidades a reduzida quantidade juvenil. Lembramos ainda que não possuímos um grau de parceria, articulação e colaboração entre as juventudes de nossos países, e até mesmo entre o movimento LGBTI e os diversos segmentos da juventude organizada, como mulheres, juventude do campo, negras/os, pessoas vivendo com HIV/AIDS e outras tantas. Temos o desafio posto de construirmos uma juventude que integre todas as questões identitárias e não-identitárias, com uma politica que agregue, de fato, todas as pessoas na luta pela livre expressão de suas afetividades e não as distancie e segregue. Necessitamos articular as lutas da juventude internacional. Queremos uma juventude articulada, integrada e que participe fortemente dos fóruns locais e internacionais, como o IGLYO. Construir uma juventude sem lesbofobia, trasnsfobia ou qualquer outra forma de preconceito e discriminação precisa ser nosso foco principal. Precisamos investir na formação e empoderamento de nossas e nossos jovens, para além de cursos e seminários, colocando a juventude na direção dos processos e das entidades. É necessário reconhecer toda a história construída pelas nossas lideranças e referências históricas do Movimento, mas é necessário também olhar para o quadro atual, onde ainda precisamos encantar mais e novos lutadoras e lutadores para nossas fileiras. Sabemos que o desafio posto não é pequeno, mas nós, jovens latino americanos e caribenhos aqui presentes, assumimos o compromisso com nossos companheiros e companheiras de militância de estarmos lado a lado transformando nossa cara e construindo uma juventude transgressora, militante, de luta, que vá para as ruas ganhar mentes e corações para um projeto de mundo. Um projeto que consiga pensar o ser humano como centro de nossas ações, que defenda a democracia como um bem, mas acima de tudo, que defenda o fim de todas as formas de opressão e exploração do ser humano sobre ele mesmo. Saudações juvenis e libertárias
Do sitio:www.nãohomofobia.com.br
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