11 de janeiro de 2015 #361
A primeira newsletter de 2015 já é cheia de mortos. A semana começou com o ataque de radicais islâmicos à redação do semanário francês, Charlie Hebdo, e a morte de 10 jornalistas, entre eles 4 grandes cartunistas/chargistas/caricaturistas, e dois policiais – um deles, também muçulmano, de 42 anos, foi executado à queima-roupa.
No dia seguinte, mais mortos num ataque a uma loja kosher, onde 4 reféns foram mortos.E não houve mais gente fuzilada, porque o funcionário muçulmano da loja, escondeu clientes dentro do frigorífero, desligou-o e às luzes, e voltou pra loja.
Hoje, mais de um milhão e meio de pessoas se reuniram em Paris, incluindo presidentes de vários países, numa mega manifestação contra o terrorismo e pela liberdade de expressão. Não sei o que Netanyahu estava fazendo lá, pois o que faz em Gaza eu considero que também é terrorismo. Mas o premiê israelense, com um baita esquema de segurança o tempo todo, depois da manifestação, encontrou-se com o presidente francês, François Hollande, na sinagoga de Paris, e convidou os judeus franceses a irem morar em Israel."Lugar de judeu é em Israel e aqueles que forem para lá, serão recebidos de braços abertos".
Na Nigéria, o horror. Vejam o que deu o site português, Observador:
"O grupo terrorista Boko Haram pode ser assassinado duas mil pessoas na cidade de Baga, região nordeste da Nigéria, no últimos dias e conseguido dominar a região. Tanto a República de Níger como o Chade, vizinhos da Nigéria, que acordaram manter a segurança daquela região nos três países, já disseram que não vão ajudar nos esforços militares para recuperar a cidade. Baga seria a última das cidades do nordeste da Nigéria que ainda não estava sob domínio dos islamitas e esta conquista, segundo analistas de segurançaconsultados pela Al-Jazeera, tem uma "importância estratégica" para o grupo terrorista – seria a única cidade que ainda estava sob o domínio do governo nigeriano.
Para além dos relatos que apontam para o assassínio de dois mil habitantes – não há certezas sobre o número de mortos e a BBC diz que podem ser centenas -, dez mil pessoas fugiram da cidade desde o fim-de-semana. Algumas conseguiram entrar no Chade, mas muitas morreram afogadas ao tentar fugir através do lago Chade. A Amnistia Internacional disse à Associated Press que este foi o "massacre mais mortal" de sempre levado a cabo pelo grupo de Boko Haram."
E, para fechar a semana, no Rio de Janeiro, pouco depois das nove da noite, o estudante de biologia, Alex Schomaker Bastos, 24 anos, foi executado com sete tiros num assalto, enquanto esperava condução para casa, minutos depois de colocar a namorada de 22 anos num ônibus, depois de terem jantado costela com batatas fritas num restaurante bom de carne.
Alex era o filho caçula do ativista dos direitos das pessoas com deficiência, jornalista e meu amigo, Andrei Bastos. Morte que teve ampla repercussão, mas que foi coberta de forma canhestra pela imprensa. Alguém ligou pra BandNews e disse que ele havia se atracado com um dos ladrões (armados),mas há dois relatos no Facebook que desmentem essa versão e dizem que o menino não reagiu.
O portal Ig, hoje cedo, dava que "estudante que reagiu a assalto foi cremado", dando linha à tese de que "a culpa é da vítima". Ele não deve ter reagido, pois era um garoto tranquilo, já tinha sido assaltado outras vezes, e sempre entregou tudo.
O Globo deu página inteira, mas errou na idade ( deu que Alex tinha 23 anos) e no número de tiros, três, quando o laudo médico aponta para SETE tiros.
Os amigos e colegas de Alex Schomaker Bastos convocaram uma manifestação, hoje, domingo, no ponto de ônibus onde houve a execução. Muita gente compareceu, mais de 100 pessoas, e foi um ato muito emocionante e emocionado. Os estudantes vão pressionar a reitoria da UFRJ, que até agora não se manifestou, para que haja uma cabine da PM no local, onde sempre ocorrem assaltos. A universidade mantém seguranças armados dentro das suas dependências, mas não toma nenhuma providência quanto à violência no seu entorno.
No Rio, somos todos Alex Schomaker Bastos. Podemos morrer em qualquer ponto de ônibus, em qualquer esquina, sob o absoluto descaso dos governantes.
Eu acho as UPPs uma iniciativa muito boa, faltando junto a ela uma UPP social. Agora precisamos de UPPs no asfalto, para que se consiga pegar um ônibus a qualquer hora do dia e da noite e não perdermos a vida e um futuro brilhante, como aconteceu com Alex, na noite de quinta-feira. Não tenho mais nada a dizer.
Uma boa semana para todxs nós.
PS: Sabem o que o nosso ministro das Comunicações, o incansável Ricardo Berzoini, disse em relação ao massacre dos jornalistas? Que se a mídia francesa fosse controlada, essas charges não existiriam. Que tal? Já eu, Je suis Charlie.
Foi lançado o movimento Eu Sou Alex, e muitos lembraram que são Amarildo, sequestrado, torturado e morto pela PM do Rio. Somos todos Amarildo e Alex. Um foi morto pelo próprio Estado. E o outro, pela ausência dele.
Leiam a coluna da Flavia Oliveira, Sagrado Silêncio, aqui e o excelente artigo da Ana Maria, ontem, n'O Globo, Lei Neles, aqui
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