Brasil precisa expandir testes rápidos de HIV e campanhas de prevenção no interior do País, avalia coordenador do Unaids no Brasil,
Pedro Chequer
30/09/2010
O Brasil foi destaque no relatório “Rumo ao Acesso Universal” foi lançado nesta terça-feira, em Genebra, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância e Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e Aids (Unaids). O documento cita avanços e desafios que o mundo enfrenta para garantir o acesso universal ao tratamento contra a aids. O coordenador do Unaids no Brasil, Pedro Chequer, avalia que o Brasil precisa de campanhas de incentivo ao teste de HIV e prevenção mais regionalizadas.
O relatório lançado elogia a cobertura de tratamento no País - isso porque atingiu a meta de tratar mais de 80% das crianças com HIV que precisam de medicamentos antirretrovirais. Outro dado do documento é que o Brasil está perto de atingir o tratamento universal. Há a cobertura de tratamento entre 50% e 80% das pessoas infectadas pelo HIV que necessitam de remédios.
“A situação nas capitais está mais adequada, o problema está no interior do País. Os Estados e municípios precisam expandir os testes rápidos de HIV, além de campanhas regionalizadas de prevenção à aids”, afirmou Chequer.
O relatório “Rumo ao Acesso Universal” informou ainda que em 10 países de renda média ou baixa mais de 60% dos portadores do HIV não sabiam que tinham o vírus. Como resultado, muitos pacientes começaram o tratamento tarde demais. “No Brasil, um pouco mais de 220 mil pessoas não sabem a sorologia. Creio que outra forma de combater esse problema é fazendo com que a aids não seja considerada um tabu na sociedade, para as pessoas procurarem o teste rápido de HIV. Mas, isso é só possível com educação nas escolas. Por isso que acredito bastante nos programas que estão em desenvolvimento atualmente nessa área”, comentou Chequer.
“O Brasil teve uma decisão acertada em oferecer o tratamento antirretroviral desde meados de 97, isso pode ter ajudado a controlar a epidemia. Quem está em tratamento tem menos probabilidade de transmitir o vírus”, acrescentou
Aids no Mundo
O relatório “Rumo ao Acesso Universal”, lançado nesta terça-feira, cita que em 2009, apenas nos países de renda média ou baixa, 5.25 milhões de pessoas estavam em TARV, o que representa 36% do total de pessoas que precisam de tratamento. Esses números significam um aumento de mais de 1.2 milhão de pessoas, o maior já registrado durante o período de um ano.
Mesmo assim, apesar dos avanços, Pedro Chequer afirma estar preocupado com outra situação mostrada no documento. “Os recursos financeiros diminuíram para aids, isso mostra que a epidemia não é mais prioridade para a maioria dos países."
Governo negocia com Merck transferência de conhecimento para a produção nacional do raltegravir.
30/09/2010
Ativistas contestam investimento de R$ 1,25 bi para ‘antirretroviral pouco usado’
O Ministério da Saúde está prestes a fechar um acordo com o Merck Sharp & Dohme que visa à transferência de conhecimento desse laboratório norte-americano ao Brasil para a produção nacional do remédio antiaids raltegravir, usado por cerca de 4.000 pacientes.
Discutida num seminário promovido pelo Ministério da Saúde do Brasil em Washington, nos Estados Unidos, essa parceria será público-privada. O Merck deve transferir conhecimento para a empresa privada brasileira Nortec Química produzir a matéria-prima do raltegravir, e o Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (Lafepe) se encarregaria da produção final.
Na última compra do raltegravir, suficiente para um ano, o Brasil importou o equivalente a R$ 86,1 milhões e, com essa nova parceria, as compras anuais do governo devem chegar a R$ 250 milhões.
O acordo terá validade de cinco anos, o que faz com que os valores totais da operação cheguem a R$ 1,25 bilhão. Depois dessa data, as duas empresas brasileiras passarão a produzir de forma autônoma o medicamento, pagando royalties para a Merck até 2019, quando vence a patente.
"O Brasil é prioritário para nós, junto com a China", disse ao Valor João Sanches, diretor de relações governamentais da MSD, nome das operações do Merck no Brasil.
Para o Presidente do Fórum de Organizações Não Governamentais (ONG) que atuam na área da aids no Estado de São Paulo, Rodrigo Pinheiro, essa negociação não parece vantajosa ao Brasil. “Precisamos discutir e analisar melhor essa parceria, mas não acredito que foi positiva”, comentou. “Parece-me muito investimento para um remédio que ainda é usado por poucas pessoas”, acrescentou.
A quantidade de pacientes que usam o raltegravir no Brasil representa 2.5% do total de portadores do HIV em tratamento antirretroviral no país.
Esse remédio é um dos mais novos no coquetel antiaids distribuído pelo Governo e trata-se de um inibidor de integrase, recomendado apenas àqueles pacientes que já apresentaram múltiplas falhas em combinações anteriores.
Sergio Souza Costa participa do Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual (GTPI) e da Coalizão Internacional de Ativistas em Tratamentos. Ele explica que o essencial é ter esse antirretroviral disponível para todos e com boa qualidade, mas ressalta a importância do governo estar atento ao negociar com a indústria farmacêutica. “A comercialização de qualquer medicamento requer um planejamento econômico para garantir a sustentabilidade na distribuição do produto, pois isso dará ao governo a possibilidade de investir em novos fármacos que serão essenciais num futuro próximo”.
A assessoria de imprensa do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, informa que após a conclusão da transferência de conhecimento para a produção nacional do raltegravir, a expectativa de redução nos custo é na ordem de 20% a 50%, conforme experiências com outros antirretrovirais.
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, está em Washington para essa e outras negociações. Nessa terça-feira, ele assinou um acordo para a transferência de tecnologia em biotecnologia entre a multinacional americana Pfizer, a israelense Protalix e o Ministério da Saúde, por meio do laboratório público Biomanguinhos. Em cinco anos, o medicamento para o tratamento da doença de Gaucher, taliglucerase alfa, também passará a ser produzido no Brasil.
Cortesia: Clipping Bem Fam
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