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Casos de Aids entre idosos no país sobem 90% em oito anos
Um dos principais motivos é o uso de medicamentos que ajudam na ereção
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Hoje é o décimo primeiro ano em que se comemora o Dia Nacional do Idoso, data criada em 1999. De lá para cá, a população acima de 60 anos cresceu 49% - passando de 14,5 milhões para 21,7 milhões no ano passado. Os brasileiros estão vivendo mais e, com a ajuda de medicamentos destinados à impotência sexual, estão aproveitando a "melhor idade" para namorar. Sem a orientação necessária, no entanto, essa maior liberdade sexual trouxe graves consequências.
O número de casos de Aids nessa faixa etária subiu 90% entre os anos de 2000 e de 2008, em todo o país. Há dez anos, eram 693 casos notificados entre a população de 60 anos ou mais. Em 2008, esse número subiu para 1.321, de acordo com o Ministério da Saúde. Em Minas, o aumento de casos de Aids entre os idosos nesse período foi de 89,7%.
Para o chefe da Unidade de Vigilância Epidemiológica do Departamento de DST e Aids do Ministério da Saúde, Gerson Fernando Mendes Pereira, um dos principais motivos para esse aumento é o uso de remédios que ajudam na ereção, como o Viagra.
Pereira também aponta como causas o aumento da expectativa de vida do brasileiro e a falta de familiaridade das pessoas acima de 60 anos com a camisinha. "Os idosos não têm o costume de usar preservativo porque não cresceram ouvindo sobre a importância deles, como os jovens", explica. Isso se reflete nos números. Enquanto a doença quase dobrou nessa faixa etária em oito anos, a soma de todos os casos notificados no país teve crescimento de 13,9%. Em Minas, houve uma pequena queda de 1% nos casos entre a população em geral, nesse mesmo período.
Para a coordenadora de DST e Aids da Secretaria de Estado de Saúde de Minas, Glauciene Prado Alves, é preciso mostrar aos idosos que, mesmo em relações estáveis, a camisinha é indispensável. "Antes, a Aids estava presente somente em grupos específicos, como os homossexuais, por exemplo. Agora ela se difundiu para todos os grupos. A doença é uma realidade, e os idosos precisam se adequar a ela", diz.
Sem medo. Segundo o médico urologista Marcelo Miranda Salim, membro da Sociedade Brasileira de Urologia, os homens temem mais a impotência do que as doenças sexualmente transmissíveis. "Os homens mais idosos, de modo geral, não têm medo de contrair a doença. Já vi idosos dizerem que pagam mais caro às prostitutas para que elas permitam que eles não usem a camisinha", conta.
Salim lembra que não existe mais idade para interromper a atividade sexual. "O homem que cuida bem de si com atividade física e boa alimentação mantém a atividade até após os 75 anos. Sem contar que ele pode usar medicamentos que ajudam", afirma o urologista.
FOTO: CHARLES SILVA DUARTE
Eunice, 79, e Plínio, 87, `namoram´ até hoje
CHARLES SILVA DUARTE
Eunice, 79, e Plínio, 87, `namoram´ até hoje
Bons exemplos
Vida sexual ativa, com prevenção
Apesar do alto índice de pessoas que não se cuidam, existe um grupo que vive uma intensa vida sexual com muita responsabilidade. É o caso da aposentada Joana Maria de Mesquita, 68. Ela é divorciada há 18 anos e, desde que se separou, nunca ficou totalmente sozinha. Mas ela garante fazer questão que os parceiros usem camisinha.
Joana já chegou a dispensar um parceiro pela falta do preservativo. Segundo ela, ele disse que não precisava usar a camisinha porque "era limpinho". Mas ela não aceitou e nunca mais foi procurada pelo pretendente. Para Joana, a idade não atrapalhou em nada a vida sexual. "Para a mulher, a passagem de tempo não muda muita coisa. Costumo dizer que a mulher envelhece da cintura para cima; já o homem, da cintura para baixo", brinca.
Apesar de ter a vida sexual ativa Maria dá mais valor a outras coisas no relacionamento. "Para mim, a amizade e o companheirismo são mais importantes. Se um homem chegar para mim e falar que quer namorar comigo, mas não quer ter relações sexuais, não me importo, desde que ele seja uma pessoa bacana, que me faça feliz", afirma.
O casal de aposentados Eunice de Azevedo Cardoso, 79, e Plínio de Carvalho Cardoso, 87, estão casados há 57 anos e ainda namoram como antigamente. "A gente namora muito porque só tem a gente dentro de casa", conta Eunice. Quando o assunto é sexo, ela garante: "O corpo não responde tanto, mas ainda rola alguma coisa. A idade só não permite arroubos", diz.
Plínio completa: "Nosso relacionamento é ótimo. Tudo acontece de forma muito natural. É menos atividade, menos vezes, mas sem preocupação", conta. Apesar de terem se casado em um período em que o uso da camisinha não era tão comum, Eunice conta que eles usaram durante muito tempo o preservativo e que ensinaram tudo a respeito da prevenção para os quatro filhos.
A psicóloga Karen Saviotti, da Integrart-Solar Maturidade, ressalta que quem não consegue mais manter relações sexuais como antes pode viver a sexualidade de outra forma. "Os idosos têm sexualidade mesmo quando não conseguem mais uma vida sexual ativa. Um olhar, um aperto de mão e um abraço também são sexualidade", explica. (TL)
Raimundo Costa
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