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ESTADO DE MINAS - MG | CIÊNCIA
HPV | HEPATITE
01/06/2010
Vacina freia o câncer de mama
Pesquisadores norte-americanos testam em animais antígeno contra tumor, usando proteína encontrada em mulheres que têm o seio doente ou estão amamentando
Tatiana Sabadini
Uma vacina pode ser a esperança contra uma doença que vitima milhares de mulheres no mundo todo, o câncer de mama. Cientistas norte-americanos desenvolveram uma fórmula capaz de prevenir a formação de tumores. A ideia é atacar o mal antes mesmo de seu surgimento. Um conceito aparentemente simples, mas que, até o momento, não havia sido explorado pela ciência. Testes foram realizados com êxito em camundongos em laboratório e divulgados ontem na revista especializada Nature Medicine. O próximo passo é fazer um estudo com humanos. Se a nova etapa for bem-sucedida, a descoberta pode revolucionar a medicina e eliminar de vez esse tipo de câncer, que no Brasil pode acometer quase 50 mil pessoas somente este ano, segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
A vacina comum estimula o sistema imunológico a combater vírus ou bactérias. Criar uma fórmula contra um tumor é um grande desfio porque, ao tentar eliminar as células cancerígenas, o antígeno também pode atacar os tecidos saudáveis do organismo. "Acreditamos que o câncer de mama pode ser prevenido e trabalhamos com a premissa de que, com uma estimulação correta do sistema imunológico, podemos fazer isso", contou ao Estado de Minas Vincent Tuohy, imunologista e chefe do estudo realizado pelo Cleveland Clinic"s Lerner Research Institute.
Duas vacinas de prevenção ao câncer - uma contra a contaminação do colo do útero e outra do fígado - já foram desenvolvidas e estão
"Conseguimos a imunidade depois de identificarmos a a-lactoalbumina, que tinha todas as características de que precisávamos. Como ela é encontrada em duas ocasiões - em tecidos da mama apenas durante a amamentação e em tumores nos seios -, achávamos que ela poderia dar proteção contra o desenvolvimento do câncer sem induzir qualquer complicação ou inflamação para qualquer outro tecido do seio. E deu certo", diz Tuohy.
O objetivo da vacina é ativar o sistema imunológico para combater a a -lactoalbumina e, assim, impedir a formação de um tumor. Durante a pesquisa, os cientistas testaram a dose em camundongos com predisposição genética para o câncer. Metade deles recebeu o antígeno e outro grupo recebeu um placebo. Nenhum animal que tinha recebido a dose com a-lactoalbumina desenvolveu o tumor, enquanto aqueles que receberam a fórmula sem a substância, sim.
A estratégia seria aplicar a vacina em dois grupos de mulheres: com mais de 40 anos e em mais jovens que tenham a predisposição genética. "O estudo sustenta a possibilidade uma mulher adulta saudável, que tenha passado por uma gravidez e pela amamentação, possa ser vacinada com segurança contra a a-lactoalbumina e, consequentemente, obtenha uma proteção significativa contra o câncer de mama", afirma o pesquisador. Outros testes ainda precisam ser feitos, mas a fase dos experimentos clínicos pode provocar mais desafios e deve começar no início de 2011. Agora, os pesquisadores devem passar meses em laboratório para determinar a toxidade, a dosagem e a segurança de testar a vacina.
Histórico Devem participar do estudo mulheres com câncer de mama em estágio avançado e mulheres com histórico familiar ou genético de desenvolver câncer de mama. "Esperamos que essa publicação possa facilitar novos investimentos e ajudar nossa equipe a seguir em frente com mais rapidez para conseguirmos desenvolver essa nova arma contra o câncer de mama", comenta Vicent Tuohy. Na prática, a vacina pode demorar 10 anos para chegar até a população mundial.
Para Amândio Soares, oncologista e diretor do Oncomed - Centro de Prevenção e Tratamento de Doenças Neoplásicas de Belo Horizonte, o caminho deve ser mesmo longo. "Esse é um estudo experimental. Ainda precisamos identificar o que pode causar o tumor porque câncer de mama não é uma doença única. Ainda vai demorar muitos anos até conseguirmos colocar uma vacina no mercado, mas a ideia é muito interessante", comenta o especialista.
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