Em agosto do ano passado, quando deixou o PT e se transferiu para o Partido Verde (PV), a senadora Marina Silva (AC) queria transformar-se em uma alternativa eleitoral à anunciada polarização entre a ex-ministra Dilma Rousseff, candidata governista ao Planalto, e o principal nome da oposição, o ex-governador de São Paulo José Serra, do PSDB. Na solenidade de filiação à nova legenda, Marina defendeu uma nova forma de gestão pública, com foco numa economia ambientalmente sustentável , e a revisão do programa do PV para incorporar outras bandeiras, além das ecológicas. Menos de cinco meses antes da eleição presidencial, o discurso da senadora ainda não surtiu efeito. Pelas últimas pesquisas, a disputa pela Presidência continua restrita a Dilma e Serra.
Marina Silva em frente ao Congresso. Sua campanha dará prioridade à classe média, aos jovens e às mulheres pobres e evangélicas
Na semana passada, dois acontecimentos deram nova energia à campanha de Marina. No dia 16 de maio, o PV formalizou em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, a candidatura de Marina à Presidência da República. Em clima de festa, mais de 1.000 militantes verdes de todo o país prestigiaram a largada de Marina na corrida rumo ao Planalto. No palco, estava o cantor e compositor Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura de Lula, fundador do partido e um dos maiores entusiastas da candidatura Marina. Na mesma ocasião, os verdes anunciaram a segunda boa notícia. Depois de muitos meses de negociação, o empresário Guilherme Leal aceitou ocupar a vaga de vice na chapa de Marina. Sócio da Natura, empresa do ramo de cosméticos, Leal ficou bilionário adotando práticas mais compatíveis com o meio ambiente. A identificação com as causas ecológicas e, claro, a possibilidade de reforço no caixa fizeram de Leal o nome ideal para acompanhar Marina na busca dos votos dos eleitores.
Marina tem vontade de sobra para enfrentar os dois adversários mais fortes. Ela costuma se comparar à jaguatirica, um tipo de onça muito comum no Brasil, geralmente associada à imagem de ferocidade. O jeito delicado da senadora guarda pouca semelhança com a natureza violenta do felino, mas a referência ao animal dá uma ideia do espírito que ela pretende imprimir na campanha. Filha de uma família pobre do interior do Acre, a mulher que o PV quer levar ao Planalto trabalhou como seringueira e empregada doméstica para ajudar a sustentar os sete irmãos sobreviventes. Marina aprendeu a ler e escrever aos 16 anos pelo antigo Mobral, o programa de alfabetização do governo militar. A militância no PT proporcionou a Marina uma surpreendente trajetória política que a levou ao ministério de Lula, de onde saiu em maio de 2008, descontente com a falta de apoio para suas propostas.
A confirmação do nome de Leal completou a equipe montada para conduzir a campanha. Na mudança para o PV, Marina levou outros dez petistas insatisfeitos com o governo Lula. Entre eles o ex-deputado federal do PT de São Paulo Luciano Zica, ex-secretário Nacional de Energia do Ministério do Meio Ambiente. Na campanha, ele é responsável pela escolha da agenda política. Outro ex-auxiliar de Marina que migrou para o PV, Bazileu Margarido, ex-presidente do Ibama, atua agora como assessor da candidata.
O ex-secretário executivo do ministério João Paulo Capobianco continua no posto de principal ideólogo de Marina para as questões ambientais. Fundador das s ONGs SOS Mata Atlântica e do Instituto Socioambiental (ISA), ele já era filiado ao PV e foi sua ponte com o novo partido. Para elaborar o programa econômico, Marina escolheu dois especialistas de peso: os economistas Paulo Sandroni, da Fundação Getulio Vargas, e Eduardo Gianetti da Fonseca, do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), que também é cientista social e escritor. Sandroni e Gianetti têm a responsabilidade de formular propostas para atrair os setores identificados com as práticas conhecidas como nova economia, chamada pelo PV de “economia descarbonizada”. Os dois contam com a colaboração de Ricardo Paes de Barros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), especialista em desigualdade social, educação, pobreza e mercado de trabalho no Brasil e na América Latina.
O PV incluiu na assessoria da candidata o presidente em exercício da legenda, o vereador carioca e ex-guerrilheiro Alfredo Sirkis, atual coordenador-geral da campanha. Das ONGs ambientalistas, o nome mais conhecido é do administrador Roberto Kishinami, que atuou como consultor do ministério na gestão Marina. Também faz parte da equipe de colaboradores do programa de governo o antropólogo Luiz Eduardo Soares, secretário Nacional de Segurança Pública em 2003.
As pesquisas encomendadas pelo PV mostram que três segmentos aceitam com mais facilidade o nome da senadora. O primeiro são os setores da classe média que discutem temas modernos como aquecimento global, desmatamento na Amazônia e reciclagem de lixo. O segundo segmento é o de jovens que se informam pela internet e buscam causas novas para se envolver. O terceiro grupo é o de mulheres pobres e cristãs identificadas com a história da candidata.
O problema mais grave para Marina é a falta de estrutura partidária. Com uma bancada de 15 deputados, o PV só disporá de três minutos de propaganda eleitoral na TV. Como trunfo, a candidata tem o apoio do cineasta Fernando Meireles, responsável pelo programa do partido que foi ao ar há quase dois meses.
A chegada de Marina ao PV causou turbulências. O ministro da Cultura, Juca Ferreira, pediu licença do partido por discordar da candidata em relação a temas como aborto, homossexualidade e pesquisas com células-tronco. Marina é contra o aborto e a descriminalização das drogas, propostas defendidas no programa do partido. Nesses dois casos, ela propõe plebiscitos para que a população decida (leia mais na entrevista de Marina).
Marina abraça o companheiro de chapa, Guilherme Leal, no anúncio da candidatura pelo PV. Ao lado, o ex-ministro Gilberto Gil é um entusiasta da candidata verde
Quem são os responsáveis pela campanha do Partido Verde e os formuladores de políticas públicas do programa de governo que a candidata deverá apresentar na disputa pelo Palácio do Planalto
GUILHERME LEAL | JOÃO PAULO CAPOBIANCO Ex-secretário do Ministério do Meio Ambiente, é o principal ideólogo de Marina. A partir de julho será coordenador-geral da campanha | ALFREDO SIRKIS Vereador no Rio, é vice-presidente do PV. Coordenará a campanha de Marina até junho, quando lançará sua candidatura a deputado federal | LUCIANO ZICA Ex-deputado federal pelo PT, faz a supervisão política da candidatura. Vai concorrer a deputado federal por São Paulo |
BAZILEU ALVES MARGARIDO Assessor direto de Marina no Senado, vai atuar como uma espécie de secretário executivo da candidata | PAULO SANDRONI Professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), coordena a equipe que elabora o programa de governo da candidata | EDUARDO GIANETTI DA FONSECA O economista ajudará no programa de governo propondo mecanismos que aumentem a transparência | RICARDO PAES DE BARROS É economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Deve colaborar na elaboração dos programas sociais da candidata |
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