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Após os problemas na saúde pública revelados numa troca de e-mails entre médicos do Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio, o RJTV entrou na unidade com uma câmera escondida e registrou imagens de abandono. A Secretaria municipal de Saúde informou que vai abrir sindicância para apurar o caso.
Na sala amarela do Hospital Souza Aguiar, onde ficam os pacientes de média gravidade, homens e mulheres dividem pouco espaço, em macas coladas umas às outras, sem qualquer conforto.
Mensagens na internet
A falta de estrutura e até erros médicos foram revelados em e-mails trocados pelos profissionais do hospital, que deveriam ser lidos apenas por um grupo de médicos, mas, por engano, ficaram acessíveis a todos na internet.
Em uma das mensagens, um profissional fala sobre "um guia metálico, esquecido na veia femural de um paciente". Em outro e-mail o assunto é a falta de enfermeiros no plantão. O médico diz que "o isolamento de uma paciente com doença contagiosa não é feito da forma adequada e há risco de contaminação".
Em outra mensagem, um médico lamenta "a morte de jovem de 14 anos e estranha o fato de o menino ter sofrido uma parada cardiorrespiratória".
Há ainda um e-mail, em que o responsável pelo CTI recomenda que as vagas sejam preenchidas rapidamente, "para evitar transferências externas, na maioria dos casos pacientes em estado grave e moribundos,removidos das UPAs".
Família de húngaro reclama de demora
As mensagens foram descobertas por uma equipe da Globo News, durante uma reportagem sobre a morte do fotógrafo húngaro Andreas Palluch, no Hospital Souza Aguiar. O estrangeiro levou uma gravata durante um assalto, mas ficou mais de um mês a espera de uma cirurgia e morreu no início de abril.
A família de Andreas Palluch acredita houve uma sucessão de erros por parte do hospital e agora quer ajuda do Ministério Público para que o caso seja investigado.
"Eu espero que ninguém, nem nenhuma família ou paciente, passe por isso. É muito doloroso", comentou a filha do húngaro, Andréa Palluch.
Sindicância
O secretário municipal de Saúde disse que os problemas descritos nas trocas de e-mails serão investigados, principalmente a orientação de não liberar vagas na UTI para pacientes de fora.
“Somos absolutamente contrários à não obediência do processo de regulação de leitos. Nós vamos abrir uma sindicância para apurar os fatos colocados nas reportagens que abordaram o fato e ver a veracidade de cada um deles e tomar as medidas competentes nesta direção”, disse o secretário Hans Dohmann.
Para a especialista em saúde pública, Lígia Bahia, a situação do Hospital Souza Aguiar é inadmissível.
“Essa troca de correspondência é assustadora porque é como se houvesse um costume, são profissionais que estão se acostumando com situações extremamente aviltantes de trabalho, situações extremamente degradantes no atendimento dos pacientes. É um retrato de guerra”, falou Lígia.
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