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Uma baixa contagem de células CD4, antes e depois do início da Terapêutica Antirretroviral (TAR) foi associada ao aparecimento de cataratas mas não houve nenhuma evidência de que algum medicamento antirretroviral estivesse individualmente associado a um risco mais elevado desta doença. As cataratas são opacidades que se desenvolvem no cristalino do olho, seja como resultado do envelhecimento, seja como consequência a longo prazo de infeções virais e inflamações oculares.
O tratamento a longo prazo com corticosteroides pode igualmente elevar o risco de desenvolvimento de catarata. Os investigadores sugerem que as cataratas pode ser uma das “doenças do envelhecimento” associadas ao VIH.
Acrescentam que os médicos devem estar cientes desta condição, “contudo, tendo em conta o nível do excesso de risco não parece haver indicação para exames oftalmológicos especiais ou alterações nos esquemas terapêuticos.” Os avanços no tratamento e nos cuidados resultaram em melhorias dramáticas na esperança de vida dos doentes com VIH.
No entanto, esta expectativa continua ser menor nos doentes seropositivos para a infeção pelo VIH do que na população em geral. Isto deve-se parcialmente ao facto de os doentes infetados com VIH terem um risco aumentado das chamadas doenças de envelhecimento, por exemplo doença cardiovascular, problemas renais e hepáticos, osteoporose e alguns tipos de cancro(CÂNCER). As razões exatas para isto são controversas, mas podem incluir supressão imunitária, os efeitos inflamatórios do VIH, coinfecções, fatores de estilo de vida e efeitos secundários de alguns medicamentos antirretrovirais.
As cataratas são bem reconhecidas como uma doença de uma idade mais avançada e os investigadores dinamarqueses quiseram verificar se ocorria com maior frequência nos doentes seropositivos do que na população geral. A amostra do estudo incluiu 5 315 doentes na coorte nacional de seropositivos da Dinamarca.
Cada doente foi comparado com 10 pessoas seronegativas, do mesmo sexo e da mesma faixa etária, entre a população dinamarquesa. Os investigadores compararam a incidência de cirurgias às cataratas entre a população seropositiva e seronegativa. Conduziram também uma série de análises para verificar se havia alguns fatores associados com a formação de cataratas nos doentes seropositivos.
Três quartos dos doentes seropositivos eram homens com idade média de 37 anos. As pessoas seropositivas contribuíram com um total de 44 561 pessoas/ano de seguimento e a população de controle contribuiu com 555 902 pessoas/ano.
As cirurgias às cataratas foram realizadas em 90 (1,7%) doentes seropositivos e 718 (1,4%) do grupo de controlo. A doença ocular que pode predispor uma pessoa às cataratas foi detetada em 252 (5%) dos doentes com infeção pelo VIH e 494 (1%) das pessoas seronegativas.
No geral, os investigadores encontraram um risco mais elevado de cirurgia às cataratas na população seropositiva comparada com os controlos (IRR = 1,87%; 95% CI, 1,50-2,33).
Uma contagem de células CD4 abaixo das 200/mm3 foi associada a um risco aumentado de cirurgia às cataratas tanto antes (IRR = 3,11; 95% CI, 1,26-7,63) como depois (IRR = 4,74; 95% CI, 2,60-8,62) de iniciar o tratamento.
A comparação com os controles seronegativos demostrou que as pessoas infetadas tratadas com medicamentos antirretrovirais e contagem de células CD4 abaixo das 200 cópias tinham também um risco significativamente aumentado de serem operadas às cataratas (IRR = 1,87; 95% CI, 1,46-2,39).
Contudo, não houve evidência de que algum medicamento antirretroviral aumentasse o risco de catarata.
“Este estudo relacionou um risco mais elevado de cirurgia de cataratas em pessoas infetadas pelo VIH, comparadas com pessoas do mesmo sexo e idade na coorte de pessoas não infetadas, comentam os investigadores. “Embora o risco de doença ocular que predisponha ao aparecimento de cataratas seja mais elevado nas pessoas infetadas pelo VIH, concluímos que o risco de cirurgia às cataratas não se devia simplesmente à elevada ocorrência de tais eventos”.
Eles realçam que uma contagem de células CD4 abaixo das 200/mm3 parece estar associada a um risco especialmente aumentado de aparecimento de cataratas independentemente da utilização de medicação antirretroviral, acrescentando que não foi observado um excesso de risco significativo após o início de abacavir, tenofovir, Inibidores da Protease, ou INNTR.
O aparente risco aumentado era visível em todas as faixas etárias acima dos 35 anos de idade.
Os investigadores não têm certezas sobre as razões exatas pela qual a infeção pelo VH está associada com um aumento do risco de cataratas.
A doença ocular foi considerada como uma causa possível, bem como os efeitos secundários provocados pelos medicamentos antirretrovirais.
Contudo, eles acrescentam que a utilização da terapêutica antirretroviral “também pode ser indicador de uma população com um risco acrescido de desenvolvimento de uma doença mais do que a indicação de efeitos tóxicos a nível ocular induzidos pela Terapêutica Antirretroviral Altamente Eficaz (HAART, em inglês).”
Os investigadores concluem que a infecção pelo VIH tem sido associada a um aumento de risco de doença cardiovascular e outras doenças de envelhecimento, e o envelhecimento precoce na população infetada pelo VIH não pode ser excluído como uma das razões possíveis da explicação.
Referência: Rasmussen LD et al. Risk of cataract surgery in HIV-infected individuals: a Danish nationwide population-based cohort study. Clin Infect Dis, doi: 10.1093/cid/cir675, 2011 (clique aqui para aceder gratuitamente ao abstract).
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