Lurdinha, companheira coordenadora da Cisp LGBT
A Liga Brasileira de Lésbicas está com duas pessoas na Comissão Interdisciplinar de Saude de Lésbicas, Gays, Bissexuais, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS - CISP LGBT e a articulação Brasileira de Travestis - Antra não tem nenhum vaga.
Precisamos ser mais democraticos e permitir que a Antra fale sobre os problemas de saúde enfrentados pelas travestis.
Convidar pontualmente duas travestis para ir na Cisp LGBT não resolve o problema .
A Liga Brasileira de Lésbicas - LBL precisa garantir espaço permamente para a Antra na Cisp LGBT.
Veja abaixo o artigo do Dr. Drauzio varela.
Léo Mendes
A GAZETA - MT | CIDADES
AIDS | DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSIVEIS | LGBT
01/03/2011
Dráuzio Varella
Se fosse possível juntar os preconceitos manifestados contra negros, índios, pobres, homossexuais, garotas de programa, mendigos, gordos, anões, judeus, muçulmanos, orientais e outras minorias que a imaginação mais tacanha fosse capaz de repudiar, a somatória não resvalaria os pés do desprezo virulento que a sociedade manifesta pelos TRAVESTIS.
Quem são esses jovens travestidos de mulheres fatais, que expõem o corpo com ousadia nas esquinas da noite e na beira das estradas? Apesar da diversidade que os distingue, todos têm em comum a origem: são filhos das camadas mais pobres da população.
A homossexualidade é tão velha quanto a humanidade. Sempre existiu uma minoria de homens e mulheres homossexuais em qualquer classe social; caracteristicamente, no entanto, TRAVESTIS só aparecem nas famílias humildes.
Na infância, foram meninos com jeito afeminado, que se tivessem nascido entre gente culta e com posses, poderiam ser profissionais liberais, artistas plásticos, empresários, costureiros, atores de sucesso. Mas, como tiveram o infortúnio de vir ao mundo no meio da pobreza e da ignorância, experimentaram toda a sorte de abusos: foram xingados nas ruas, ridicularizados na escola, violentados pelos mais velhos, ouviram cochichos e zombarias por onde passaram, apanharam de pais e irmãos envergonhados.
Em ambiente tão hostil, poucos conseguem concluir os estudos elementares. Na adolescência, com a autoestima rebaixada, despreparados intelectualmente, saem atrás de trabalho. Quem dá emprego para HOMOSSEXUAL pobre?
Se para os mais ricos com diploma universitário não é fácil, imagine para eles. O máximo que conseguem é lugar de cozinheiro em botequim, varredor de salão de beleza na periferia ou atividade semelhante sem carteira assinada.
Vivendo nessa condição, o menino aprende com os parceiros de sina que bastará hormônio feminino, maquiagem para esconder a barba, uma saia mínima com bustiê, sapato alto e um bom ponto na avenida para ganhar numa noite mais do que o salário do mês.
Uma vez na rua, todo TRAVESTI é considerado marginal perigoso, sem nenhuma chance de provar o contrário. Pode ser preso a qualquer momento, agredido ou assassinado por algum psicopata, que nenhum transeunte moverá um dedo em sua defesa. "Alguma ele deve ter feito para merecer", pensam todos.
Levado para a delegacia irá parar numa cadeia masculina. Como conseguem sobreviver de sainha e bustiê em celas com vinte ou trinta homens, numa situação em que o mais empedernido machão corre perigo, é para mim um dos mistérios da vida no cárcere, talvez o maior deles.
A condição de saúde dos TRAVESTIS é precária. Não existe um serviço de saúde com endocrinologistas para orientá-los a respeito dos hormônios femininos que tomam por conta própria. Muitos injetam silicone na face, nas nádegas, nas coxas, mas sem dinheiro para adquirir o de uso médico, fazem-no com silicone industrial comprado em casa de materiais de construção, injetado por pessoas despreparadas, sem qualquer cuidado de higiene. Com o tempo, esse silicone impróprio escorre entre as fibras musculares dando origem a inflamações dolorosas, desfigurantes, difíceis de debelar.
Ainda os portadores do vírus da AIDS encontram algum apoio e assistência médica nos centros especializados, locais em que os funcionários estão mais preparados para aceitar a diversidade sexual. Nos hospitais gerais, entretanto, poucos conseguem passar da portaria, barrados pelo preconceito generalizado, praga que não poupa médicos, enfermeiras e pessoal administrativo.
Os hospitais públicos deveriam ser obrigados a criar pelo menos um posto de atendimento especializado nos problemas médicos mais comuns entre os TRAVESTIS. Um local em que pudessem ser acolhidos com respeito, para receber orientações sobre uso e complicações de hormônios femininos e silicone industrial, prevenção e tratamento de doenças sexualmente transmissíveis e práticas de sexo seguro.
A saúde pública não pode continuar dando as costas para essa minoria de homens, só porque eles decidiram adotar a identidade feminina, direito de qualquer um. Quem somos nós para condená-los?
Que autoritarismo preconceituoso é esse que lhes nega acesso à assistência médica, direito mínimo garantido pela constituição até para o criminoso mais sanguinário?
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