Resumo:
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Introdução:
No Brasil, nos últimos anos, a transexualidade tem sido objeto
de políticas públicas, principalmente no campo da
saúde. Apesar de ser tema de discussões sociais e de
investigações acadêmicas e estar frequentemente
em evidência nos meios de comunicação, como
televisão, revistas e internet, ainda pode ser considerada um
universo pouco conhecido. A existência de múltiplas
dimensões dessa questão, tanto no que se refere às
pessoas que vivenciam a transexualidade, como às pessoas que
entram em contato de alguma forma com essa realidade, configuram-na
como uma questão complexa. Uma dessas dimensões é
o que se sabe sobre a transexualidade e como ela é percebida
socialmente, pois esses fatores podem influenciar as relações
e as condutas das pessoas ao lidar com essa questão. No campo
da saúde, a forma como o profissional de saúde percebe
a transexualidade pode ter influência direta nas suas práticas
e, consequentemente, na direção e na qualidade da
atenção à saúde. Compreender essa
percepção se torna fundamental para a construção
de uma atenção à saúde de qualidade.
Objetivos: Analisar as representações sociais de
profissionais de saúde da Secretaria de Estado de Saúde
do Distrito Federal sobre transexualidade, por meio da identificação
de conhecimentos e vivências, e do conteúdo e da
estrutura dessas representações. Métodos:
Trata-se de um estudo baseado na Teoria das Representações
Sociais com 128 profissionais de saúde, médicos,
enfermeiros e auxiliares/técnicos em enfermagem de 22 unidades
de saúde da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito
Federal, utilizando questionário semi-estruturado
auto-aplicável. O processamento dos dados foi feitos pelos
softwares ALCESTE e EVOC. Foram observadas todas as recomendações
éticas vigentes. Resultados: Quanto ao perfil dos
profissionais, nota-se a predominância de participantes do sexo
feminino, casados ou vivendo em união estável,
católicos e pardos. A idade variou entre 24 e 67 anos (mediana
43, média 42), predominando a faixa etária de 30 a 49
anos (62,4%). Quanto às características profissionais,
a maior parte dos participantes é de Centros de Saúde
de atenção básica, profissionais da área
da enfermagem, sendo que a maior parte são auxiliares ou
técnicos em enfermagem e quase 60% afirma já ter
atendido uma pessoa transexual ao longo de sua carreira profissional.
Em relação ao conteúdo das representações
sociais, os profissionais percebem a transexualidade como paciente
que muda de sexo e precisa ser aceito, e como pessoas que merecem
respeito, mas que falta habilidade profissional para lidar com essa
questão. No que se refere à estrutura das
representações sociais, os termos “mudança de
sexo” e “preconceito” aparecem como pertencendo ao núcleo
central, e, dentre outros, “discriminação”, “opção”
“coragem” como fazendo parte do sistema periférico.
Discussão e Considerações finais: As
representações sociais dos profissionais de saúde
sobre transexualidade aparentemente tem forte relação
com as variáveis categoria profissional, sexo e religião.
Relatam que se sentem despreparados para lidar com essa questão,
evidenciando a necessidade de uma política de educação
permanente em saúde que atenda a essa demanda. A construção
de um sistema de saúde que contribua para a redução
das desigualdades e para a melhoria da qualidade de vida da população
passa pela compreensão da construção de
processos relacionais, como o estigma, oferecendo subsídios
para uma formação profissional que se aproxime mais das
realidades da população.
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ABSTRACT
Introduction: In Brazil,
during these latest years, transsexuality has been object of public
policies, especially in the health field. Although being subject for
academic social debates and investigations and also being frequently under
the spot in the media, such as television, magazines and the internet, the
matter itself might be considered a few known universe. The existence of
multiple dimensions for this matter, concerning those people living their
transsexuality as much as the people somehow in touch with this reality,
turn it into a complex question. One of those dimensions is what is known
about transsexuality and how it is socially percept, for these factors
might influence people’s relations and behaviors as dealing with the
matter. In the health field, the manner how the health professional
perceives transsexuality might have direct influence on one’s
practices and, therefore, on the course and the quality of attention to
healthcare. Understanding this perception becomes fundamental in order to
build a quality attention to healthcare. Objectives: Analyzing health
professionals from the Health Office of Distrito Federal social
representations on transsexuality through the identification of knowledge
and experience, and of the contents and structures of such representations.
Methods: This is a study based on the Social Representation Theory held
with 128 health professionals, doctors, nurses and nursing technicians or
assistants from 22 health units in the Health Office of Distrito Federal
using a semi and self applied questionnaire. The data processing was made
by the software ALCEST and EVOC. All the ethical recommendation established
was observed. Results: As for the professionals profile it can be noticed
the predominance of the female sex participants, married or living in a
stable relationship, catholic and brown. The age varied between 24 and 67
years old (median 43, average 42), prevailing the age range from 30 to 49
years old (62,4%). As for the professional characteristics the majority of
the participants was from Health Centers for basic attention, professionals
of the nursing field, being most of them nursing technicians or assistants,
and almost 60% of them claim have already taken care of a transsexual
person during their professional career. Concerning the content of the
social representations the professionals perceive transsexuality as a
patient who changes his or her sex and needs to be accepted, and people
that deserve respect, but they also admit that lacks professional ability
to handle this matter. About the structure of the social representations
the terms “sex change” and “prejudice” appear as
belonging to the core of the question, and among others,
“discrimination”, “option” and “courage”
make part of the peripheral system. Discussion and Final considerations:
The health professionals’ social representations on transsexuality
apparently have strong relation to the variables professional category, sex
and religion. They report feeling unprepared to handle this matter,
evidencing the need of a permanent educational policy in the health ambit
that attends this demand. The construction of a health system that
contributes to the reduction of inequality and the improvement in the
quality of life of the population passes by the comprehension of the
construction of relational processes such as the stigma, offering subsidies
to a professional formation that reaches the different realities of the
population.
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