Felipe Martins
Os pacientes soropositivos que buscam tratamento no Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, estão sofrendo com a falta de medicamentos. O remédio Raltegravir, fundamental para manter sob controle o vírus HIV, esteve em falta durante toda a semana. O Jornal POVO do Rio entrou em contato para a farmácia da unidade de saúde e foi informada que não havia disponibilidade no estoque.Portadora do vírus da Aids há 14 anos, Marília Andrade*, 59 anos, precisou ir por três dias ao hospital até conseguir um remédio. Marília já toma o medicamento há três anos. “Eu gastei R$ 30 de passagem durante esses três dias indo e voltando de Mesquita, onde eu moro, até o Pedro Ernesto. Todo dia eu ia lá e a mulher me dizia que não tinha. Eu avisei que se não aparecesse eles iam ver. Ontem (quinta-feira) finalmente me deram um frasco de comprimidos”, comentou.
A mesma sorte não teve Roberto Andrade*, 45 anos. Dependente do mesmo medicamento, acabou ficando durante toda a semana sem o Raltregavir. Soropositivo há nove anos, ele teme ficar doente sem o remédio. “Esse remédio é fundamental para a minha saúde.Não posso ficar sem ele. Acho um descaso com os portadores de HIV. Não sei se a culpa é do governo estadual ou federal, mas eu quero me tratar e isso eu não tô conseguindo”, desabafou.
O infectologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Uerj, Gustavo Magalhães, explicou a importância do medicamento para quem o necessita. “O Raltegravir é um antirretroviral que combate a replicação do vírus do HIV. É um medicamento novo que não deixa acontecer a integração do vírus ao DNA das células de defesa do corpo humano. Só é utilizado quando não existe outra opção de medicamento após o paciente já ter tomado outros remédios”, disse.
Para o remédio chegar a ser indicado, o soropositivo passa pela genotipagem, um exame de sangue que identifica se o HIV já ganhou resistência a outros remédios. O professor da Uerj informou ainda sobre os riscos de um paciente já medicado com o Raltergravir ficar sem tomá-lo. “Se o medicamento falta viral aumenta no sangue e, o mais delicado, o vírus ganha resistência ao Raltegravir. Isso é muito ruim, porque a pessoa fica com uma quantidade muito restrita de medicamentos a serem indicados”, esclareceu.
O diretor do Hospital Universitário Pedro Ernesto, Rodolfo Nunes, admitiu o problema da escassez do remédio Raltegravir. Segundo ele, o problema se estende por toda a cidade do Rio de Janeiro por devido a uma falha no envio da Secretaria Municipal de Saúde. Entretanto, Nunes afirmou que, na tarde de ontem, o remédio foi disponibilizado para três pacientes que o procuraram.
Central do Brasil
Em um evento que marcou a Semana Mundial da Luta Contra a Aids, na Central do Brasil, a ativista Marlene Rodrigues, 56 anos, não só ratificou o problema da falta de medicamentos no Pedro Ernesto como afirmou que o problema se estende a outras unidades de saúde. “Não tem o Lamividina no Hospital da Posse. Não existe remédio para doenças oportunistas nos postos de saúde da Zona Oeste. Não tem remédio antidepressivo. E tem mais. Faltam infectologistas e ginecologistas”, denunciou.
Marlene é portadora do HIV desde 1987 e já enfrentou problemas com falta de mediamentos. Integrante da Rede Nacional de Pessoas que Vivem com HIV (RNP+), ela pede melhor atendimento aos soropositivos em todo o estado.
Roberto Pereira, da coordenação do Fórum Estadual de ONGs/-Aids, lembrou a necessidade de atenção permanente aos riscos de contaminação. “Ainda hoje se guarda a imagem deque a Aids é doença de gay, de prostituta. É uma ilusão esse papo de "eu sei com que eu estou transando. É importante usar preservativo sempre. Não pode fechar os olhos. E se descobrir a doença,tem que comunicar logo ao parceiro”, alertou Roberto Pereira.
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