23.05.2011
|01h42m
Geral
Professores debatem futuro de Monteiro Lobato após polêmica sobre racismo
Alessandra Duarte e Dandara Tinoco, O Globo
"Não reparem ser preta. É preta só por fora, e não de nascença. Foi uma fada que um dia a pretejou, condenando-a a ficar assim até que encontre um certo anel na barriga de um certo peixe. Então o encanto se quebrará e ela virará uma linda princesa loura".
É Tia Nastácia, na apresentação feita por Narizinho em "Reinações de Narizinho". É também um dos motivos que levaram o autor Monteiro Lobato a se tornar pivô de uma polêmica envolvendo Ministério da Educação, professores e pais: a grande obra da literatura infantil brasileira, criadora de todo um universo, é racista?
Para profissionais de educação, esse debate pode até afetar o uso, pelos colégios, da obra de Lobato pelas futuras gerações de alunos.
Independentemente de a obra ter ou não elementos racistas, professores já afirmam que ela deve ser sempre trabalhada mostrando-se aos alunos o contexto histórico — uma sociedade com resquícios escravocratas — no qual ela foi escrita.
A polêmica começou em outubro de 2010, quando parecer aprovado por unanimidade pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) recomendava que "Caçadas de Pedrinho" fosse distribuído às escolas públicas com nota explicativa sobre a presença de estereótipos raciais, que, dizia, estavam em trechos como "Tia Nastácia (...) trepou que nem uma macaca de carvão pelo mastro de São Pedro acima".
O ministro da Educação, Fernando Haddad, rejeitou o parecer.
Semana passada, a discussão voltou, após o MEC informar que distribuirá a professores um livro que os orienta sobre como lidar com temas como preconceito — e, aí, cita Lobato.
"Podemos inferir de suas obras (...) preconceitos e formas de discriminação facilmente atribuíveis a esse momento de nossa História (...). Entretanto, dizer que os livros infantis de Lobato são preconceituosos e recusá-los ou censurar passagens, em nome do combate ao preconceito, é esquecer que são ficções".
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